Chegada de líderes de facção em presídio de Brasília pode acarretar em aumento da violência

Por Rodrigo Franco (*)

No mesmo dia em que a Polícia Civil do Distrito Federal – PCDF desencadeia mais uma operação, contra o crime organizado, cumprindo sete mandados de prisão contra integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), o Governo Federal anuncia a transferência do principal líder da facção e outros cabeças da organização criminosa. A chegada desses criminosos poderá acarretar no aumento da violência, dos índices de criminalidade e da sensação de insegurança na Capital da República.

Marcos Camacho, vulgo Marcola, já esteve preso em Brasília, na Papuda em 2001, ano da última grande rebelião no Complexo da Papuda. Apesar de não ter se envolvido diretamente as investigações apontaram ser ele um dos mentores da rebelião que contou com a adesão de centenas de presos e resultou na morte de três detentos e onze pessoas feridas, entre elas três policiais. Durante sua estadia na Papuda, Marcola arregimentou seguidores, os quais tentam até os dias de hoje fincar raízes da facção criminosa na Capital da República.

De lá pra cá, a organização criminosa tornou-se a maior do país no que tange a crimes violentos, tendo como principal fonte de financiamento o tráfico de drogas. Fez mais ainda, expandiu suas ações para além das fronteiras do Brasil, liderando ações ousadas em países limítrofes com o nosso país. Investigações apontam que bandidos internacionais foram contratados para o resgate de seus líderes em 2018, a preço de milhões de dólares. Essa seria uma das razões das recentes transferências pelas quais têm sido submetidos.

Brasília, ponto de chegada dos líderes máximos da organização, é a sede da Capital Federal. Aqui estão sediados os Poderes da República, os Tribunais Superiores, o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e os Ministérios. No Distrito Federal estão as sedes de mais de 180 representações diplomáticas e organismos internacionais. Os agentes políticos de cada uma dessas representações, e seus familiares, residem em Brasília e convivem com os cidadãos naturais da cidade. Ministros, Parlamentares, Juízes, Conselheiros, Diplomatas e altos servidores circulam livremente nas ruas, nos restaurantes, nos shoppings e parques da Capital.

Nos últimos anos, percebeu-se um desaparelhamento da polícia investigativa, a Polícia Civil do Distrito Federal, órgão que é mantido e organizado pela União, mas subordinada ao governo distrital. Ao passo que polícias que também são mantidas pelo governo central, como a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal deram um salto de qualidade nos investimentos, valorização profissional, prestação de serviços e ganharam o apoio da população, a Polícia Civil do Distrito Federal, que também é mantida com recursos federais passou a ser deliberadamente sucateada. Viaturas velhas, efetivo pela metade, salários corroídos, equipamentos insuficientes, armas em pane, munição insuficiente, coletes vencidos e, pela primeira vez na história de Brasília, duas dezenas de delegacias fechadas. Infelizmente, o mesmo quadro que frequentemente se vê nos Estados chegava agora na Capital. Com a diferença que as Polícias Civis estaduais não são possuem competência constitucional, nem tampouco dispõem de recursos do orçamento federal.

Ao mesmo tempo, nos últimos anos Brasília tem percebido um aumento da criminalidade e na sensação de insegurança. Estupros, feminicídios, roubos e outros crimes tiveram um acréscimo e a população, receosa, fica mais alerta. O plano piloto deixou de ser a ilha de segurança que antes era considerada. Usuários e traficantes de drogas estão em todas as quadras, desencadeando uma rede furtos, roubos e receptações.

Ainda assim, no que tange ao combate ao crime organizado e à repressão às facções criminosas, a PCDF tem sido largamente exitosa. Diversas operações, quase que todos os anos, têm prendido centenas de criminosos, dentro e fora do Distrito Federal, em ações que visam repelir a instalação dessas facções na Capital. A chegada de novos governos, federal e distrital, trazem uma nova perspectiva quanto à repressão do crime organizado e o controle da violência no Distrito Federal.

Entretanto, a chegada dos líderes do PCC em Brasília é convergente com os planos da organização, que há anos tenta se instalar em Brasília, uma das cidades com maior renda per capita do país. Junto com os presos desembarca em Brasília toda uma estrutura que deve ser capaz de sustentá-los e ampliar seus tentáculos. A força motriz para isso é o tráfico de entorpecentes, o empréstimo de arma para roubos em larga escala, as extorsões, a arregimentação de um verdadeiro exército de criminosos trabalhando em ritmo empresarial a fim de manter e alargar o poder da facção.

Se essa decisão, um tanto arriscada, de manter Marcola e os líderes do PCC em Brasília persistir, deverá haver investimentos imediatos na Polícia Civil do Distrito Federal, que é quem tem a competência legal e constitucional de agir na repressão do crime na Capital de todos os brasileiros. Caso contrário, jamais o nome da facção Primeiro Comando da Capital terá tanta razão de ser.

Rodrigo Franco – Policial Civil, especialista em segurança pública, pós graduado em polícia judiciária, presidente do sindicato dos policiais civis do distrito federal.

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Fonte: Rodrigo Franco (Gaúcho / Autor) – Foto: Arquivo/Sinpol-DF

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