Depois de descoberta, funcionária fantasma da CLDF pede exoneração
Salário de Karla Daniela era quatro vezes maior do que de servidores da Procuradoria da Mulher, mas ela nem sequer sabia o nome dos colegas
Lotada na Procuradoria da Mulher da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) até esta quinta-feira (15/3), quando foi exonerada, Karla Daniela Ferreira tinha salário de R$ 11.686,17, mas não costumava dar expediente na Casa, de acordo com os próprios colegas do órgão. Ela era indicada da deputada distrital Celina Leão (PPS), procuradora da pasta, e nomeada em um cargo da Presidência do Legislativo por falta de vagas na estrutura da repartição criada para formular demandas voltadas ao sexo feminino.
De acordo com servidores, a Procuradoria da Mulher tinha apenas dois funcionários dando expediente diariamente no local. Um recebia salário de R$ 3.667,20; outro, remuneração de R$ 1.857,25. Sob a condição de anonimato, trabalhadores familiarizados com a rotina da CLDF confirmaram ao Metrópoles que Karla Daniela raramente comparecia ao período de trabalho.
Ao longo da semana passada, por exemplo, Karla Daniela só foi vista uma vez na Câmara: em 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
Ouvido pelo Metrópoles, outro servidor criticou as regalias dadas à colega de Casa. “Ela faz parte de um grupo de tratamento para diabéticos e é professora durante o dia. Com que tempo ela vem aqui?”, afirma ele, emendando: “Tantos trabalhando por tão pouco, e ela recebendo bem para não vir”.
Segundo o currículo de Karla Daniela Ferreira, atualizado em 1º de março na internet, ela é diretora-geral do Instituto Grupo de Prevenção, Educação e Controle do Diabetes e Hipertensão (Grupedh), professora titular da Faculdade Icesp desde 2013 e docente da Faculdade Anhanguera, além de assessora parlamentar coordenadora de saúde.
“Tem várias pessoas”
Procurada pela reportagem na sexta-feira (9/3), a servidora não foi localizada na Casa. Por telefone, ela negou que fosse funcionária fantasma. Segundo Karla Daniela disse, costumava prestar serviços externos, mas sempre ia à CLDF. No entanto, não soube dizer os nomes dos colegas da Procuradoria da Mulher. “Tem várias pessoas”, afirmou, sem lembrar a identidade de nenhuma.
Questionada sobre as atribuições que desempenhava no órgão, não conseguiu explicar. “Estou sempre aqui, sempre na Casa. Faço muitos trabalhos externos”, contou, sem detalhar as atividades do dia a dia. Karla Daniela alegou que não estava na CLDF no fim da tarde dessa sexta-feira porque havia saído mais cedo para uma consulta médica, pois tinha passado mal.
Na segunda-feira (12), três dias após o primeiro contato telefônico do Metrópoles, Karla Daniela estava na sala da Procuradoria da Mulher. Assim como na sexta, ao ser perguntada novamente sobre as atividades que desempenhava no local, ela não soube responder.
A servidora também não tinha informações sobre o número de atendimentos que eram feitos ou a respeito dos relatórios preparados pela Procuradoria da Mulher.
Aquela segunda-feira, de acordo com um servidor, era a primeira vez que Karla Daniela aparecia na Procuradoria da Mulher. “Ela nem sequer tinha login. Foi a primeira vez que ela realmente sentou na sala, só porque vocês a procuraram”, comentou.
INTERNET/REPRODUÇÃO Currículo de Karla Daniela, divulgado pela servidora na internet
Celina nega irregularidades
Ao Metrópoles, a parlamentar Celina Leão negou que Karla Daniela fosse funcionária fantasma.
Ela me ajuda e muito. Sempre está auxiliando na Procuradoria da Mulher e organizando reuniões para mim. Não sei de onde vêm essas conversas, mas se tratam de fofoca“
Questionada por que servidores da mesma pasta recebiam quase quatro vezes menos para teoricamente executar a mesma função de Karla Daniela, a parlamentar disse que isso é normal. “Já tive chefes de gabinete que recebiam menos do que outros servidores”, afirmou Celina.
Desde o primeiro mandato de distrital de Celina Leão, iniciado em 1º de janeiro de 2011, Karla Daniela reveza-se em cargos dentro do gabinete da deputada.
Em dezembro do ano passado, ela foi transferida para a Presidência da Câmara Legislativa. Como não há cargos reservados à Procuradoria da Mulher, a Casa cedeu servidores de outros órgãos para a pasta.
Nesta quinta-feira (15/3), após o Metrópoles abordá-la sobre o caso, Karla Daniela pediu exoneração – o ato foi publicado no Diário da Câmara Legislativa.