Boca Aberta & Boquirroto, o ladino e o maroto

Aconteceu de repente: corria uma sessão solene do Congresso-, quando o deputado federal Emerson Petriv, vulgo Boca Aberta, posicionou-se atrás do presidente Jair Bolsonaro, que discursava na tribuna da Câmara.

Foi na segunda-feira, 15, durante homenagem ao Comando Especial de Operações do Exército. O plenário estava lotado de militares.

E o que Boca Aberta – também conhecido por Nariz Quebrado por causa de um merecido soco que levou do vereador londrinense Amauri Cardoso – foi fazer no cangote do presidente?

Usar a imagem para fins eleitorais, nada mais, nada menos!

O único momento em que se manifestou foi para puxar uma salva de palmas quando o presidente defendeu o indefensável, que é a indicação de seu filho Eduardo para chefiar a embaixada de Washington.

Sem querer, Boca Aberta promoveu um momento histórico: o encontro de dois histriônicos, que resumem a “Nova Política”: agressividade verbal, desorientação espacial, incivilidade, limitação cognitiva em relação aos interesses do Estado, nepotismo explícito (o deputado elegeu seu filho deputado estadual, associando seu nome ao do garoto – até então um ilustre desconhecido). A “nova política” é, portanto, o desatino institucionalizado.

Bolsonaro, o Boquirroto, elegeu-se apoiado em fakes news e graças a uma facada que quase lhe tirou a vida, explorando como nunca antes na história deste país os preconceitos mais retrógrados. Bolsonaro personifica os instintos primitivos do brasileiro e despertou o senhor de senzala que existe em cada um de nós. O general Santos Cruz, ex-secretário de Governo, definiu à perfeição o governo Bolsonaro: “um festival de besteiras”.

Boca Aberta elegeu-se esgoelando, ameaçando, xingando, cuspindo, arrotando (sim, é assim que ele se expressa), amparado por uma liminar (derrubada na véspera da eleição) que suspendeu a sessão que resultou na cassação de seu mandato. O cara foi cassado menos de um ano depois de tomar posse do primeiro mandato!

Seu eleitor, indignado com a corrupção na política, pôs no Congresso o parlamentar a que mais processos responde e acumula várias condenações – três das quais, por calúnia, resultaram em penas de prisão.

Assim como o filho, Boca Aberta tem tudo para ser cassado logo, logo. O TSE prepara-se para levar a plenário o pedido para anular a diplomação de Boca Aberta pai, e o TRE o do filho, cuja prestação de contas da campanha é uma aberração: não informa os gastos com publicidade financiados pela campanha do pai – gastos vultosos. O Ministério Público Eleitoral deu parecer favorável para a cassação de ambos.

Bolsonaro acaba de completar duzentos dias no Planalto, aonde chegou prometendo, entre outras coisas, reerguer o país do caos provocado pelo petismo – e o afundou ainda mais; adotar o regime de “meritocracia” – e fez o que nenhum outro presidente jamais sonhou: indicar o filho para a principal delegação diplomática. Etc.

A queda abrupta da popularidade de Bolsonaro, em sequência consecutiva como a do PIB, mostra que a população está abrindo os olhos para o engodo. Ao que tudo indica, no entanto, teremos que aturar Boquirroto mais tempo que a Boca Aberta.

Fonte: Blog José Pedriali – Foto: Reprodução

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