Distritais querem saber quem é o responsável pela queda de viaduto
Audiência pública na Câmara Legislativa nesta quinta (22) promete ser nitroglicerina pura. Ex-diretor do DER foi convidado para se explicar
O clima promete esquentar na Câmara Legislativa nesta quinta-feira (22/2) durante audiência pública. Trocas de acusações devem acirrar os ânimos entre as autoridades convidadas. O encontro começa às 9h e foi marcado depois da queda do viaduto sobre a Galeria dos Estados, no Eixão Sul, no último dia 6. Os distritais querem saber de quem foi a culpa do desabamento.
O atual diretor e o ex-chefe do Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DF), Márcio Buzar e Henrique Luduvice, respectivamente, foram convidados para o evento. Gestores da Companhia Urbanizadora de Brasília (Novacap) também
Henrique Luduvice, que é primo do governador Rodrigo Rollemberg (PSB), foi exonerado um dia após a queda do viaduto. O Metrópoles mostrou que a autarquia deixou de investir mais de R$ 1,2 bilhão do seu orçamento entre 2015 e 2017. Desse total, R$ 4,2 milhões deveriam ser destinados à manutenção de estruturas elevadas da capital do país.
Após a exoneração, servidores do órgão saíram em defesa do ex-diretor, que alega ser responsabilidade da Novacap, e não do DER-DF, a manutenção das estruturas elevadas da capital.
Advogado aciona Justiça
Nesta quarta (21), o advogado Paulo Goyaz protocolou ação popular no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) também para saber de quem é a responsabilidade pelo acidente. Ele sustenta que houve omissão da Novacap e defende o imediato afastamento do presidente, Júlio Menegotto, e do então diretor de Edificações da Novacap, Márcio Buzar.
Este último acabou promovido pelo governador e assumiu o posto de diretor-geral do DER, no lugar de Luduvice.
Paulo Goyaz fundamenta a ação em três processos administrativos que tratavam de reparos nos viadutos da Galeria dos Estados. “Tramitam desde 2012, e está demonstrado que eram urgentes, mas os processos ficaram arquivados 826 dias. Por isso, eles deverão, além de perder os cargos, ressarcir o GDF pelos prejuízos causados em razão do retardamento injustificado”, diz.
O defensor lembra que a Novacap tem verba específica para executar tais serviços e dispõe de mais de 100 técnicos capacitados, mas “os dois diretores agiram com omissão dolosa no exercício dos respectivos cargos”.
O advogado ainda comparou a suposta negligência de Menegotto e Buzar à de uma mãe que deixa de amamentar o bebê, causando a morte da criança. “Em ambos os casos, aceitaram o eventual resultado provável e previsto, e assumiram o risco de produzi-lo”, destaca.
Vaias
O governador esteve no local e admitiu: o viaduto não passou por manutenção. Ele foi vaiado. Professor de engenharia civil da Universidade de Brasília (UnB) e presidente da Infrasolo, empresa especializada em patologia de edificações, Dickran Berberian explicou que o apoio de uma viga deve ter cedido.
“Segundo a minha experiência, em casos de desabamentos, a estrutura dá um sinal, ou tremor, um barulho. O que caiu não foi uma viga, foi o apoio dela. Acredito que esse viaduto não tenha passado por vistoria. Caso contrário, o governo teria detectado o problema”, disse.
De acordo com ele, “o maior inimigo de qualquer edificação é a água. Desabamentos são mais propícios a ocorrer nessa época de chuva. Se tiver alguma infiltração, os materiais que compõem o viaduto podem ser comprometidos”.
A deterioração das estruturas já foi alvo de relatório elaborado pelo Sindicato de Engenharia e Arquitetura (Sinaenco). Nove viadutos do Distrito Federal avaliados pela entidade entre os anos de 2009 e 2011 apresentaram problemas, além das pontes do Bragueto, das Garças e a JK. Foram detectados desde infiltrações e ferros expostos até descolamento do concreto e fendas abertas.
Fonte: Metrópoles
Foto: MICHAEL MELO/METRÓPOLES