De coadjuvantes a protagonistas: eleições reposicionam siglas no DF
Corrupção, estigma de má gestão e cenário nacional levam partidos pequenos a se aventurarem com cabeças de chapa
O tabuleiro político no Distrito Federal virou de 2014 para 2018. Partidos antes coadjuvantes em coligações assumiram o papel de protagonistas na corrida eleitoral. Eles deixaram de orbitar os partidos tradicionais no DF, como PT, PR, MDB, PSB, PSDB e PSol para serem alçados a peças fundamentais no jogo. O Pros, de Eliana Pedrosa; o PSD, de Rogério Rosso; o PRB, de Egmar Tavares; o DEM, de Alberto Fraga; e o PRP, do general Paulo Chagas movimentam um cenário atípico na disputa por cargos eletivos.
Pela primeira vez o DF tem uma eleição com 11 postulantes ao Palácio do Buriti. Um fator que pode ter sido provado por pelo menos três variáveis, segundo especialistas na área. O primeiro deles é o alto índice de rejeição do atual governador, Rodrigo Rollemberg (PSB).
Professor da Universidade de Brasília (UnB) e doutor em ciência política pela Universidade de Salamanca, na Espanha, Wladimir Gramacho afirma que, em geral, governos mal avaliados acabam estimulando os partidos da coalizão que os elegeram a lançar candidaturas próprias.
“Faz mais sentido lançar um candidato e tentar se desvincular da imagem ruim do que manter o apoio ao nome rejeitado e enfrentar dificuldades”, analisa Gramacho.
A colocação do docente se aplica ao PSD. No DF, Rogério Rosso é presidente do partido de Renato Santana, vice-governador. Eles fizeram parte do grupo que elegeu Rollemberg, mas optaram por não se manter no governo. Houve, inclusive, um rompimento com a atual gestão.
Outro influenciador para encorajar os coadjuvantes é o desgaste de imagem sofrido pelos grandes partidos com as denúncias de corrupção. “A descrença do eleitor com as legendas traz ao cenário legendas que antes não tinham protagonismo”, afirma o cientista político e professor da UnB Aurélio Maduro. Para ele, essa movimentação leva nomes conhecidos e consolidados a escolherem legendas que os viabilizem eleitoralmente.
Migração
No caso da ex-deputada distrital e ex-secretária do GDF Eliana Pedrosa, o Pros foi a agremiação selecionada. O partido, em 2014, fazia parte da coligação de Agnelo Queiroz (PT). No entanto, o PT foi engolido no DF por denúncias de corrupção em operações como a Panatenaico e devido à má avaliação do ex-governador. Assim, Eliana decidiu tentar protagonismo ao lado do PTB, do candidato a vice Alírio Neto.
Nas eleições anteriores, Alírio era da coligação de Jofran Frejat (PR) e foi candidato a deputado federal, mas não se elegeu. Agora, compõe a chapa majoritária com Eliana. Eles têm o maior número de partidos nanicos unidos. São sete: Pros, PTB, Patriota, PTC, PHS, PMB e PMN.
A união demonstra também uma terceira possibilidade de mudança no comando do DF. Desta vez, uma análise que seria oriunda do cenário nacional. “Com a criação do Centrão na Câmara dos Deputados, partidos pequenos passaram ter grande força. Antes isolados, eles eram fracos. Mas juntos passaram a ter poder de decisão. Isso se refletiu nas unidades da Federação. As legendas saíram do movimento de órbita para serem protagonistas”, conclui o cientista político Aurélio Maduro.
Direita
O MDB, vice na gestão Agnelo Queiroz com Tadeu Filippelli, hoje arrisca a candidatura de Ibaneis Rocha para o governo. Ao lado dele está o postulante a vice-governador Paco Britto (Avante), desconhecido da população, mas forte articulador nos bastidores.
A atuação longe dos holofotes também é o caso do PRB, que representa a Igreja Universal do Reino de Deus. O partido se lança à chapa majoritária com o pastor evangélico Egmar Tavares. Ele foi o vice escolhido pelo grupo de Rogério Rosso. Em 2014, o partido também estava com Agnelo Queiroz.
Naquele ano, o PRP do general Paulo Chagas também apoiava o petista. Hoje, entre os candidatos ao Buriti, o militar defende o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) na capital.
Novo
O partido Novo disputa a primeira eleição no DF. Criado em 2015, ele terá o empresário Alexandre Guerra como postulante ao GDF, o médico Erickson Blun a vice e o advogado Paulo Roque como representante da chapa ao Senado. Recém-criada, a legenda não estava nas eleições de 2014 e, assim como partidos tradicionais que não conseguiam subir à ribalta, hoje luta por um lugar ao Sol.
A menos de dois meses das eleições e com uma grande indefinição no cenário eleitoral, ninguém se arrisca a apostar quais desses partidos conseguirão, de fato, fincar bandeira no poder pelos próximos quatro anos.
Fonte: Metrópoles
Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles