Alunos do DF criam painel em alusão à Declaração dos Direitos Humanos
Obra foi instalada na entrada do metrô no centro de Brasília
O Ministério dos Direitos Humanos, em parceria com o governo do Distrito Federal, inaugurou na quinta-feira (22) um painel de 110 metros quadrados feito por estudantes da rede pública, em alusão aos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Feito de azulejos de cerâmica, a obra foi instalada na entrada do metrô da Galeria dos Estados, no centro da capital federal.
De acordo com a proposta, estudantes dos centros educacionais Gisno e 11 de Ceilândia foram convidados para ilustrar artigos da declaração, definidos por meio de sorteio. Após serem exibidos em exposições nas duas escolas, as turmas escolheram os desenhos que iriam compor o painel, mediante votação.
Segundo Philippe Nothomb, representante da Associação Inscrire, instituição que orientou o projeto e é referência mundial na criação de trabalhos artísticos e pedagógicos na área de direitos humanos, a ideia original surgiu no Rio de Janeiro. Lá, a artista plástica Françoise Schein coordenou, há seis anos, sua primeira obra colaborativa seguindo essa linha, com um grupo de mulheres das comunidades locais. “Ela veio fazer sistematicamente esse trabalho participativo. É isso que estamos defendendo aqui, porque você vê o impacto incrível sobre as pessoas. Esse desenho fica no muro por muitas gerações”, afirma.
O projeto já foi levado para 1.001 escolas e coloca em perspectiva pautas relativas à cidadania e aos direitos fundamentais. Perguntado sobre a possibilidade de os alunos representarem violações aos direitos, o jornalista belga destacou o valor educativo do projeto. “É um revelador enorme esse desenho. Muitas vezes – e pode-se confirmar nas escolas aqui -, a criança cujo professor a conhece, mas não muito a fundo, e na interpretação do direito que ele tem na mão, vai revelar coisas da vida dele. E o que sai é, às vezes, super violento. Aí, temos que entrar e dizer: ‘Olha, não é assim. [A realidade com a qual você convive] É assim? Sim. Mas você tem que defender o contrário.’ É tudo um diálogo, não é uma coisa estática. É um engajamento da nossa parte para reorganizar um pouco o pensamento.”
Bruno Guerra dos Reis, da 8ª série do Centro Educacional 11 de Ceilândia, participou do projeto e ilustrou o Artigo 7 da declaração, que diz que todos são iguais perante a lei. “Eu desenhei um cara batendo numa mulher, que tem o olho roxo e machucados nos braços”, disse à Agência Brasil, contando que seu desenho simbolizou a experiência de uma tia, que era agredida pelo marido e, mesmo envergonhada, pediu ajuda ao pastor da igreja e a polícia para colocar fim à violência.
Rodrigo Coelho de Bragança, professor há 18 anos e responsável por desenvolver a atividade no CED 11, avalia que uma mudança na mentalidade das turmas já pode ser notada. “Na Ceilândia, a gente tem um público que está frente a muita vulnerabilidade social. Com a discussão dos direitos, eles se viram no direito, se viram através do direito. Eles percebem que existem os direitos, mas não percebem como cobrá-los. Começaram a cobrar mais dos próprios colegas. Porque o objetivo não é que eles só conheçam, mas percebam o direito no dia a dia e que, quando se respeita o outro, se está colocando em prática os direitos humanos”, diz.
Presente na inauguração, o secretário nacional de Cidadania, Herbert Barros, destaca que a luta pela proteção dos direitos humanos é contínua. “Esse é um tempo muito relevante para gente fazer uma reflexão sobre isso, sobre quais são os direitos humanos, qual o valor dos direitos humanos. E no marco dos 70 anos da declaração há uma necessidade de olharmos para trás e entendermos a razão de ela ter sido escrita, que é a razão que nos inspira a continuar lutando pelo direito de todos e todas, independente da condição social, da condição de renda, de classe, sexo, orientação sexual, religião. Direitos humanos são para todos e são de todos.”
A iniciativa também conta com o apoio da Organização das Nações Unidas e da Aliança Francesa.
Fonte: Agência Brasil – EBC
Foto: José Cruz/Agência Brasil