Após desistência de Barbosa, Rollemberg defende apoio do PSB a Ciro Gomes
Para o governador do Distrito Federal, sem a candidatura de Joaquim Barbosa, deve haver um retorno à tentativa de aglutinar partidos de centro-esquerda
Os caciques do PSB nos estados lamentaram a desistência do ministro aposentado Joaquim Barbosa, mas já iniciaram as negociações políticas para a união de centro-esquerda tendo como candidato Ciro Gomes (PDT). Em entrevista ao Correio, o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, disse que o ministro aposentado do STF, pelos valores que representa, tem uma contribuição importante no processo eleitoral.
“Mas havia uma insegurança por parte do partido se ele seria ou não candidato. Agora, prevalece o cenário anterior à filiação de Barbosa, que é a tentativa de aglutinar partidos como Rede, Solidariedade, Podemos, PDT, PV, PHS, e, até mesmo, PCdoB.” Rollemberg completa dizendo que quem sai mais fortalecido após a movimentação de Barbosa é Ciro Gomes. “Barbosa poderá ter uma participação importante dentro do partido, na formulação de propostas e ideias, mas acredito que ele não vai ser candidato a outro cargo”.
Para onde vão os votos?
O apoio a Ciro é um caminho que tende a se fortalecer, embora não haja garantias de que o pedetista será o herdeiro natural dos votos de Barbosa. No Nordeste, ainda há quem acredite na possibilidade de um acordo com o PT, no caso de Luiz Inácio Lula da Silva lançar Fernando Haddad. Para o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, o ministro aposentado representa vários símbolos, o que permitiu criar identificação com diferentes tipos de eleitores. Nesse caso, há, sim, a possibilidade de outros candidatos, como Marina Silva (Rede), serem beneficiados também.
A trajetória de Barbosa, que subiu na vida após uma infância difícil, permitiu ao ministro aposentado criar uma identificação com uma parte do eleitorado, pondera Melo. Outra identificação é a de ter sido o primeiro ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a determinar a prisão de líderes políticos envolvidos em escândalos de corrupção, no julgamento do mensalão. “Ele reúne uma série de características que nenhum outro pré-candidato dispõe”, analisou o especialista.
Um cacique do PSB nordestino afirmou em conversa reservada que a saída de Joaquim ocorreu antes de novas pesquisas o elevarem a um patamar em que a desistência fosse impossível. O divisor de águas para o fortalecimento da pré-candidatura de Ciro depende de o PSB apoiar abertamente o PDT, pondera Melo. “A desistência de Barbosa é um alívio para os demais pré-candidatos, mas não chega a impulsioná-los. Para que isso ocorra, será necessário bater o martelo na proximidade entre os dois partidos”, enfatizou.
Resolver impasses nos estados será fundamental para reduzir as inseguranças e engatar o namoro com o PDT. Boa parte das decisões do partido prevalecem de interesses regionais, sobretudo de Pernambuco, estado do governador Paulo Câmara. Outro polo de destaque é o de São Paulo, estado comandado pelo pessebista Márcio França. Na primeira reunião para debater a pré-candidatura de Barbosa, ele declarou abertamente que o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, é um nome mais “maduro” para disputar as eleições.
Eventuais divergências no partido fazem com que a desistência de Barbosa não seja uma decisão surpreendente, avalia um ex-líder pessebista. “É um partido difícil de trabalhar junto. Não seria fácil unir o partido em torno de uma candidatura de Joaquim, a menos se fosse algo muito inconteste, com um favoritismo absolutamente visível e concreto para o lado do ministro”, ponderou.
Fonte: Correio Braziliense
Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press