Educação no Brasil “soa como caos”. Beto Richa fez sua parte!

Por Luiz Flávio Gomes (*)


Esta foto, um escárnio como aquele do Sérgio Cabral em Paris e Mônaco (escândalo dos guardanapos), que bem revela a bandidagem das elites do poder, registrou o momento em que Beto Richa, em 2014, na piscina do hotel Delano em Miami, confraternizava sua vitória eleitoral com a nata da rapinagem empresarial acusada de desviar dinheiro das escolas para gastos de campanha, enriquecimento pessoal e desfrute brega da vida, que afinal é muito curta. A foto que promoveu Richa ao estágio de escárnio foi fornecida pelo delator Maurício Fanini (ver Josias de Souza, UOL 9/3/19).

O governo que não começa cumprindo ao pé da letra a Constituição com escola obrigatória e de qualidade para todos, até os 18 anos, em período integral (eu acrescentaria), não é governo, muito menos exemplo de patriotismo; é enganação (qualquer que seja sua linha ideológica: esquerda, centro, direita ou extrema-direita). E se rouba o dinheiro das escolas é uma enganação bandida.

Educação não é só uma questão de progresso individual, senão também o eixo basilar do crescimento econômico (e da prosperidade da nação). Educação de péssima qualidade e baixo crescimento econômico são irmãos siameses. Todo mundo sabe disso, mas continuamos na mediocridade educacional.

Vendo nossos números na educação, não há dúvida que ela “soa como caos”, que é um palíndromo. Palíndromos são palavras ou frases que podem ser lidas de frente para trás ou de trás para frente. É a mesma sequência de letras em qualquer sentido que se faça a leitura. O citado “soa como caos” é um exemplo. Faça o teste. Leia de trás para frente. Reviver, ódio doido, livre do poder vil, mega bobagem, a mala nada na lama, subi no ônibus etc. São incontáveis os palíndromos.

Olhando para todos os que governam ou governaram o Brasil, a educação é um palíndromo em outro sentido: ela é indecente, desigual e abjeta, seja quando focada da esquerda para a direita, seja quando encarada da direita para a esquerda. Nem os governos de esquerda nem os de direita entenderam a relevância da educação, que é obrigação do Estado e da família.

Em matéria de educação, governo, povo e partido no Brasil é praticamente tudo sem escola de qualidade; quando há escola, não se cultiva o estudo sério. Desde o ensino dos jesuítas é assim.

A questão não é cantar o Hino Nacional (que tem apoio de 62,4%, conforme o Instituto Paraná Pesquisas), como papagaios, é entendê-lo (palavra por palavra). Norma da era petista já exigia o canto do hino uma vez por semana. Filmar crianças nas escolas é falta de estudo. Estudo da Constituição e do ECA, que proíbem isso.

Exigir slogan de campanha eleitoral nas escolas é criar a Escola com Partido. Também a Constituição proíbe (art. 37). Num país onde todos descumprem a Constituição, o milagre é a existência de gente que acredita no futuro da nação (diria Renato Russo com o Legião Urbana).

Nosso grave problema, como se vê, ou é a falta de escola ou é a falta de estudo nas escolas. No dia em que lutarmos todos pela escola com estudo, todos compreenderemos a falta de sentido da Escola sem Partido. Porque somos todos contra a doutrinação (incluindo a doutrinação e a lavagem cerebral anunciada pelo próprio MEC); o que queremos é estudo de qualidade universalizado, pelo menos o ensino básico (até os 18 anos).

Os gastos com a educação no Brasil ($ 130 bilhões de reais por ano, quase 6% do PIB; estamos no grupo dos 20% que mais gastam em educação) são maiores que a média dos países ricos? São. Há muita corrupção também na educação? Sim. Tudo isso tem que ser devidamente apurado? Não há dúvida. Quem seria contra, senão os próprios bandidos?

Mas o fundamental é como os gastos são feitos, qual tem sido a prioridade do ensino e o quanto de analfabetismo (formal ou funcional) nossas escolas produzem. É isso que temos que enfrentar.

Pais que não foram para a escola ou que não estudaram quando passaram por ela não compreendem, justamente por falta de estudo, que o estudo sério, que gera aprendizagem válida para toda vida, garantindo emprego e bons salários, “é um trabalho muito cansativo, com um tirocínio particular próprio, não só intelectual, mas também muscular-nervoso: é um processo de adaptação, é um hábito adquirido com esforço, aborrecimento e até mesmo sofrimento” (C. Calligaris, Folha 28/2/19).

Quem diz que os presos deveriam trabalhar (logo se pensa em trabalhos viáveis dentro da prisão) deveriam também entender que o estudo é um trabalho muito duro, quando levado a sério. O afrouxamento do estudo, suas facilidades, aprovações sem provas, ou seja, sem méritos, escolas sem o ensino da ética, da disciplina e da moral, são resultado de políticas equivocadas, que confundem recreio com estudo.

Escola com estudo sério, persistente, é isso que faz com que o ser humano não venda para o mercado de trabalho somente sua força muscular, corporal, dos braços e das pernas. É isso que o faz mais que um corpo, um espírito. A geração que não estuda pra valer não consegue transcender o destino dos seus pais que não foram para a escola ou que não estudaram com afinco.

Não se aprende matemática, ciências, português, música, dança, futebol, línguas ou informática sem “responsabilidade no estudo”, na aprendizagem. O problema é que nossas escolas, em regra, não sendo de período integral, não vêm sendo programadas para estudar, tal como se vê nas experiências de vários países orientais (Coreia do Sul, Japão e tantas outras) e até mesmo no Brasil (Sobral, Espírito Santo etc.).

Aprendemos rudimentarmente nossos direitos e focamos muito pouco nos nossos deveres. A começar pelo dever de estudar com intensidade. Escola com estudo sério é a solução. Qual “mão invisível” está impedindo que isso aconteça no Brasil?

Sobre Luiz Flávio Gomes: Criador do movimento de combate a corrupção, “Quero um Brasil Ético”. Doutor em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade Complutense de Madri. Mestre em Direito Penal, pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Foi Delegado de Polícia aos 21 anos, Promotor de Justiça aos 22 e Juiz de Direito aos 25, exerceu também a advocacia. Fundou a Rede LFG, democratizando o ensino jurídico no Brasil. Doutor em Direito Penal, jurista e professor. Publicou mais de 60 livros, sendo o seu mais recente “O Jogo Sujo da Corrupção”. Foi comentarista do Jornal da Cultura. Escreve para sites, jornais e revistas sobre temas da atualidade, especialmente sobre questões sociais e políticas, e seus desdobramentos jurídicos.  Em 2018 candidatou-se pela primeira vez com o objetivo de defender a Ética, a Justiça e a Cidadania. Eleito Deputado Federal por São Paulo – PSB com 86.433 votos. 

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Fonte: Assessoria de Imprensa – Foto: Arquivo pessoal

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