Crise na UnB: servidores e terceirizados ameaçam greve geral
Em assembleia na próxima terça-feira (24/4), os trabalhadores devem decidir se cruzam os braços. Enquanto isso, universidade segue ocupada
O auditório da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB) ficou lotado na tarde desta quinta-feira (19/4). Estudantes, servidores e representantes do comando da instituição participaram de audiência pública para discutir a pior crise da história da UnB. Durante o encontro, os servidores e terceirizados anunciaram assembleia para o dia 24 de abril, às 9h30, na Praça Chico Mendes do campus Darcy Ribeiro, na qual podem deflagrar greve geral. Os alunos, por sua vez, prometem seguir com a ocupação da reitoria.
A falta de um representante do Ministério da Educação (MEC) chamou atenção dos participantes, que colocaram um pequeno cartaz com os seguintes dizeres no auditório da Faculdade de Direito: “Cadê o MEC?”
A ausência causou revolta dos integrantes da mesa pública, mediada pela deputada federal Érika Kokay (PT-DF) . Segundo os organizadores da reunião, no entanto, o ministro da Educação, Rossieli Soares, se comprometeu a comparecer à audiência na Câmara dos Deputados para discutir o assunto. O encontro está marcado para 9 de maio.
Em nota, o Ministério da Educação diz que tem mantido diálogo aberto e direto com os estudantes e com toda a sociedade sobre a situação da universidade. “Nos últimos seis dias, o MEC já se reuniu em três ocasiões com representantes da comunidade da UnB, formada por professores, servidores técnico-administrativos e alunos”, destacou a pasta.
O MEC diz esperar que a solução de consenso seja breve, para a instituição retomar suas atividades normais. “E reafirma a disposição de diálogo, respeitando as competências e responsabilidades de cada ente e os limites da autonomia administrativa e de gestão da UnB”, assinalou.
Contra a crise, os estudantes ocuparam a reitoria da UnB no dia 12 de abril. E não pretendem sair do local. “Enquanto o MEC não nos responder e as reivindicações não forem aceitas, continuaremos [a ocupação]. Isso é inegociável”, disse um dos integrantes do movimento Ocupa UnB.
A universidade foi ocupada dois dias após a manifestação que deixou um rastro de destruição nos prédios do MEC e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Logo depois, a UnB divulgou nota rebatendo as declarações do ministro Rossieli Soares de que a instituição tem recursos suficientes para fechar o ano.
No documento, a universidade informou que, embora tenha aumentado o seu orçamento global entre 2016 e 2018, de R$ 1,654 bilhão para R$ 1,731 bilhão, houve redução, no período, da verba destinada à manutenção (limpeza, segurança, luz, água e refeições no restaurante universitário) – de R$ 379 milhões para R$ 229 milhões.
“Somente nos valores vindos do MEC, houve redução de aproximadamente R$ 80 milhões para essa finalidade”, explica a UnB. A universidade garante que foi autorizada a usar a totalidade dos recursos aprovados pelo Congresso Nacional, mas o montante aprovado é insuficiente. “O déficit, de R$ 92 milhões, é uma realidade e reflete os cortes e contingenciamentos sofridos pelo setor de educação, exigindo medidas combinadas de redução de gastos e aumento da arrecadação própria por parte da universidade”, destacou.
A UnB também alega que houve redução de recursos para investimentos, de R$ 62,151 milhões para R$ 28,211 milhões, sem contabilizar emendas parlamentares. “Somente da fonte Tesouro, caiu de R$ 47,151 milhões para R$ 8,211 milhões. Isso significa que o MEC centralizou parte desse dinheiro em 2018, reduzindo a autonomia das universidades”, assinala.
Discurso de união
Durante a mesa pública nesta quinta (19), a reitora Márcia Abrahão fez um discurso de união e evitou falar em greve. “Precisamos da tranquilidade de ter uma comunidade unida. Faço coro a esses discursos. Vamos trabalhar para aumentar a arrecadação, mas precisamos ser responsáveis e fazer a universidade superar este momento funcionando”, amenizou.
Representante da Comissão de Terceirizados e estudantes, Maria Lacerda pediu a suspensão das demissões de funcionários da limpeza. “Precisamos de gestão voltada para as pessoas. Queremos a universidade unida contra os cortes”, cobrou.
Já o Sindicato dos Trabalhadores da Fundação da Universidade de Brasília (Sintfub) sinalizou greve geral da categoria a partir da terça-feira (24). O desejo foi endossado por estudantes do movimento Ocupa UnB, que tem novo protesto marcado para a próxima quinta (26).
Fonte: Metrópoles
Foto: Michael Melo/Metrópoles