Acusação contra irmão de Rollemberg é “gravíssima”, dizem políticos

 

Deputados e candidatos ao GDF cobram mais investigações contra Guto Rollemberg, apontado como ponto focal de organização que agia no Buriti

Parlamentares do DF e adversários de Rodrigo Rollemberg (PSB) na disputa pelo Palácio do Buriti consideraram como “gravíssimas” as acusações que pairam contra um irmão do governador. Investigações da Polícia Civil e do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) colocam Carlos Augusto Sobral Rollemberg, o Guto, no centro de um esquema de tráfico de influência e advocacia administrativa na sede do Governo do Distrito Federal (GDF). As apurações falam em indícios da prática de corrupção.

Novos detalhes do caso, investigado no âmbito da Operação (12:26), foram revelados pelo Metrópoles na sexta-feira (10/8). A investida das autoridades foi deflagrada na terça (7). Mas, até então, não havia sido divulgado que um parente do governador estava entre os envolvidos. A notícia sacudiu o meio político. Candidatos ao GDF, deputados distritais, federais e um senador reagiram com indignação.

O senador Cristovam Buarque (PPS) ressaltou a contradição do lema da campanha de Rollemberg, lançado um dia antes da operação: Brasília de Mãos Limpas. “O governador escolheu um slogan que não permite a ele ter mancha alguma em sua trajetória”, pontuou.

Presidente do PT-DF, a deputada federal Erika Kokay subiu o tom. “As mãos dele estão sujas e vazias de políticas públicas para o povo do Distrito Federal. Rollemberg, do topo de sua arrogância e autoritarismo, tentou esganar o DF. E essa é a verdadeira face dele, envolvida em denúncias. Agora, o povo descobre por que ele sempre atacou a Polícia Civil.”

Reação na Câmara Legislativa
Distritais agendaram, para a próxima segunda-feira (13), às 15h, na reunião do Colégio de Líderes da Câmara Legislativa, um encontro com todos os parlamentares para debater a denúncia de tráfico de influência e outros crimes envolvendo o irmão do governador.

“É um assunto gravíssimo. O mais assustador é que, com a investigação da Polícia Civil, há um viés oficial, que atinge não só o fígado, mas o coração do governo. Se a investigação e a denúncia forem confirmadas, o governo local deve responder a uma ação penal imediata”, disse Raimundo Ribeiro (MDB), terceiro-secretário da Mesa Diretora.

O vice-presidente da Casa, Wellington Luiz (MDB), e Claudio Abrantes (PDT) publicaram vídeos nas redes sociais para comentar o escândalo. Para o emedebista, “as mãos do governo talvez não sejam tão limpas assim, como o governador tem pregado nos últimos quatro anos, jogando pedra no telhado alheio”.

Confira:

Abrantes, por sua vez, reclama da postura do PSB, que, em nota divulgada na manhã de sexta (10/8), voltou a artilharia contra os órgãos de investigação e os meios de comunicação. “É preciso colaborar com a investigação, não ficar criticando a polícia e a imprensa. Não se pode desqualificar quem trabalha para combater a corrupção”, afirmou.

Veja a gravação:

O deputado Wasny de Roure (PT) ressaltou o fato de, além do irmão do governador, haver o envolvimento de pessoas próximas do chefe do Executivo. “Não é a primeira vez que surge essa questão de tráfico de influência envolvendo o governador e sua família. Tivemos o caso recente do Marcello Nóbrega [ex-assessor da Casa Civil]. É uma forma de corrupção difícil de descobrir, e ela acaba demonstrando que há pessoas íntimas do governo envolvidas, o que é grave.”

Robério Negreiros (PSD) também demonstrou indignação com a denúncia que chegou na antessala do governador. “Houve busca e apreensão na Casa Civil, que tem ascendência sobre todas as secretarias do governo. Respeitando a ampla defesa e o contraditório, são indícios fortes de que um irmão do governador, segundo áudios, praticou tráfico de influência e advocacia administrativa, que são crimes”, avaliou.

Rafael Prudente (MDB) tem posicionamento semelhante: “As denúncias devem ser apuradas direitinho e devem ficar a cargo da Polícia Civil e do Ministério Público. É preciso, também, que a Câmara Legislativa acompanhe toda essa investigação.”

Buritizáveis
Nove dos 10 rivais de Rollemberg que disputarão o GDF em outubro também comentaram os fatos apurados na Operação (12:26). O deputado federal Rogério Rosso (PSD) diz que são “gravíssimos” os episódios da investigação envolvendo a família de Rollemberg. Ele ainda lamentou a nota publicada pelo PSB.

