Como lidar com frustrações e com a derrota na Copa do Mundo?
Por Fátima Santos
Na última sexta-feira, 6 de julho, a seleção brasileira perdeu de 2 a 1 no jogo contra a Bélgica nas quartas de final da Copa do Mundo. A derrota abalou o coração de milhões de torcedores, além dos atletas em campo.
Mas como lidar com a frustração depois de uma derrota dessas? Qual a importância da inteligência emocional para lidar com esse contexto?
Para responder a essas perguntas, Luiz Paulo Machado, Master Coach e Diretor-Executivo da Febracis Brasília e Goiânia.
Teve gente que se desesperou, as crianças também choraram muito. E aí a gente fica se perguntando: se a gente fica nesse ritmo de emoção meio descontrolada, como que fica a situação dos nossos atletas?
– Hoje está um pouco mais tranquilo. Estamos um pouco triste com o resultado, mas feliz porque o Brasil continua e tem muito aprendizado nessa partida que a gente teve.
Como é manter as emoções sob controle em momentos importantes, não só na Copa do Mundo, mas no dia a dia tem que lidar com isso?
– Isso é importantíssimo, faz parte da inteligência emocional. Daniel Goleman, que é um grande estudioso e considerado como papa da Inteligência Emocional, divide entre pessoal e social. Dentro da IE pessoal tem a questão do autocontrole. Nem tudo sai exatamente da forma como nós esperamos. Na vida existem varias situações, onde nós nos deparamos com circunstâncias e com resultados que não são exatamente aqueles que nós imaginamos. Todos nós imaginávamos que o Brasil iria passar e que iria ganhar. Eu mesmo coloquei 4 a zero no bolão. Estava muito otimista, mas não foi isso que aconteceu.
Nós temos uma regra dentro do Coaching Integral Sistêmico que é o princípio 90/10 e nós utilizamos com muita efetividade nesses casos. Dez por cento é aquilo que acontece nas nossas vidas, é aquilo que aconteceu e não podemos mudar, e noventa por cento é a forma que nós encaramos aquilo que aconteceu. Noventa por cento é o aprendizado que a gente tira. É como nós vamos reagir a uma tragédia, a uma circunstância e a uma situação que nós não esperávamos. Então, muitas pessoas só ficam olhando para os dez por cento, ficam se lamentando, ficam chateados ou ficam tristes, mas e o aprendizado que está por detrás disso tudo?
Porque uma pessoa pode passar pela mesma situação, tirar um aprendizado e fazer com que a sua vida seja muito melhor, enquanto que outra pessoa pode passar pela mesma circunstância de tragédia, e acabar com a sua vida. Então, dentro desse resultado negativo que nós tivemos desse dois a um contra a Bélgica, quantos aprendizados podemos tirar disso?
Até que ponto é positivo você controlar as emoções?
– Muitas pessoas comentaram comigo: poxa eu não estava querendo me envolver tanto, mas acabei me envolvendo. E eu também concordo. É bonito você se envolver, você chorar e colocar a sua emoção para fora. E até falo isso em forma de luto, que é um período importantíssimo para as pessoas. Se você não viver o luto e ficar postergando, você estará simulando algo que não vai ser bom para você. Importante liberar a sua emoção naquele momento.
O luto, no caso de uma partida de futebol, pode durar ali cinco minutos, e daqui a pouco você vai analisar de outra forma. Depois, pode ser a perda de um familiar, talvez demore um pouco mais e depois começa a sentir gratidão pela pessoa que viveu a seu lado.
Agora, o controle emocional numa partida de futebol é fundamental. Lógico que os jogadores que estão ali é importante se envolverem também com a situação. Agora, o controle, no sentido de que estou envolvido, mas não vou deixar aquela emoção gerar um resultado negativo para o time. É importante você ter a empatia. É você olhar para a outra pessoa e saber que nos outros times existem pessoas e saber que existe um árbitro que tá fazendo um trabalho.
Por exemplo, é o que aconteceu muito com as pessoas que falam do Neymar, que sofre a falta e fica ali exagerando. Talvez faltasse ali a questão da empatia, de saber que tem outra pessoa ali envolvida, que tem câmeras e milhares de pessoas. E que ele pode ser exemplo para outras pessoas. Que exemplo ele poderá dar?Precisava disso? Então é ter controle emocional para que pudesse agir de outra forma, e não ficar ali agindo daquela forma, simulando tudo aquilo.
Todo mundo fala que o Neymar tem uma instabilidade emocional, acham que ele é assim por ser um pouco infantil. Foi passando o tempo e ainda não adquiriu maturidade, mas essa questão de ficar chorando muito mobilizado, tem a ver com a maturidade?
– Isso é um desafio, porque são tantas variáveis envolvidas numa situação dessa, mas a análise que eu faço dessa questão do Neymar é de não ter esse autocontrole da inteligência emocional, e creio também que faltou uma Mentoria. É importante que as pessoas tenham referências – mentores. Nós sabemos hoje que o nosso cérebro tem 5% de neurônios-espelhos e eles vão repetir na nossa mente aquilo que a gente tá vendo. Faltou talvez uma referência, creio que o Tite é um grande líder e está fazendo um excelente trabalho, só que o Neymar já chegou pra seleção com muitos vícios emocionais.
Talvez faltasse uma pessoa que o tivesse acompanhado. Não sei se ele tem essa pessoa, mas, na minha concepção, teria que ter uma pessoa para o acompanhar e falar: – Neymar você precisa entender que tem outras pessoas envolvidas nisso daqui, então se você fizer dessa forma, o resultado será esse. Nós tivemos dois pênaltis dentro desse jogo contra a Bélgica, que não foram marcados. E foram dois pênaltis no Neymar e o juiz nem quis olhar o vídeo. Um ele ficou parado ouvindo lá o outro árbitro e o outro ele assumiu que não era pênalti. Essa questão de forjar e de simular fez com que o juiz, que é uma peça fundamental dentro do jogo, não considerasse que seria pênalti.
Então, o jogador tem que saber jogar bola, mas ele tem que saber também se relacionar não só com os seus parceiros mas tem que saber se relacionar com os bandeirinhas, com o juiz, com os torcedores, tem que saber se relacionar com a sociedade.
Tem muitos fatores, e a maturidade de entender isso e a inteligência emocional. Dele saber o que ele poderia fazer ali Teve uma oportunidade de ouro de ser um atleta considerado o melhor, de ganhar a Copa do Mundo. Então ele deixou passar essa oportunidade. Faltou maturidade, faltou inteligência emocional e faltou referência.
*Entrevista concedida em 9 de julho de 2017, ao programa Tarde Nacional / Rádio Nacional 980 AM, e gentilmente disponibilizada para o Brasília In Foco News