Dos 11 distritais da base, 7 estão a um passo de romper com Rollemberg

 

Com a proximidade das eleições, deputados temem que baixa popularidade do governador os atrapalhe. Mudança de partido é outro fator decisivo

A proximidade das eleições e as movimentações nos bastidores têm desgastado a relação do Palácio do Buriti com os deputados aliados. Dos 11 integrantes da base governista, sete ensaiam o desembarque. Dois fatores pesam nesse cenário: a tentativa de descolar a própria imagem à do governador, que tem alta rejeição perante o eleitorado; e a janela partidária, aberta esta semana.

O primeiro movimento foi de Rodrigo Delmasso, ex-líder do governo, que anunciou a saída do Podemos. A depender da nova agremiação, ficaria inviável a permanência na base.

Além de Delmasso, seis aliados de Rodrigo Rollemberg (PSB) na Câmara Legislativa têm ensaiado deixar a base. Nessa lista estão Agaciel Maia (PR), Cristiano Araújo (PSD), Juarezão (PSB), Julio Cesar (PRB), Professor Israel Batista (PV) e Sandra Faraj (SD).

Principal reforço do chefe do Executivo no parlamento e líder do governo na Câmara Legislativa do Distrito Federal, Agaciel conta com cerca de 350 cargos na estrutura do Executivo. Hoje, sofre pressões do seu partido, que deve ter Jofran Frejat (PR) como adversário de Rollemberg nas eleições.

Correligionários e partidos estudando coligar-se com o PR questionam o porquê de a legenda não tomar providências no sentido de afastar Agaciel de Rollemberg definitivamente, uma vez que a sigla se opõe à atual gestão. Apesar das cobranças, segundo afirma Agaciel, seu acordo com a agremiação é que ele se mantenha independente, ao menos até a proximidade das eleições.

“Eu tenho um acordo com o partido. Estarei do lado do Frejat nas eleições, mas também estou trabalhando pela cidade. Estou cumprindo uma missão”, afirmou Agaciel ao Metrópoles.

Evangélicos
Outra tendência é o afastamento de parlamentares evangélicos. Entre eles, Julio Cesar, Delmasso e Sandra Faraj. O grupo se reuniu com lideranças do segmento e, juntos, decidiram que terão candidatos a cargos majoritários.

Um dos nomes ao Buriti é o do presidente regional do PRB, Wanderlei Tavares. Embora ainda não haja consenso em torno da liderança partidária, o movimento já representa um racha com Rollemberg. De acordo com Tavares, o partido está mais preocupado em formar a chapa para disputar a Câmara dos Deputados, o que deve ocorrer com PSC e Patriotas.

PSD
Já Cristiano Araújo deverá iniciar o afastamento do governo se quiser disputar a reeleição pelo PSD, legenda do vice-governador Renato Santana, que rompeu com Rollemberg. Nesta semana, o próprio presidente regional da sigla, Rogério Rosso, reuniu-se com mais seis partidos e fechou aliança para as eleições, pela chamada Frente Cristã.

O caminho do PV de Israel Batista deve ser bem parecido. A tendência é a legenda apoiar a candidatura de outro político que não Rollemberg ao Palácio do Buriti. Um dos nomes cotados é o de Joe Valle (PDT), presidente da Câmara Legislativa, lançado a pré-candidato na última quinta-feira (8/3). Segundo o próprio presidente regional da sigla, Eduardo Brandão, a chance de caminhar com o atual governador é muito pequena.

Rodrigo Delmasso é um caso à parte nessa problemática. De saída do Podemos, o distrital quer ouvir o governador sobre sua ida para outro partido, mas até agora não teve retorno em suas mensagens de WhatsApp. “Eu pedi uma conversa com o governador para ouvi-lo, mas ele não me respondeu. Ficar na base depende dele. Quem está se afastando é ele, não eu”, afirma o distrital.

Os demais deputados procurados pela reportagem não quiseram comentar o assunto.

Pressões
Uma das estratégias que vêm sendo utilizadas com maior frequência pelo Palácio do Buriti para manter a fidelidade de seus aliados no plenário da Câmara Legislativa é a retirada de cargos quando eles contrariam a vontade de Rollemberg.

Vítima recente da caneta do governador foi o próprio companheiro de partido Juarezão. Ao apoiar a derrubada de um projeto de autoria do deputado Bispo Renato Andrade (PR) que destinava recursos para a convocação de servidores da Saúde, o socialista perdeu dois cargos na Administração de Vicente Pires.

“Não sei o que ocorreu”, limitou-se a dizer o socialista, que não quis comentar o assunto. Juarezão perdeu o cargo de ouvidor e de assessor técnico na entidade.

Segundo relatou um parlamentar que pediu para não ter o nome revelado, as pressões chegam por todos os lados. Ora pela assessoria Legislativa do Buriti, que fica em plenário, ora por telefone. “O governador manda recados do tipo ‘quem não está com a gente não terá participação no governo’”, conta.

A retirada de cargos de deputados que não fazem a vontade do governo não é novidade. Em abril do ano passado, o então aliado de Rollemberg Cláudio Abrantes (sem partido) obstruiu votações de interesse do Executivo em prol do reajuste da Polícia Civil.

Abrantes teve quatro aliados exonerados da Companhia Habitacional do Distrito Federal (Codhab). Em seguida, acabou rompendo com o governo e com a Rede Sustentabilidade, que permaneceu, até o fim do ano passado, na base.

“É lamentável que, depois de tudo que aconteceu na política nacional, com compra de votos por benesses do Executivo, ainda haja prática semelhante no DF”, criticou Abrantes.

Negativa
O secretário adjunto de Assuntos Legislativos do Governo do Distrito Federal (GDF), José Flávio de Oliveira, nega que o governo exerça qualquer tipo de pressão sobre os deputados, por respeitar a independência dos Poderes. “Estou há 20 anos nessa função. Sei como cada um dos deputados é e os tenho como meus amigos. Não me prestaria a esse papel”, diz.

Procurada, a assessoria do GDF não havia se manifestado até a última atualização desta matéria.

Barganha
De acordo com Leandro Gabiati, cientista político da Universidade de Brasília (UnB) e diretor da Dominum Consultoria, a política parte do diálogo e da negociação, em todas as partes do mundo. Ele afirma que a troca de cargos, inclusive, é comum em outros países.

“O deputado negocia com o Executivo uma verba, uma indicação, e funciona assim. Não é moral nem eticamente correto, pois se imagina que o parlamentar vote por cunho ideológico ou político, especialmente pensando se um veto é bom ou ruim para a sociedade”, analisa Gabiati.

 

Fonte: Metrópoles

Foto: JP RODRIGUES/ESPECIAL PARA O METRÓPOLES

 

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