Economista alemão, ex-FMI, sugere que a Argentina utilize o real como âncora cambial
Por Ivanir José Bortot
O economista alemão Robson Brooks, ex funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI), sugere que a Argentina ao invés de dolarizar sua economia deveria utilizar o real como âncora cambial.
A economia da Argentina está em um processo inflacionário de mais de 113% ao ano, desequilíbrio fiscal, reservas internacionais insuficientes para garantir o abastecimento interno, uma das causas da inflação descontrolada.
O candidato de direita Javier Milei a Presidência da República da Argentina, nas eleições de outubro próximo, defende a dolarização da economia como solução para a inflação, o combate ao desemprego e retomada do crescimento econômico.
A ideia ganha força junto ao eleitorado mais conservador. Com poder maior de compra, pois é costume desta parcela da população guardar dólar como poupança. São divisas que não fazem parte das reservas oficiais da Argentina de menos de US$ 26 bilhões.
A dolarização poderia trazer a economia da Argentina mais problemas do que soluções. As exportações teriam perda de competitividade, especialmente aquela do setor agrícola e de carnes. O seu Banco Central perderia o instrumento de política monetária, como juros. É verdade que embora tenha em seu poder este instrumento monetário de nada adianta, mesmo como juros de 118% ao ano, no combate à inflação.
A utilização do real como ancora cambial pela Argentina, como sugere Robson Books, é também meio extravagante. Pode ser uma solução menos pior que a dolarização, mas se acompanhada de outras medidas macroeconômicas, como um ajuste fiscal dar certo.
O plano real de combate à inflação adotado pelo Presidente da República Itamar Franco usou a paridade de R$ 1,00 por US$ 1,00. O real poderia variar dentro de uma banda cambial para mais ou menos. Ninguém assumiu que o Brasil tinha adotado um câmbio fixo, mas o quanto poderia variar a cotação do real diante do dólar, fora uma decisão que só Gustavo Franco, diretor e depois Presidente do Banco Central, sabia. A inflação caiu rapidamente por outras medidas adotadas na época, como forte ajuste fiscal, reforma no sistema financeiro.
A adoção do real como ancora cambial daria melhores condições de competitividade as exportações da Argentina. As relações de poder de paridade de compra entre o Brasil e a Argentina podem contribuir para uma ampliação das relações de comércio.
O Banco Central da Argentina, em um sistema de câmbio fixo, teria que intervir no mercado cambial para que a taxa de câmbio permaneça constante vendendo ou comprando real. Para manter a taxa de juro doméstica, a intervenção cambial do banco central deve ajustar a oferta de moeda. Um aumento na produção eleva a demanda por moeda, elevando a taxa de juros e causando a apreciação da moeda doméstica. Se o BC não aumentar a oferta de moeda comprando moeda estrangeira, os juros sobem e a taxa de câmbio aprecia.
Em um regime de câmbio fixo, igualmente, a política monetária é incapaz de afetar a oferta de moeda ou a produção. Um aumento da oferta de moeda leva a uma depreciação cambial e aumento de juros. Como a taxa de câmbio não pode mudar, o BC tem que vender moeda estrangeira para manter o câmbio no patamar desejado.
Um aumento na produção ocasionada por uma política fiscal expansionista aumenta a demanda de moeda. Para evitar um aumento na taxa de juros doméstica e uma apreciação da moeda, o banco central deve comprar ativos estrangeiros com moeda local.
Um aumento das reservas oficiais com ampliação das exportações melhora as transações correntes aumentam as reservas, melhora o balanço de pagamentos. Tudo que a Argentina precisa para pagar sua dívida externa e ampliar as importações para atender o consumo interno com preços controlados.
Fonte: Repórter Brasília, Edgar Lisboa
Por Ivanir José Bortot
Foto: Reprodução