‘A mudança de comportamento é essencial’

Gerente de Risco da Vigilância Sanitária, Fabiana de Mattos Rodrigues, reforça as recomendações sobre cuidados que todas as pessoas devem tomar para se proteger do coronavírus

O perigo existe e está no ar. Pior: é invisível e pode estar em todas as partes. Por isso, todo cuidado é pouco. Talvez um divisor de águas dos últimos cem anos da história da humanidade, o coronavírus, que já infectou milhões de pessoas em todo o mundo e matou milhares delas, mudou rotina, hábitos e comportamento da sociedade nos quatro cantos do planeta. “A gente precisa se conformar: não podemos fazer mais as coisas que fazíamos antigamente”, alerta a gerente de Risco da Vigilância Sanitária do Distrito Federal, Fabiana de Mattos Rodrigues.

A resistência do inimigo assusta. Qualquer superfície para o vírus letal é um porto seguro. Só no plástico, ele pode se hospedar por cinco dias. Na folha de papel que você rascunha, também. E sabe a torneira usada para lavar louças e as mãos? São 48 horas de sobrevivência para esse microrganismo. Daí os cuidados para evitar a contaminação serem prioridade no dia a dia, sobretudo para aquelas pessoas que precisam fazer os trajetos essenciais fora de casa, como ir ao trabalho, ao supermercado, ao banco, à farmácia. A rima ensina: portas e janelas abertas fazem reinar a ventilação; muita água e sabão e álcool em gel nos braços e na mão; luvas é enganação e o uso das máscaras na rua, como vai determinar o governo a partir do próximo dia 30, uma salvação.

“As máscaras têm um papel importante em conter a secreção no momento da tosse e conversas, auxiliando nas áreas externas”, alerta Fabiana, que, em bate-papo com a Agência Brasília, derrubou alguns mitos sobre o assunto e ajudou a esclarecer dúvidas, dando ainda dicas de cuidados no dia a dia. Acompanhe os principais trechos da entrevista.


“A atitude mais importante é o distanciamento social, ou seja, a melhor forma de prevenir o contágio é manter distância”

É fácil pegar coronavírus?

Sim, sabe-se que a via de transmissão pessoa a pessoa do novo coronavírus é por gotículas respiratórias ou contato. Ou seja, qualquer pessoa que tenha contato próximo [no raio de um metro] com alguém que tenha sintomas respiratórios, espirros ou tosse, está em risco de ser exposta a gotículas respiratórias potencialmente infecciosas. Portanto, diante disso, precisamos nos lembrar que a mudança de comportamento é essencial. A gente precisa se conformar que não podemos fazer mais as coisas que fazíamos antigamente. A atitude mais importante é o distanciamento social, ou seja, a melhor forma de prevenir o contágio é manter distância. Além disso, adotamos algumas recomendações que são básicas, tais como a higienização frequente das mãos, seja com álcool a 70% ou com água e sabonete. A higienização com água e sabonete precisa seguir o tempo certo e a técnica correta, atingindo toda a superfície das mãos, lembrando de esfregar as pontas dos dedos, polegares e os espaços entre os dedos. Também é recomendado não ficar tocando no rosto. E, claro, recentemente, o Ministério da Saúde iniciou a recomendação do uso de máscaras. As máscaras têm um papel importante de conter a secreção no momento da tosse e no momento das conversas, auxiliando quando estivermos nas áreas externas.

Então a máscara é eficiente no combate ao coronavírus?

Para a máscara ter um efeito protetor para a população em geral, é necessário que ela seja confeccionada com uma dupla camada de tecido mais grosso, ou seja, com uma trama de fios mais fechada. A indicação da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] é que o tecido seja preferencialmente 100% algodão. Além disso, a máscara deve se ajustar ao rosto, cobrindo nariz e boca, evitando assim abertura em suas laterais. As máscaras de tecido são de uso individual, portanto não devem ser divididas com mais ninguém, inclusive entre pessoas da mesma família. É um material que tende a ficar úmido quando usado por mais de duas horas, por isso é preciso trocá-lo. O ideal é que cada pessoa tenha mais de uma máscara de tecido, porque elas tendem a ficar úmidas em duas horas ou com espirros, por isso a necessidade de trocá-las. Sempre que sair de casa, leve uma máscara reserva e uma sacola plástica para guardar a máscara usada. Depois é só lavar, passar e usar de novo, medidas de boas práticas que ajudam na conservação.

Quais os cuidados para aquelas pessoas que precisam fazer os trajetos essenciais fora de casa como ir ao mercado, banco ou mesmo ao trabalho?

As pessoas que não podem ficar em casa devem estar atentas. O ideal é sair para a rua com máscara, um frasco contendo álcool a 70% e, sempre que tiver acesso a uma pia, higienizar as mãos com água e sabonete. Além disso, evitar tocar no rosto e em superfícies como corrimãos, maçanetas, paredes, balcões e botões de elevadores, por exemplo. É recomendado, depois de tocar nesses lugares, higienizar as mãos com o álcool a 70%.

Existe uma etiqueta de como se comportar na rua para evitar infecção?

Seguir a etiqueta respiratória, que é cobrir a boca com a parte interna do braço quando for tossir ou espirrar. Também é bom manter o distanciamento social. Em filas, por exemplo, a pessoa deve estar, no mínimo, a um metro de distância uma da outra, tanto de quem estiver na frente quanto ao lado ou atrás. Se possível, evitar locais com aglomeração, de preferência, ambientes com janelas abertas, onde haja circulação de ar.

