A COERÊNCIA DE FOUCAULT
Miguel Lucena*
O que admiro em Michel Foucault é a coerência de pregar e fazer o que apregoa. Muita gente repete os mantras do filósofo francês, de defesa dos comportamentos desembestados, sem os necessários freios morais, mas leva uma vida certinha, cuidando de juntar dinheiro para garantir a faculdade dos filhos.
Foucault nasceu em Poitiers, a 15 de outubro de 1926, e morreu em Paris, a 25 de junho de 1984, aos 57 anos, contaminado pela Aids depois de realizar experiências sadomasoquistas na comunidade homossexual de São Francisco, Califórnia. Antes de morrer, ainda contaminou um jovem namorado, que faleceu aos 36 anos.
Foucault defendeu em textos que a prática do sadomasoquismo era uma nova forma libertária de utilizar o corpo, juntamente com o consumo de drogas ilícitas. Disse e fez, consumindo LSD à vontade. Na janela de seu apartamento em Paris, o filósofo cultivava pés de maconha.
Internado pelo pai como louco aos 22 anos, após tentar o suicídio, Foucault passou a defender os loucos e a denunciar o sistema de manicômios. Tinha uma relação tensa com o pai, por isso quis ser como a mãe e escolheu se relacionar com homens.
O filósofo escreveu A História da Loucura, O Nascimento da Clínica, As Palavras e as Coisas, A Arqueologia do Saber, Vigiar e Punir e História da Sexualidade. Envolveu-se em movimentos de defesa dos direitos humanos dos delinquentes presos e de minorias, além de estimular as revoltas estudantis ocorridas na França no final dos anos 1960, juntamente com Jean-Paul Sartre.
Gente bem nascida fica estimulando o comportamento desembestado nas pessoas menos preparadas física, psicológica e financeiramente, apenas como forma de desmantelar a civilização e desestabilizar o poder, no entanto usa perfume francês, come nos melhores restaurantes e bebe dos vinhos mais finos. Quero ver é fazer como Foucault, que se lascou todo mas fez o que pregou.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista, escritor e colunista do Brasília In Foco News