“É lamentável que o trabalho responsável e competente da Polícia Civil e da Justiça do DF seja criticado pelo partido do governador, minimizando e politizando questões da mais alta gravidade supostamente ocorridas dentro do Buriti. É lamentável desvirtuar fatos com ataques sorrateiros às instituições e à imprensa” Rogério Rosso, candidato ao Palácio do Buriti

O também deputado federal e postulante ao Executivo Alberto Fraga (DEM) não poupou críticas ao governo. Ele comentou o episódio no plenário da Câmara. “Além de não fazer nada para o povo de Brasília, esse governo está com os podres aparecendo. O pior é quando surge um membro da família no centro disso. É muito grave”, afirmou.

Confira:

Representante do PT na disputa pelo Buriti, o ex-presidente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) Júlio Miragaya alfinetou o discurso de candidatura limpa de Rollemberg. “Usou isso para encobrir a fragilidade nas outras áreas, mas o castigo vem a cavalo. Ele está pagando o preço por esse discurso, no qual tentava encobrir os próprios problemas”, disparou.

A magnitude do suposto esquema criminoso, apurado pela Polícia Civil em parceria com a 1ª Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social (Prodep), do MPDFT, também é destacada pela ex-distrital Eliana Pedrosa (Pros). “São graves as denúncias com pessoas tão próximas ao governador, principalmente quando se trata de um nome que foi crítico ferrenho de outras gestões”, pontuou. Eliana está entre os nomes que vão disputar o GDF.

O ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Distrito Federal (OAB-DF) Ibaneis Rocha (MDB), outro postulante ao Buriti, disse que, embora se trate de fase inicial do inquérito, “não há de se desprezar a gravidade” do caso. “Principalmente por envolver um irmão do governador, que não tem procuração para falar pelo chefe do Executivo.”

Para o general Paulo Chagas (PRP), é “lamentável” o governador permitir “que um um parente tão próximo se valha da condição de irmão para alcançar esse nível de corrupção”. O militar da reserva diz esperar que “o governador tenha bons argumentos para justificar isso perante a sociedade”.

Candidata ao GDF pelo PSol, a professora da Universidade de Brasília (UnB) Fátima Sousa afirma estar atenta para não surgir, durante o processo eleitoral, uma “operação abafa”. Segundo a docente, o governo sob comando de Rollemberg “paga o preço por não ter cumprido a promessa de investir fortemente em transparência”.

O empresário Alexandre Guerra (Novo) defende a ação da Polícia Civil e do MPDFT. “Os fatos são graves e merecem apuração aprofundada. A gente sabe que existem diversos espaços abertos para corrupção no governo e, por isso, acho importante o trabalho da polícia no sentido de investigar”, opinou.

Opinião divergente
Candidato ao Governo do Distrito Federal pelo PCO, o diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília Renan Rosa de Arruda admite serem “graves” os fatos apontados pela Polícia Civil em parceria com o MPDFT. Porém, Renan acredita que possa se tratar de “uma política no sentido de favorecer os setores da direita que estão na disputa pelo GDF”.

A reportagem não conseguiu contato com o professor e candidato pelo PSTU, Antônio Guillen.

“Crápula”
Rival de Rollemberg durante quase toda a gestão, o vice-governador Renato Santana (PSD) não mediu palavras para falar sobre o “zero um”.

“Parece-me que o ‘senhor da moralidade’ mais uma vez tenta se viabilizar atacando os veículos de comunicação e seus servidores, em detrimento da apuração de fatos gravíssimos e indícios de corrupção no coração do governo. Típico de um governador fake”, criticou o vice-governador. “Vergonha é o sentimento que tenho por ser vice desse crápula.”

Apurações
A Operação (12:26) mobilizou 54 policiais e 12 delegados. Foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão em Brasília e São Paulo. As equipes estiveram na sede do Palácio do Buriti para recolher documentos e mídias que pudessem ajudar na investigação.

Os mandados tinham seis alvos principais: o então assessor especial da Casa Civil Marcello Nóbrega; o administrador do Lago Norte, Marcos Woortmann; Leonardo Rocha de Almeida Abreu (irmão de Guilherme, chefe de gabinete da Casa Civil); Luiz Fernando Messina, ex-assessor do deputado distrital Rodrigo Delmasso; e Hermano Gonçalves de Souza Carvalho, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico da gestão de Agnelo Queiroz e também ex-assessor de Delmasso.

Outro que esteve na mira da operação de busca e apreensão foi Marcelo Carvalho de Oliveira, ex-executivo do Grupo Paulo Octávio.

O outro lado
No mesmo dia em que a Operação (12:26) foi deflagrada, o GDF emitiu nota para esclarecer pontos específicos divulgados até então pela Polícia Civil e pelo Ministério Público. No documento, o governo nega as acusações feitas pelos investigadores sobre a existência da prática de advocacia administrativa e tráfico de influência.

 

Fonte: Metrópoles

Foto: Ricardo Botelho/Especial para o Metrópoles

 

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