Apenas 4 mil pessoas foram à Esplanada durante julgamento de HC
Polícia Militar do DF mobilizou efetivo para fazer a segurança de 20 mil pessoas, quantidade que não se confirmou durante o dia
Os arredores do Supremo Tribunal Federal (STF) ganharam, nesta quarta-feira (4/4), ares de estádio de futebol, com direito a inflamadas torcidas organizadas. De um lado, um grupo majoritariamente vestido de verde e amarelo defendeu que a Suprema Corte rejeitasse o habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornando viável sua prisão. Do outro, concentraram-se pessoas com camisetas vermelhas simpatizantes ao ex-chefe do Executivo nacional.
Segundo estimativas da Polícia Militar do DF, cerca de 4 mil pessoas se reuniram na Esplanada dos Ministérios, às 17h50, auge do movimento. No entanto, antes das 22h e com resultado na Corte já indicando uma derrota do ex-presidente – 5 a 3 –, os apoiadores dele começaram a esvaziar o gramado em frente ao Congresso Nacional. Nem a metade dos ministros tinha proferido o voto e a região contava com apenas 50 pessoas.
Com um sentimento de inconformidade, os apoiadores de Lula marcharam de volta ao Teatro Nacional, onde os ônibus das comitivas que vieram a Brasília ficaram estacionados. Visivelmente entristecidos, muitos andavam cabisbaixos e em silêncio. Alguns, ainda esperançosos, entoavam gritos de apoio ao ex-presidente e incentivavam os colegas a fazerem o mesmo.
Entre os opositores, muita euforia. Com apitos, vuvuzelas e pixulecos, o grupo zombava dos rivais que marchavam em clima de marcha fúnebre. Empolgados, chegaram a desrespeitar o esquema montado pela Secretaria da Segurança Pública e Paz Social, inflando três bonecos gigantes em frente à Biblioteca Nacional. Dois deles mostravam o juiz federal Sérgio Moro vestido como super-herói. O outro fazia referência a Lula e José Dirceu como protegidos de Gilmar Mendes.
4 mil PMs
Um pouco antes do início do julgamento, o clima já era tenso. A PMDF teve de reforçar o policiamento na grade que separa os dois grupos. Dois homens chegaram a invadir o lado dos defensores de Lula e tiveram de ser contidos por soldados. Em razão da elevação dos ânimos, com xingamentos de ambas as partes, a tropa de choque foi acionada e posicionada a fim de evitar conflitos.
Mesmo com efetivo de mais de 4 mil homens, a PMDF não inibiu que pessoas levassem armas brancas ao ato. Os PMs apreenderam canivetes, bandeiras e mastros. A caçamba de uma viatura ficou lotada com o material. De acordo com a corporação, os objetos levam risco às pessoas, uma vez que podem ser usados como armas em caso de conflito. Veja o vídeo:
Gramado dividido
Devido aos protestos de grupos favoráveis e contrários ao ex-presidente, o gramado central foi dividido por duas fileiras de cercas. A interdição foi desde a Catedral até o limite com a Alameda dos Estados, em frente ao Congresso Nacional.
Entre os políticos que se concentraram nas cercanias do Supremo para acompanhar o julgamento do habeas corpus de Luiz Inácio Lula da Silva, um deles causou furor. Ao subir no trio elétrico do movimento ruralista, que defende a prisão do petista, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) foi recebido aos gritos de “mito” e “presidente”.
Ao discursar no carro de som, o parlamentar carioca disse que o Brasil precisa de “alguém que garanta junto ao parlamento brasileiro o legítimo direito à defesa”. Ele estava acompanhado do general Augusto Heleno Ribeiro, primeiro comandante do Exército na missão de paz no Haiti, entre 2004 e 2005.
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Representantes da esquerda também compareceram em peso. A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, ressaltou que o STF não decidia o futuro do ex-presidente Lula, mas, sim, o do respeito à democracia.
“Não estamos aqui para criticar o STF, mas para garantir o papel constitucional dele”, afirmou. A tropa de choque de parlamentares alinhada ao ex-presidente também contou com a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM): “A esses que estão saudosos da ditadura militar: não temos medo dos seus ovos”, bradou.
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Opiniões divergentes
Entre brasilienses e forasteiros, os cidadãos opinaram sobre o dia D do ex-presidente, condenado a 12 anos e 1 mês de prisão no caso do triplex do Guarujá.
A professora aposentada Maria Luiz Nogueira Maio, de 70 anos, chegou do Rio Grande do Sul para apoiar o líder petista. “Vim de Porto Alegre até Brasília para apoiar o Lula, assim como fiz com Dilma [Rousseff] na época do impeachment. Estou aqui hoje por acreditar no projeto de um Brasil mais forte e justo”, afirmou.
O auxiliar de serviços gerais Lourival França de Freitas, 46, também apoiava o ex-presidente. “Sou a favor do Lula porque luta pelos pobres. Isso que fazem com ele é perseguição e uma grande injustiça. Mas o Lula é forte e vai resistir”, disse.
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Do outro lado da moeda, o estudante Lorran Batista Gonzaga, 22, exigia punição do líder político. “Sou contra o Lula por causa da ideologia comunista que ele e o partido do qual faz parte tentam implantar no Brasil. É justo que todos que praticam corrupção sejam punidos, e espero que isso ocorra hoje”, afirmou o jovem.
A vendedora Sílvia Gonçalves, 56, é outra que veio de fora para se manifestar em Brasília. No caso dela, a favor de punição para o ex-presidente. “Moro em São Paulo e estou aqui porque quero justiça. Todo bandido deve ser punido. Lula roubou o país e, por isso, deve ser preso. Todos devem ser punidos, independentemente de partido. Sou [Jair] Bolsonaro [PSL-RJ], pois defendo a família. Ele não é um herói, mas é a única chance que temos neste momento”, avaliou.
Pró e contra intervenção militar
O julgamento do HC de Lula no STF também reeditou o polêmico debate sobre uma possível intervenção militar no Brasil. Principalmente entre aqueles que querem ver o petista atrás das grades, a maioria se mostrava favorável à volta dos militares ao comando do país.
O sargento Jorge Luis Damasceno Vidal, da Polícia Militar do DF, mostrou-se disposto a pegar em armas e devolver o governo aos militares. “Senhor general Villas Bôas, estamos à sua disposição para ir para cima dos comunistas. Estamos prontos para varrer a impunidade”, disse o PM, em referência ao posicionamento do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, o qual, nessa terça-feira (3/4), afirmou que a força “assegura à nação que o Exército julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento as suas missões institucionais”.
Já a cuidadora de idosos Jaciara Amorim, 49 anos, apesar de entender que Lula deve ir para a cadeia, é radicalmente contra o retorno de uma administração dirigida por oficiais das Forças Armadas. “Sou contra a intervenção militar, tenho medo que os militares não saiam mais do poder”.
Luiz Carlos Gonçalves da Cunha, 56 anos, acredita que a intervenção no Rio de Janeiro é um “repeteco” de 1964. Ele considera que o governo federal deveria ajudar o Rio a melhorar as estruturas das polícias e combater a corrupção policial em vez de mandar o Exército ir bater em “pretos e pobres”. “A última vez que algo parecido aconteceu deu no que deu, a ponto de pedirem garantia para não ter uma nova Comissão da Verdade”, opina Luiz.
Fonte: Metrópoles
Foto: Igo Estrela/Metrópoles