Apagaram-se as luzes, perdi o show
Por Celina Moraes (*)
Meu pai só gostava de músicas sertanejas, mas quando o cantor Roberto Leal aparecia na TV, ele me chamava para assisti-lo e ficava ouvindo junto. Ele sabia que aquele loirinho era o ídolo da filha de 15 anos. Numa época sem Internet e YouTube, eu dependia da TV para ver meu cantor predileto e das rádios para ouvir suas músicas. Seus discos me inspiraram a criar diários e a sonhar com o amor. Um dia lhe escrevi uma carta. A resposta veio rápida e com uma foto autografada.
Aos 17 anos, mudei-me para São Paulo. Estaria mais perto do ídolo, mas continuei o vendo só pela TV e ouvindo suas músicas pelas rádios, porque assistir a um show para mim era um luxo na época. O tempo passou e substituí o ídolo da adolescência por outros da minha juventude. As décadas passaram e ao passar de meio século de vida, eu tive uma crise de flashback. Mergulhei nas profundezas do tempo e na descida encontrei algumas frustrações e tristezas que deixei no fundo do mar do passado onde já estavam naufragadas. Para a superfície, resgatei alguns tesouros, como a paixão pelo ídolo dos 15 anos.
O ano era 2017 e, na ânsia de dar vida a desejos antigos, decidi assistir a um show do cantor. 365 dias voaram. Adiei o desejo para 2018. Mais um ano voou e veio 2019. Prometi que daquele ano não passaria. Eu estava certa. Jamais passaria de 2019. Um dia, olhando mensagens no celular, uma notícia me paralisou. A vida tinha me dado uma rasteira por ter me esquecido do hoje e confiado no amanhã. Os olhos do cantor loirinho Roberto Leal que tantas alegrias me deu na adolescência se fecharam em 15 de setembro de 2019. Não o vi e jamais o verei num palco. Restou a imortalidade do ídolo.
Eu não sabia da luta do cantor contra o câncer. Mas sabia que a morte é a realidade da vida. No vídeo de seu último show, Roberto Leal disse que jamais se imaginou cantando sentado e eu que sempre me imaginei aplaudindo-o de pé. Um ano após sua morte, o consolo é a foto autografada emoldurada e os vídeos no YouTube.
Os sonhos são os combustíveis da vida. Existem aqueles sonhos mais singelos e acessíveis de curto prazo e os grandes de longo prazo. Não importa o tamanho e o tempo de um sonho, o importante é não se iludir com mais 365 dias de um ano vindouro para dirigir alguns quilômetros rumo a uma casa de show ou para dar pequenos passos diários rumo aos grandes sonhos de longo prazo. A luz da vida do cantor se apagou. As músicas brilharão para sempre. Vira-vira! Arrebita! Aplausos ao show da vida!
Fonte: Drumond Assessoria de Comunicação | Rio de Janeiro/RJ
Por Joyce Nogueira | Assessora de Imprensa
Foto: Divulgação