Após laudo da PCDF, Rollemberg culpa antecessores por queda de viaduto

 

Resultado da perícia, divulgado em primeira mão pelo Metrópoles, aponta omissão do poder público no caso

O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) jogou a culpa do desabamento do viaduto sobre a Galeria dos Estados, no Eixão Sul, no colo de seus antecessores. Em agenda pública na tarde desta quarta-feira (25/4), o chefe do Executivo disse que “se os governos anteriores tivessem feito a manutenção, isso não teria acontecido”. A declaração foi dada após o socialista ser questionado sobre o resultado do laudo do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) a respeito do incidente, divulgado em primeira mão pelo Metrópoles nesta quarta, no qual os peritos apontam omissão do poder público.

Segundo o documento, o desabamento poderia ter sido evitado com visitas técnicas e correções na estrutura. Os especialistas da Seção de Engenharia Legal e Meio Ambiente (Selma) estiveram nas ruínas e produziram um laudo com 22 páginas, no qual exibem as causas do incidente ocorrido no dia 6 de fevereiro de 2018. Por sorte, ninguém se feriu.

“Havia sinais externos de deterioração na estrutura típicos e passíveis de identificação técnica por profissionais devidamente habilitados, sendo possível apontar e corrigir as patologias nas estruturas, não havendo que se falar em vício oculto” Trecho do laudo pericial da PCDF

Os peritos mostram que, durante as análises feitas, não foram encontrados “vestígios materiais que indicassem serviços de manutenção recentes para corrigir as principais patologias apresentadas”.

Os profissionais do IC identificaram que toda a sustentação da estrutura superior dos pilares era garantida apenas por uma viga metálica e concreto. “Houve deterioração progressiva e prolongada desses elementos ao longo do tempo. Ela se revelou na instalação de diversas patologias, com destaque para o surgimento de trincas e penetração de água no interior da estrutura”, atesta o documento.

 

Infiltração determinante
Os peritos mapearam o caminho das infiltrações que comprometeram os pilares de sustentação do viaduto. De acordo com o texto dos especialistas, a água provocou a corrosão das chamadas “armaduras”, armações de ferro que compõem a estrutura de tais colunas. “Como a armadura permaneceu exposta a infiltrações, houve comprometimento da capacidade de sustentação do pilar”, destaca o laudo.

Segundo o documento, o colapso do elevado teve início no sétimo pilar – chamado de P7 –, que se estendeu para o sexto (P6), também provocando sua ruptura. “Com isso, todo o trecho do viaduto veio abaixo, causando o desabamento do tabuleiro que era suportado”, determina o relatório.

A perícia deixa claro no laudo: foram encontrados vestígios de penetração de água por toda o concreto que sustentava o elevado, tanto em peças encontradas entre os escombros quanto em outras partes da estrutura que não desabaram.

“No local, observou-se a presença de acúmulo de água no interior de bainhas do sistema de proteção. As marcas e os sinas de deterioração identificados na estrutura indicam infiltração prolongada de peso próprio da peça”, assinala o documento.

O laudo também conclui que o risco de desabamento do restante do viaduto “deve ser rigorosamente considerado, bem como a condição de estabilidade de outros trechos”.

Delegados questionam
A transferência do inquérito que investiga a queda do viaduto sobre a Galeria dos Estados, no Eixão Sul, causou desconforto entre os membros da corporação. O caso estava na 5ª Delegacia de Polícia (área central) e foi remanejado para a Corregedoria da Polícia Civil, após a conclusão do laudo pericial.

O Sindicato dos Delegados de Polícia Civil (Sindepo) divulgou nota questionando a PCDF sobre a transferência. “A princípio, não faz sentido e, por isso, os colegas se sentem desprestigiados. A informação é que foi uma ordem sem nenhuma fundamentação, e isso é ilegal. Não vislumbramos, por enquanto, nenhum motivo para justificar a medida”, disse o presidente da entidade, Rafael Sampaio.

Para ele, existe materialidade do crime de desabamento, e a autoria “daquele que tinha a obrigação legal de fazer a manutenção da construção” precisa ser identificada. “Sendo assim, não parece razoável crer que a 5ª DP não tenha condições técnicas para continuar a investigação”, diz trecho da nota do Sindepo.

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