Audaciosos e disfarçados, ladrões fazem roubos cinematográficos no DF
Para enganar as vítimas, bandidos usam réplicas perfeitas de uniformes militares, que são vendidos em lojas especializadas
Policiais civis, militares, agentes de saúde, garis e até mesmo vaqueiro. Esses são alguns dos disfarces usados por criminosos para assaltar residências e comércios na capital federal. Neste ano, a audácia dos bandidos resultou em crimes cinematográficos. As vítimas, em sua maioria, foram ameaçadas com armas de fogo e viram joias, carros e altos valores em dinheiro sendo levados.
O Metrópoles visitou lojas especializadas em artigos militares em Taguatinga, Guará e no Cruzeiro. Os atendentes dos estabelecimentos perguntaram se a equipe tinha documentação militar, mas não pediram para conferir o documento. Foi possível provar, e até mesmo ajustar, as fardas militares. No entanto, a reportagem não finalizou a compra. O valores dos conjuntos variavam de R$ 350 a R$ 200.
Ousadia
Em maio, dois assaltantes se identificaram na portaria de um prédio da 311 Norte como agentes da Polícia Civil e apresentaram um falso mandado de busca e apreensão. Eles conseguiram entrar em um dos apartamentos do edifício e levaram ao menos R$ 500 mil em joias, além de dinheiro dos moradores.
O funcionário do bloco autorizou a entrada dos suspeitos e, na porta do apartamento, acabou rendido pelos dois assaltantes. Em seguida, a dupla trancou o porteiro dentro do banheiro e fizeram “uma limpa” no imóvel. “Eles foram direito no armário da minha mãe, no meu quarto e nos objetos de maior valor de mercado”, ressaltou o filho da vítima, que pediu para não ser identificado. As joias levadas não estavam guardadas em cofre, segundo ele.
Segundo o homem, os dois criminosos levaram pelo menos 20 relógios de luxo dele, alguns da marca Rolex, avaliados em R$ 150 mil. O porteiro também conversou com a reportagem e detalhou o crime. “Um dos bandidos levantou a camisa e mostrou a arma, disse para eu ficar com a cabeça abaixada. Em seguida, me colocaram no banheiro”, afirmou. Após um mês, a dupla foi presa juntamente com a mandante do crime, a cabeleireira da vítima, uma pensionista do Exército de 79 anos.
Confira a abordagem dos bandidos, vestidos de policiais civis, flagrada pela câmera de segurança do prédio:
De acordo com o delegado Ronney Matsui, da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), os assaltantes que atuam dessa forma já possuem antecedentes criminais, costumam estudar o local antes da investida e contam com informações privilegiadas.
“São crimes que chamam atenção, mas prejudicados pelo próprio excesso. Essa ousadia deixa pistas e, como nenhum crime é perfeito, conseguimos chegar até os suspeitos” Ronney Matsui, delegado da Corpatri
No mesmo mês, outro caso ganhou repercussão. Dois bandidos se passaram por agentes de combate à dengue e invadiram uma casa no Lago Sul. O dono da residência, um major brigadeiro da Aeronáutica de 93 anos, atendeu os falsos funcionários da Secretaria de Saúde: ele acabou rendido e agredido a coronhadas.
Os bandidos levaram uma coleção de seis relógios de bolso antigos, cada um avaliado em cerca de R$ 25 mil. Carregaram ainda televisores e fugiram no carro do idoso, uma Subaru XV. Um dos criminosos foi preso um dia depois do crime.
Veja imagens do material recolhido com o falso agente da Secretaria de Saúde:
O homem preso – Daniel Higino Alves Pinto, de 33 anos – contou ter feito a arte dos falsos uniformes no computador de casa. Depois, ele procurou uma gráfica no Entorno do DF para estampar a marca nos coletes. A polícia encontrou coletes, crachás e até pranchetas com questionários. Tudo para enganar os moradores e invadir residências. A Polícia Civil, por meio da Corpatri, segue com as investigações para capturar os comparsas de Higino.
Na última segunda-feira (9/7), outro trio fantasiado fugiu com R$ 15 mil de uma lotérica da Rodoviária do Plano Piloto. Os bandidos usavam máscaras cirúrgicas e vestiam roupas de policial militar, gari e vaqueiro quando abordaram dois funcionários.
Após pegar o malote de dinheiro, eles fugiram por uma escada rolante do Conjunto Nacional que dá acesso ao estacionamento, onde um carro já os esperava. O veículo foi apreendido dois dias depois, no Setor de Autarquias Norte. Ele era clonado. Os assaltantes ainda não foram presos. Câmeras de segurança do shopping filmaram a fuga. Confira:
Orientações ao brasiliense
Segundo o delegado Ronney Matsuy, da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), é preciso ficar atento ao permitir que um desconhecido entre nas residências (veja vídeo abaixo). O policial alerta os moradores a pedirem o documento de identificação funcional do visitante e, se ficar em dúvida, ligar no órgão e se certificar da veracidade da informação de que aquela pessoa é, de fato, um agente público.
Por meio de nota, a Polícia Militar informou que todas as lojas autorizadas a confeccionar as fardas da corporação são credenciadas e fiscalizadas. A PMDF reforça que alfaiates e costureiros devem solicitar a identidade funcional a quem encomenda o fardamento. Questionada sobre a venda dos uniformes, a Polícia Civil não respondeu.
Fonte: Metrópoles
Foto: Michael Melo/Metrópoles