Agricultoras rurais criam nova estratégia de venda
Com apoio da Secretaria de Meio Ambiente, mulheres do Assentamento Canaã, em Brazlândia, fundam associação agroecológica
Há cerca de dois meses, 22 agricultoras familiares fundaram a Associação Agroecológica Mulheres Rurais do Assentamento Canaã, em Brazlândia (DF) para ampliar a comercialização de seus produtos. Quando estavam com tudo organizado para começar o trabalho, elas foram surpreendidas pela pandemia de Covid-19.
O contratempo acabou por reforçar o projeto. “Criamos uma cesta semanal, com dez itens que colhemos na semana, e comercializamos por apenas 60 reais”, conta a presidente da associação, Maria Ivanildes Souza. “Os produtos podem variar, e sempre mandamos alguma surpresa para os clientes experimentarem. Outro dia mandei cará-moela para uma cliente, que ficou encantada, pois nunca havia provado”.
Na lista de itens, tem alface, couve, repolho, beterraba, batata-doce, cenoura, ora-pro-nóbis, inhame, alecrim, erva-cidreira, manjericão, alho-poró, cebolinha, batata yacon, pimenta dedo-de-moça e mostarda, entre outros produtos de consumo saudável.
As agricultoras montam a cesta e entregam à clientela, todo sábado, num ponto de distribuição na Asa Norte, localizado no antigo Sine, ao lado do Conjunto Nacional. O próximo passo é entregar na residência dos clientes, mediante pagamento de frete.
Qualidade
“Dá parar perceber o carinho e a satisfação delas em montar a cesta”, elogia o servidor público Paulo Henrique Correa, um dos clientes da associação. “O agricultor familiar é importante: ele planta, com amor à terra, e precisa vender. Ao comprar a cesta semanalmente, me sinto parte da produção deles, da família deles; há uma sinergia.”
“O agricultor familiar é importante: ele planta, com amor à terra, e precisa vender. Ao comprar a cesta semanalmente, me sinto parte da produção deles, da família deles; há uma sinergia”Paulo Henrique Correia, servidor público
A engenheira florestal Rejane França também virou cliente. Assim como Paulo Henrique, ela se mostra satisfeita. “Os produtos que recebi estavam maravilhosos – folhas frescas e de duração muito maior”, destaca. “[Foram] as melhores batatas-doces que já comi. É importante dar valor aos pequenos para que eles também alcancem o mercado e tenham uma qualidade de vida melhor”.
Novos hábitos
Ivanildes conta que o grupo se adequou ao momento atual do coronavírus, incorporando novos hábitos: elas entregam com máscaras e luvas, higienizam frequentemente as mãos com álcool em gel e não usam sacolas plásticas. Além disso, o pagamento pode ser feito via cartão ou transferência bancária, para diminuir o contato.
“Estamos tentando fazer o melhor para os clientes, para as agricultoras que integram a associação, para que não percam os produtos que foram plantados com tanto trabalho e carinho, e para o mundo, buscando oferecer o nosso melhor, que é plantar”, resume. “Temos percebido que há uma abertura maior para comprar de pequenos produtores, mas temos desafios, como [fazer com] que os clientes confiem na entrega, e [também o de] nos profissionalizarmos mais.”
Inovação
Ivanildes é uma das mulheres do Canaã que integram, há mais de um ano, o projeto-piloto Sistemas Agroflorestais Mecanizados, implantado nas bacias do Paranoá e do Descoberto sob a coordenação da Secretaria do Meio Ambiente (Sema).
A iniciativa, que incentiva práticas agrícolas inovadoras em bacias hidrográficas estratégicas para contribuir com a segurança hídrica do DF, integra as ações do projeto CITinova – Planejamento Integrado e Tecnologias para Cidades Sustentáveis, coordenado em nível nacional pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (Mctic), com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) e gestão do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Já foram implantados 16 hectares com o modelo. Até o fim deste ano, serão totalizados 20 hectares. No sistema agroflorestal é feito o plantio de espécies agrícolas e florestais diferentes em uma mesma área, o que torna possível a produção sem que a natureza seja prejudicada.
“Este sistema possui benefícios econômicos — pois permite que o agricultor diversifique seus produtos — e benefícios sociais, pois ajuda a fixar os trabalhadores no campo, com demanda por mão de obra durante todo o ano”Sarney Filho, secretário do Meio Ambiente
“Este sistema possui benefícios econômicos — pois permite que o agricultor diversifique seus produtos — e benefícios sociais, pois ajuda a fixar os trabalhadores no campo, com demanda por mão de obra durante todo o ano”, explica o secretário do Meio Ambiente, Sarney Filho.
Como funciona
A maior inovação do projeto-piloto da Sema é a mecanização do SAF Mecanizados, visando ampliar e facilitar os trabalhos de campo e incentivar os agricultores familiares a adotarem práticas sustentáveis de cultivo. O projeto oferece instrumentos adaptados para apoiar a criação de agroflorestas, como a enxada rotativa com subsolador e a ceifadeira-enleiradora.
Os participantes passam por capacitação, aprofundamento de conceitos, técnicas e prática, sempre recebendo assistência técnica. A escolha das propriedades e o apoio para os trabalhos de campo – fornecimento de maquinário, mudas e sementes – é feita por meio de um acordo de cooperação técnica entre a Sema, a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri), a Emater e a Administração do Lago Norte.
“Aprendi muito desde que fui inserida no projeto. Minha visão para a minha área e o que ela podia me oferecer aumentou, e o respeito pela terra, também”Maria Ivanildes Souza, presidente da Associação Associação Agroecológica Mulheres Rurais do Assentamento Canaã
“Aprendi muito desde que fui inserida no projeto”, conta Ivanildes. “Minha visão para a minha área e o que ela podia me oferecer aumentou, e o respeito pela terra, também. Aprendi como trabalhar com [o sistema] agroflorestal.”
* Com informações da Sema
Fonte: Agência Brasília | Foto: Arquivo/EBC