Brasileira busca Top 3 em ultramaratona mais difícil do mundo
Única latino-americana a conquistar quatro pódios na Ultra Trail du Mont Blanc (UTMB), Fernanda Maciel atravessará três países em busca de novo título
“Eu não posso olhar para cima. É assustador”. É assim que a ultramaratonista Fernanda Maciel define as montanhas que irá encarar a partir desta sexta-feira (31), na Ultra Trail du Mont Blanc (UTMB). Serão 171km de distância e 20.000m de desnível acumulados atravessando três países: França, Itália e Suíça. A atleta é a única brasileira e sul-americana a conquistar o pódio por quatro vezes. A meta de 2018? Estar entre as três melhores e conseguir o máximo de pontos visando ao circuito mundial.
Aos 38 anos, a mineira é uma referência no mundo em corridas de longas distâncias. Ela já bateu recordes no Aconcágua e no Kilimanjaro, e conseguiu por duas vezes o pódio na Marathon des Sables, uma prova extenuante de 250 km no deserto do Saara. Mesmo com todo esse currículo, a atleta ressalta o fato de a UTMB ser uma das piores provas que irá encarar.
“Essa é uma corrida muito técnica, muito difícil, e que cada segundo conta. Não existe parar. Eu conto os mililitros de água que bebo. Para se ter uma ideia, eu paro uma vez em toda a corrida para ir ao banheiro. Como o nível dos competidores é muito alto, um minuto influencia muito. Por exemplo: 15 minutos podem significar quatro posições que perdemos no ranking. Então, mesmo com toda a estrutura que se tem para comer e dormir, nós da elite não podemos nos dar ao luxo de descansar um pouco. A pressão é enorme e precisamos ter 100% de foco em nosso objetivo”, explica Fernanda.
Para a corredora, ir bem no UTMB é essencial para se manter entre as primeiras colocações do ranking mundial. Essa é uma prova com uma alta pontuação e, justamente por esse fato, foi escolhida por Fernanda. “Eu tenho uma predisposição física boa para provas com distâncias acima dos 100 km e que duram mais de 24 horas. Já tenho experiência nessas provas longas, e isso me ajuda a ter uma vantagem com relação às outras corredoras. Como essa corrida tem uma pontuação alta, conseguir uma boa colocação nela me dá grandes chances de terminar o ano no top 3 do ranking mundial”, reforça.
Para conquistar seu objetivo, além de muito treino e preparação – faz dois meses que ela já está na região, treinando mais de oito horas por dia – Maciel espera contar com a ajuda do clima. Em 2017, o forte frio e a nevasca à noite prejudicaram sua visão, ocasionando um fenômeno conhecido como snowblind. Isso fez com que a atleta tivesse que sair da prova para que seu problema não se agravasse.
“Eu venho acompanhando a previsão do tempo e, para esse ano, acho que será melhor. A prova começará às 18h, na sexta-feira. O pior trecho é esse, que é pela noite. Mas como estamos começando, ainda temos muito gás. Neste ano, parece que o tempo não está tão frio. No sábado, devem acontecer alguns chuviscos e a temperatura ficará em torno de 8 graus. O topo das montanhas é o que mais preocupa, porque por lá pode estar nevando em alguns trechos”, explica.
Entre as principais atletas que brigam pelo pódio e uma boa colocação no ranking mundial estão Magda Boulet (USA) e Mimmi Kotka (SUE). Para conseguir superá-las, Fernanda espera completar a prova entre 26 e 27 horas. Como parâmetro, um corredor “amador” costuma completar a prova em mais de 40 horas.
O circuito da prova será o seguinte: os atletas largam da cidade de Chamonix (França) no dia 31, cruzam maciços e montanhas francesas até Courmayer (Itália). De lá, encaram o relevo íngrime da Itália e da Suiça, passando por Champex Lac (Suíça), e rumam pelos alpes francesas para terminar a prova em Chamonix. A prova finaliza no dia 2 de setembro.
Sobre Fernanda Maciel: brasileira, nascida em Belo Horizonte, hoje mora nas montanhas dos Pirineus espanhóis. Com apenas oito anos de idade, começou a competir e viajar o mundo através da Ginástica Olímpica. Dois anos mais tarde, estava treinando nos EUA. Fez capoeira, Jiu-jitsu e corrida de rua. Aos 23 anos, começou a participar de expedições internacionais de Corridas de Aventura e até hoje segue seu objetivo de correr pelo mundo. Em 2014, conseguiu seu principal título da carreira, e foi vice-campeã mundial de Ultra Trail. Em 2016, ela se tornou a primeira mulher do mundo a subir e descer o Monte Aconcágua, que tem 6.952 metros de altura, em menos de 24 horas. Ela completou o trajeto em exatas 22 horas e 52 minutos. Em 2017, a atleta conquistou o terceiro lugar no Marathon des Sables, uma ultramaratona no deserto do Saara. Neste mesmo ano, bateu dois recordes mundiais ao subir e descer correndo a montanha mais alta da África, o Monte Kilimanjaro, a 5.895m de altura.
Em sua vida profissional, Fernanda trabalhou como advogada ambiental e também como educadora e instrutora de meio ambiente e potencial humano pela ONG Internacional Outward Bound. Hoje, além de correr divide suas atenções com uma empresa de importação de produtos esportivos.
Fonte: Canoa Comunicação – São Paulo/SP
Foto: Reprodução