Agronegócio é a cereja do bolo na campanha eleitoral

 

Nesta campanha eleitoral o agronegócio é a cereja do bolo. Nenhum candidato, grande ou nanico, valeu-se até agora, dos estereótipos para atacar os fazendeiros. Pelo contrário, todos elogiam os produtores. “Acho positivo porque é o reconhecimento de um setor que deu certo, que se tecnificou, modernizou-se e hoje é o motor da economia”, diz a deputada federal Tereza Cristina (DEM/MS) presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária”, comentando o fato político eleitoral.

No mesmo sentido, o vice-presidente dessa entidade, deputado federal Alceu Moreira (MDB/RS), acrescenta: “não tem ninguém que fale mal do agronegócio, porque todo mundo tem consciência de que se trata de um setor fundamental para a nossa economia. Mas também não tem visto nenhuma discussão profunda com relação aos gargalos do setor primário”.

Deputado Alceu Moreira: “nós ainda continuamos vulneráveis aos sócios ocultos, aqueles que não plantam nada”. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Responsável pela pacificação política em torno da Frente Parlamentar (não confundir com a antiga belicosa Frente Ruralista), a deputada Tereza Cristina é muito cuidadosa ao comentar esse fato: “a política fica só nas mazelas da política. Não se pode falar nada”, diz referindo-se às restrições impostas pela Justiça Eleitoral a qualquer coisa que pareça propaganda eleitoral.

E completa: “infelizmente com esse monte de regras na política cerceou-se muito as discussões das coisas fundamentais”, continua a deputada do Mato Grosso do Sul, comparando o debate eleitoral à uma fruta do cerrado: “eu até diria, está igual ao pequi, que é cheio de espinho dentro e você tem que roer só por fora”. Ou seja, os proselitismos ficaram superficiais pois nenhum candidato se arrisca a entrar mais fundo nos problemas com medo de ser impugnado.

Ela, contudo, aponta para a evolução do relacionamento político do setor (em que teve papel importante como presidente da Frente) com os demais segmentos, removendo a imagem do patinho feio, compondo-se com  seus antagonistas: “há uma pacificação. Hoje precisamos apoiar a agricultura familiar, porque ela é importante. Por exemplo: acabaram-se a maior parte dos conflitos com os antigos sem-terra, atualmente denominados “assentados”, a nova visão dos indígenas, tudo o que querem essas pessoas é segurança jurídica”, diz.

O vice-presidente Alceu Moreira acrescenta: “mas também não tem tido nenhuma discussão profunda com relação aos gargalos do agronegócio. E o setor primário, ao longo desse tempo, tem ficado cada dia mais com uma margem mais estreita. Nós ainda continuamos vulneráveis aos sócios ocultos, aqueles que não plantam nada, como o sistema financeiro, mas têm parte no resultado da nossa produção, que vão para os bolsos deles”.

O parlamentar gaúcho explica sua tese. “Por exemplo: têm que me dizer como é que nós tiramos da frente a usura bancária. Nós não podemos continuar pagando taxas de juros em que o banco seja “sócio” da nossa lavoura em 10% do que produzimos. Isso não existe. Nós não podemos continuar com custos de 17, 18% de logística, perdendo produto no transporte para tudo que é lado”.

Tereza Cristina é mais enfática: “com o início da campanha eleitoral na televisão, espero que os candidatos ponham o dedo na ferida, que deixem de lado a hipocrisia e ponham o dedo na ferida”, reforça. “O presidente, seja quem for, terá de enfrentar os gargalos. O Brasil está travado e temos de sair desse imobilismo. Não podemos ficar refém das corporações e das instituições que hoje dominam o orçamento brasileiro”, diz, reforçando: “hoje os impostos estão muito altos porque têm de manter as corporações. O Brasil precisa saber a real extensão da máquina”.

Essas reformas, segundo Moreira, dependem do Executivo, pois o sistema legislativo atual não consegue mover as barreiras: “o novo presidente teria que fazer uma reforma de estado. Ele precisa mexer. Não estou falando só de reforma política nem reforma eleitoral. A reforma cosmética. Tempos de ir fundo na estrutura do estado, no exercício do poder e no seu controle. Nós estamos longe de um estado ideal. Essa cirurgia não faremos via Congresso. Nós parlamentos brasileiros, com tamanha heterogenia, não conseguiremos fazer muito. O presidente que vier deve conduzir as três reformas fundamentais já no primeiro semestre do ano que vem: Reforma da Previdência, Reforma Tributária e a Reforma Política”. Ou seja: o deputado quer uma nova constituinte.

A presidente Tereza Cristina conclui com uma visão estratégica dessas reformas para atender às demandas por segurança jurídica que esse setor, internacionalmente integrado, espera de um governo moderno. “É a abertura: precisamos nos abrir para o mundo. Qualquer presidente que vier dessas eleições terá que dar garantias para investidores nacionais e estrangeiros”.

 

Fonte: Blog Edgar Lisboa/Agência Digital News

Foto: Alex Ferreira/Agência Câmara

 

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