Com desafio de controlar língua, Ciro lança candidatura sem alianças
Ciro Gomes oficializa sua candidatura ao Palácio do Planalto nesta sexta (20), em Brasília.
Em sua terceira campanha presidencial, Ciro Gomes oficializa sua candidatura ao Palácio do Planalto nesta sexta (20), em Brasília, com o desafio de controlar o estilo verborrágico e de tentar contornar o risco de isolamento político.
As duas dificuldades foram seus principais obstáculos nas disputas presidenciais passadas, nas quais foi derrotado no primeiro turno, e voltaram a ameaçá-lo nesta semana, antes mesmo do início oficial da corrida eleitoral.
Na segunda-feira (16), Ciro tinha a certeza de que conseguiria o apoio de cinco partidos do chamado centrão, dando uma demonstração pública de força política na convenção nacional do PDT. Ele chega à convenção, contudo, sem o respaldo de nenhum deles, sem nenhuma aliança confirmada e sem um nome para o posto de vice. O bloco formado por DEM, PP, PR e Solidariedade decidiu formar uma aliança com Geraldo Alckmin, do PSDB. Desde o início de junho, dirigentes das siglas vinham criticando, em conversas reservadas, o comportamento imprevisível do pedetista, que, na quarta (18), xingou uma promotora de São Paulo. Além dos episódios recentes de destempero, causou desconforto crítica feita pelo presidenciável no passado ao ex-presidente nacional do PR Valdemar Costa Neto. Em 2004, Ciro disse que ele estava “embriagado” ao ter pedido a saída do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
Em jantar com as legendas do centrão, em junho, Ciro já havia sido cobrado pelo gênio forte. O marqueteiro dele, Manoel Canabarro, e o coordenador da campanha, seu irmão Cid Gomes, já lhe pediram para evitar palavrões. Em resposta, ele tem prometido conter o pavio curto. “Ele tem tentado se policiar”, afirma o irmão. Até agora, no entanto, o esforço não surtiu efeito. A cúpula do partido, que tinha a expectativa inicial de que ele adotasse um perfil “paz e amor” na disputa deste ano, estratégia que ajudou a eleger Lula em 2002, já descartou essa possibilidade.
A personalidade explosiva é apontada por dirigentes pedetistas como um dos fatores que prejudicaram a candidatura de Ciro em 2002. Na época, perguntado pela imprensa, ele respondeu que um dos papéis na campanha eleitoral de sua então mulher, a atriz Patrícia Pillar, era dormir com ele. O episódio causa reflexos até hoje na imagem do candidato, cujo desempenho eleitoral entre as mulheres é inferior ao dos homens em todos os cenários das pesquisas eleitorais, o que o tem levado a tentar desconstruir crítica de que seja machista. O recuo dos partidos do centrão pode ainda impactar as negociações com partidos de esquerda, como PSB e PC do B. Com a preocupação de um isolamento do PDT, os dirigentes das duas siglas voltaram a cogitar de maneira mais enfática um apoio ao PT. Sozinho, o PDT tem apenas 33 segundos em cada bloco fixo de 12 minutos e 30 segundos na TV, durante a campanha.No PSB, o movimento é puxado principalmente pelo governador Paulo Câmara (PE), que quer evitar, com um acordo nacional, o lançamento pelo PT da candidatura de Marília Arraes, que ameaça a sua reeleição.
Para evitar que Ciro fique isolado na disputa eleitoral, o PDT esboçou nesta quinta (19) estratégia de contra-ataque. Além de aumentar a ofensiva sobre o PSB, ele buscará separadamente partidos que integram o bloco de centro, na tentativa de reverter o apoio a Alckmin. A cúpula do partido ainda considera possível viabilizar uma aliança com o Solidariedade que, como tem defendido Ciro, prega a revogação da reforma trabalhista e a discussão de uma alternativa de financiamento às centrais sindicais com o fim do imposto sindical obrigatório. Em uma tentativa de dividir o centrão, o presidenciável evitará temas polêmicos e defenderá a adoção de um “manual de decência” na convenção partidária desta sexta.
No seu discurso, ele deve se esquivar de pontos que enfrentam resistência em partidos como DEM, PP e PR, como a revogação da reforma trabalhista e a taxação de grandes fortunas. Em compensação, dará destaque a pautas que costumam ser defendidas por partidos de centro-direita, como o combate à corrupção, o maior financiamento à segurança pública e a adoção de políticas de geração de emprego.
O presidenciável aproveitará a convenção nacional para lançar uma prévia do seu programa de governo, intitulada “12 passos para mudar o país”. Um dos trechos estabelece que, caso o pedetista seja eleito presidente, a equipe de governo assinará um documento, uma espécie de manual de responsabilidade com o dinheiro público. A regra principal é de que um auxiliar em cargo de confiança deve se afastar temporariamente do posto caso seja apresentada contra ele uma denúncia fundamentada de corrupção e que, paralelo a isso, seja realizada uma apuração independente. Apesar do discurso moralizante, Ciro negociou com partidos implicados em denúncias de corrupção.
O PP é uma das siglas mais envolvidas na Lava Jato e Costa Neto foi condenado no escândalo do mensalão. Na segurança pública, tema que tem sido monopolizado pelas candidaturas de direita, Ciro irá propor um maior protagonismo do governo federal, aumentando a destinação de recursos e criando uma polícia especial para combater tráfico de drogas e armas nas fronteiras. Em aceno à esquerda, ele deve defender ainda a ampliação das cotas raciais em universidades federais e o estímulo a políticas afirmativas para minorias, como mulheres, negros e homossexuais.
A equipe de campanha tem tentado convencê-lo a se comprometer, em discurso na convenção partidária, com a meta de que metade dos cargos de confiança seja ocupado por mulheres até o final de 2022.O Ministério Público de São Paulo pediu inquérito depois que, em entrevista à Jovem Pan, Ciro chamou o vereador Fernando Holiday (DEM-SP), ligado ao MBL, de “capitãozinho do mato”. Holiday é contra, por exemplo, a política de cotas raciais nas universidades.
Com informações da Folhapress.
Fonte: Notícias Ao Minuto
Foto: Reuters/Adriano Machado