Contratos de candidato à CLDF com GDF crescem quase 800% em cinco anos
Real JG Serviços Gerais, do empresário José Gomes, recebia R$ 7,8 milhões em 2013 e passou a ganhar mais de R$ 61 milhões em 2017
Dono da Real JG Serviços Gerais, uma das maiores empregadoras do DF e entre as empresas com o maior número de contratos terceirizados dentro da estrutura do Poder Executivo local, o empresário José Gomes (PSB) teve ascensão meteórica em licitações do Governo do Distrito Federal (GDF). Em apenas quatro contratos, o candidato a uma das 24 vagas de deputado distrital na eleição de 2018 passou de R$ 7.835.013,64, em 2013, para R$ 61.096.394,25 em 2017. O crescimento de 779,78% surpreende desavisados, uma vez que o período contou com uma das maiores recessões da história recente do país.
Os dados são do Sistema Integrado de Gestão Governamental (Siggo) e dizem respeito a contratos com a Secretaria de Educação, o Departamento de Trânsito (Detran-DF), o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) e o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans). O próprio José Gomes afirma que o número atualmente é muito maior. Com exceção da Secretaria de Saúde, todos os demais órgãos, de acordo com o empresário, possuem funcionários da Real JG, totalizando mais de R$ 10 milhões por mês recebidos do GDF.
O primeiro grande salto da Real JG foi de 2013 para 2014. Se no primeiro período os valores eram de R$ 7,8 milhões, no segundo eles pularam para R$ 30.644.298,64 em quantias pagas pelo Tesouro local. Em 2015, no primeiro ano de governo de Rodrigo Rollemberg (PSB), correligionário de José Gomes, o incremento contratual passou a importância arrecadada pela Real JG para R$ 53.541.233,79.
A queda nos valores recebidos, nos mesmos quatro contratos, ocorreu em 2016. A Real JG ganhou R$ 50.786.057,81 pelos serviços prestados ao GDF. No ano seguinte, novo salto: a empresa recebeu R$ 61.096.394,25 ao final de 2017.
Neste ano, até a última atualização do Siggo, a companhia embolsou R$ 43.861.054,43 apenas nos contratos mencionados.
Segundo o empresário, a empresa participa por mês de, pelo menos, 35 processos de licitação pelo Brasil para a prestação de serviços de limpeza, segurança e secretariado, entre outros. Ao todo, de acordo com ele, são mais de 120 contratos e um faturamento mensal de R$ 500 milhões.
“Somos a maior empresa do Centro-Oeste e conseguimos isso com muito esforço. Eu entro em praticamente todas as licitações sempre com o preço mais barato, por isso ganhamos tantos contratos. Temos praticamente todos os órgãos do GDF, mas não dá para falar apenas dos contratos que fechamos em Brasília. Preciso mostrar que ganhamos licitações por todo o país”, conta o proprietário.
Em 2018, José Gomes filiou-se ao PSB, mesmo partido do governador Rodrigo Rollemberg, e acabou entrando em atrito com outros pré-candidatos, como o ex-deputado distrital Roosevelt Vilela, também socialista. A disputa na esfera da administração do Núcleo Bandeirante chegou a ter a intervenção da direção da legenda.
Coação
Com 10 mil funcionários no Distrito Federal, José Gomes tem sido acusado de coagir seus empregados a votar nele para o cargo de deputado distrital. Em meados de julho, pelo menos 12 trabalhadoras foram demitidas após não declararem voto ao patrão. Indicadas pelo ex-deputado distrital Roosevelt Vilela (PSB), elas acusavam um homem de confiança de Gomes de ameaçar de demissão quem não apoiasse a candidatura do socialista.
Áudios confirmaram as denúncias das demitidas. Em pelo menos duas gravações, Douglas Ferreira Laet, ex-funcionário e primo de José Gomes, aparece ameaçando perseguir os trabalhadores da Real JG caso as zonas eleitorais do DF registrem, em outubro, número de votos inferior ao de funcionários da Real que moram em cada uma dessas localidades.
“Então, só para deixar claro: eu tenho o Título de Eleitor de vocês. Sei a zona eleitoral onde vão votar, sei quem vai trair e quem não vai trair a Real, o senhor José Gomes. Sei quem vai dar tapinha nas costas e sei quem, no dia, não vai estar [na votação]. Porque se naquela zona 10 têm que votar e só votarem nove, alguém ficou de fora”, afirma Douglas.
Em um segundo momento, Douglas afirma que são muitos os políticos a pedirem vaga de emprego na empresa e, para contratar os indicados, é necessário demitir quem está empregado na Real JG.
“Para eu contratar alguém deles, tenho de mandar alguém embora. Será que alguém [de vocês] pode sair para eu dar [a vaga]? Se quiser sair, posso trocar com eles. O que eles estão pedindo aqui é o emprego de vocês. O único que deu é o José Gomes. Vocês podem olhar no contracheque de vocês, que é a Real JG que paga”, alerta Douglas Laet.
Legislação eleitoral
Segundo o art. 299 do Código Eleitoral, é considerado crime “dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita”. A pena prevista para esse crime é de até quatro anos de reclusão e pagamento de cinco a 15 dias-multa.
Também são vetados propaganda e pedidos de votos antes de 15 de agosto, quando a campanha de 2018 começará oficialmente.
Contratos de candidato à CLDF com GDF crescem quase 800% em cinco anos
Nota
A empresa Real JG é uma das maiores geradoras de empregos no Distrito Federal e de todo o País, com um total de 10 mil servidores em todo o território nacional. Possuímos contratos com o Governo Federal e com o Governo do Distrito Federal, executados em diversos estados e órgãos públicos.
Destaca-se que os contratos firmados com o Governo de Brasília tiveram início no ano de 2013. Ou seja, antes da administração atual. Qualquer outra interpretação é falaciosa.
GDF
O Governo do Distrito Federal informa que a Real JG Serviços Gerais tem contrato assinado com sete pastas, sendo quatro secretarias (Agricultura, Educação, Fazenda e Planejamento) e três autarquias (DER-DF, Detran-DF e DFTrans). Em 2015, segundo o GDF, foram pagos R$ 61 milhões à empresa pelos serviços prestados. Em 2016, foram R$ 67,8 milhões; e, em 2017, R$ 71,9 milhões.
Em 2018, até o momento, foram pagos R$ 41,2 milhões, informa o governo. Os dados estão disponíveis no Portal da Transparência. As diferenças nos valores entre um ano e outro deram-se em razão de aditivos contratuais, reajustes previstos nos contratos originais, dissídios coletivos e ampliação dos serviços, todos itens previstos na Lei de Licitações.
Fonte: Metrópoles
Foto: Ricardo Botelho/Especial para o Metrópoles