ARTIGO: José Dirceu, o retorno
Por Percival Puggina (*)
Voltou. Voltou de Cuba em 1971, mas retornou à ilha para cirurgias plásticas que alteraram sua fisionomia; retornou ao Brasil em 1975, quando se instalou como comerciante no interior do Paraná; anistiado, retornou à política em 1979 até ser preso em 2013. Acumulou sentenças condenatórias, prisões e solturas até o ministro Gilmar Mendes anular suas condenações na Lava Jato em 2024. Agora, aos 78 anos, o homem que, preservando Lula, segurou sozinho a bronca do escândalo chamado Mensalão, abanou as cinzas e pode disputar a eleição que quiser. Meu Deus, eu já vi esse filme!
Na lista de personalidades que compareceram à sua festa de sagração há gente suficiente para destruir o Brasil três vezes. Mais habilidoso do que qualquer dos atuais porta-vozes do petismo e do governo, José Dirceu marcou lugar entre os cada vez mais escassos defensores incondicionais de Lula. Em certo momento do discurso que fez, atacou a aliança entre Bolsonaro e o governo Trump, mas afirmou, logo em seguida, que não existe mais eleição nacional, pois todas acabam sendo globalizadas. Temos aí a velha estratégia: globalização pela direita é feia, coisa de Trump, Elon Musk e Bolsonaro; pela esquerda, é linda, fofa, coisa de gente da melhor qualidade, como a turminha de Lula mundo afora, Joe Biden incluido. A questão, contudo, vai bem além do duplipensar esquerdista.
Pense na eleição de 2018. O PT morava no fundo do poço do descrédito. Em um dos melhores momentos da economia mundial, seus governos haviam quebrado o motor de um país que rodava bem. Em vista disso e de muito mais, perdeu a eleição. Aos empurrões na História, voltou ao poder em 2022 para mostrar que o fundo do poço ficava um pouco mais abaixo. Decorridos dois anos, o governo é um navio fantasma. Com uma tripulação que perdeu a confiança, passageiros e roedores abandonaram o barco. Pelas próprias forças, fica à deriva e não vai a lugar algum.
Se o petismo olha o exterior pedindo forças para uma campanha globalizada, a oposição olha o exterior pedindo socorro porque hoje, para ela, no jacobinismo instalado no país, não há Justiça nem Direito no Brasil, só maus tratos, interdição e punição.
Não, senhores, a eleição de 2026 não será globalizada. A esquerda no poder não importará a ruinosa parceria que em 2022 sequer podia ser mencionada! Há de ser uma disputa política entre brasileiros, cada um com seu passado. Os abusos e interdições de 2022 não se reproduzirão. Para que a Liberdade e o bom Direito renasçam das cinzas, o Terror jacobino não prevalecerá. A tanto nos ajude o Senhor da História!
(*) Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Fonte: Site puggina.org, gentilmente disponibilizou este artigo para o DF In Foco News
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