Quais os locais de maior risco para pegar a Covid-19?

Os locais de maior risco são aqueles que proporcionam maior aglomeração, impedindo o distanciamento social de no mínimo um metro entre as pessoas, e também ambientes fechados, sem circulação de ar, como metrô, ônibus e cinema.

“Continua sendo importante só sair de casa se for realmente necessário. Não dá, nesse momento, para ficar passeando por locais fechados sem que haja uma real necessidade”

A expectativa é que, no começo de maio, seja liberada parte do comércio, o que vai aumentar o fluxo de gente na rua.

Sabemos que a economia precisa rodar, mas para isso vamos precisar mudar nosso comportamento no dia a dia, cumprindo todas as recomendações que foram comentadas anteriormente, ou seja, higiene de mãos, uso de máscaras, etiqueta respiratória, distanciamento social, evitar tocar no rosto e superfícies. Continua sendo importante só sair de casa se for realmente necessário. Não dá, nesse momento, para ficar passeando por locais fechados sem que haja uma real necessidade. O ideal é ficar em ambientes onde há circulação de ar, com janelas e portas abertas. Ar-condicionado não é a melhor opção, porém caso não seja possível abrir as janelas, deve-se intensificar a frequência de limpeza dos filtros do aparelho.

A roupa usada deve ser guardada ou lavada na mesma hora?

A população em geral, ao retornar para casa, deve atender as seguintes orientações: deixar o sapato na porta de casa e colocar a roupa imediatamente para lavar, não sendo necessário adotar nenhum processo de lavagem diferente do habitual; as máscaras de tecido devem ficar de molho na água, sabão e água sanitária ou em produto similar por 20 a 30 minutos; depois de secas, passar com ferro quente e guardar.

Gotículas e partículas virais pousam nas roupas?

De acordo com as informações atualmente disponíveis, sugere-se que a via de transmissão pessoa a pessoa do novo coronavírus ocorre por meio de gotículas respiratórias [expelidas durante a fala, tosse ou espirro] e também pelo contato direto com pessoas infectadas ou pelo contato indireto com mãos, objetos ou superfícies contaminadas. Estudos recentes mostram que o vírus pode permanecer por vários dias nas superfícies, inclusive nas roupas. Por isso, é importante colocá-las para lavar assim que chegamos em casa.

Quanto tempo o vírus fica no ar?

Dependendo da superfície, o vírus pode durar dias. Por isso a orientação é fazer a limpeza do ambiente com uma frequência maior do que a de costume. Esta limpeza diminui a carga viral do ambiente. Devemos estar atentos à limpeza dos locais em que as pessoas mais tocam, como as mesas de trabalho, maçanetas de portas, o botão do elevador, o corrimão das escadas.

E para quem usa barba?

A barba pode aumentar a tendência dos homens de tocar no rosto. Cada homem deverá avaliar se o uso da barba aumenta a chance de tocar no rosto. Caso aumente, ele deverá retirar. Se não quiser tirar sua barba, precisará ficar atento para fazer uma limpeza da mesma com maior frequência – lembrando que o uso de máscara em homens que têm barba não proporciona a mesma eficácia, pois a barba impede que a máscara cubra totalmente o rosto.

E os alimentos que ficam expostos nas feiras e supermercados?

Além de todos os cuidados já citados, durante as compras, [a pessoa deve] sempre utilizar seu álcool a 70% assim que tocar nas superfícies ou alimentos. Também evitar tocar no rosto sem higienizar as mãos. Quando chegar em casa com as compras, pulverizar tudo com uma substância à base de água sanitária antes de guardar as compras. É importante estar atento a esses detalhes.

Tapetes borrifados com água sanitária funcionam?

O mais eficaz é entrar descalço e limpar os sapatos assim que possível.

Como fazer com os objetos que usamos no dia a dia?

No seu ambiente de trabalho, o ideal é que você não compartilhe acessórios; a caneta passa a ser só sua. Uma sugestão é colocar álcool a 70% num pulverizador e você mesmo fazer a limpeza diária dos seus objetos: mesa, mouse, teclado, telefone e demais objetos de que faz uso o tempo todo. É uma mudança de hábito mesmo que vamos precisar adotar para conseguir combater e reduzir a transmissão do vírus.

Luvas são eficientes?

Quando eu coloco a luva, tenho a falsa impressão de que estou protegido. Daí não higienizo minhas mãos. O profissional que trabalha, por exemplo, no supermercado, como empacotador, geralmente coloca as luvas e não possui uma rotina de troca das mesmas. Então, durante todo o dia, ele toca em todas as superfícies, produtos e até mesmo no próprio rosto com uma luva que está completamente contaminada. A indicação do uso de luvas é para profissionais de saúde, e os mesmos são orientados a trocar as luvas e higienizar as mãos a cada procedimento realizado. Então, o que é ideal para a população não é utilizar luvas, mas fazer a frequente higienização das mãos com água e sabonete ou álcool a 70%.

“O que é ideal para a população não é utilizar luvas, mas fazer a frequente higienização das mãos com água e sabonete ou álcool a 70%”

Pode-se dizer que o álcool em gel é o material mais eficiente no combate ao coronavírus?

Pode-se dizer que o álcool a 70% é um dos mais potentes produtos para o combate à disseminação do novo coronavírus. Porém, vale ressaltar que, juntamente à utilização do álcool a 70%, todas as outras medidas sobre as quais já conversamos devem ser igualmente adotadas, para evitarmos a disseminação do vírus.

Arte: Agência Brasília

Fonte: Agência Brasília | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

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