Alunos da rede pública estão há sete meses sem carne bovina na merenda

 

O contrato com a antiga fornecedora, a JBS, venceu em julho de 2017. Até hoje, o GDF não contratou outra empresa para distribuir a proteína

A carne bovina desapareceu da merenda escolar dos cerca de 480 mil estudantes da rede pública do Distrito Federal. Há sete meses, o cardápio dos centros de ensino não conta mais com a proteína. O problema ocorreu porque o contrato com o antigo fornecedor venceu em julho de 2017, e a licitação para admissão de outra empresa ainda está em fase de elaboração.

Um dos motivos para o GDF não renovar o contrato é o histórico do antigo fornecedor. Encalacrada em escândalos de corrupção país afora, a JBS era a responsável por servir patinho em cubos e em iscas às instituições de ensino. No entanto, uma auditoria feita pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) revelou que a empresa dos irmãos Batista chegou a entregar lotes vencidos do produto.

O presidente da Associação dos Pais e Alunos do DF (Aspa-DF), Luís Claudio Megiorin, conta ter recebido dezenas de reclamações de responsáveis pelos estudantes, o que motivou a entidade a dar ciência ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT).

“Ninguém está pedindo para que a merenda seja sofisticada, mas as crianças não aguentam mais comer peixe quase todos os dias. Não é possível que o poder público seja tão lento para resolver questões tão elementares”, criticou Megiorin.

Em nota, a Secretaria de Educação informou que a concorrência pública na modalidade registro de preço está em curso, mas que não é possível fixar uma data para regularização do fornecimento do produto.

A pasta garantiu, ainda, que a “ausência momentânea de carne bovina não interfere no aporte proteico da alimentação escolar, pois mantém a oferta de frango (peito, coxa e sobrecoxa) e filé de peixe (merluza e mapará) in natura, ovo de galinha e frango cozido desfiado”.

Reclamações
A auxiliar de enfermagem Daniele da Silva, 32 anos, tem dois filhos matriculados em escolas de Samambaia Norte. Ela conta que o menino e a menina — de 10 e 6 anos, respectivamente — se queixam da pouca variação do cardápio na hora do almoço. “Eles comem de tudo e nunca foram de reclamar, mas, nos últimos dias, disseram que não aguentam mais comer peixe. Daí tento compensar fazendo uma carne bovina no jantar” disse.

Na avaliação do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), a falta de carne bovina na merenda demonstra que a alimentação de crianças e adolescentes não é prioridade para o Palácio do Buriti.

“Não foi a primeira vez que problemas com a merenda ocorrem. No ano passado, tivemos escolas em que os alunos passaram semanas com suco e biscoito. O caso é muito grave e, se nada foi feito até agora para repor esse complemento alimentar, só reforça que não é uma questão prioritária para a Secretaria de Educação”, atacou o diretor da entidade, Dimas Rocha.

Operação Carne Fraca
Pivô da Operação Carne Fraca, a empresa que revelou ter pago propina a 1.829 políticos de todo o país foi alvo do TCDF. Conforme relatório produzido em 2017 pelo Tribunal de Contas, parte da carne fornecida pela JBS à Secretaria de Educação era imprópria. O documento de 139 páginas cita a JBS 19 vezes e afirma que a empresa descumpriu vários prazos para a troca de produtos.

A investigação do órgão teve como base uma avaliação do Programa de Alimentação Escolar do DF ao longo de 2014 e no primeiro semestre de 2015, período em que foram investidos cerca de R$ 100 milhões nas refeições das escolas públicas. O resultado da auditoria foi divulgado em 11 de outubro do ano passado, mas ganhou novos contornos com as graves descobertas envolvendo a JBS, maior produtora de proteína animal do mundo.

O contrato da JBS que entrou na mira dos conselheiros foi firmado entre a empresa e o GDF ainda na gestão Agnelo Queiroz (PT), por R$ 22.859.350, para o fornecimento de carne cujo corte era de patinho em cubos e em iscas.

O contrato continuou sendo executado no governo Rodrigo Rollemberg (PSB). Os conselheiros do TCDF também avaliaram outras empresas fornecedoras de alimentos à Secretaria de Educação. Em julho passado, o acordo expirou e o Executivo local decidiu não renovar com a multinacional.

Desmaio na escola
Em novembro do ano passado, a alimentação de estudantes voltou a ser assunto na capital federal, quando um aluno, de 8 anos, desmaiou de fome enquanto assistia aula em escola do Cruzeiro.

O menino mora no Paranoá Parque, um empreendimento do Minha Casa, Minha Vida. Como não há colégio público no local, as 250 crianças do condomínio percorrem 30 quilômetros, todos os dias, para frequentar a escola. Elas saem muito cedo de casa e passam o horário do almoço dentro do transporte escolar.

Depois do mal-estar, Rollemberg determinou que a escola passasse a oferecer almoço as alunos.

 

Fonte: Metrópoles

Foto: ANDRÉ BROGES/AGÊNCIA BRASÍLIA

 

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