Em grave crise financeira, UnB estuda demissões e redução de subsídios

 

Medidas polêmicas como corte de estagiários e terceirizados, além do aumento dos preços do Restaurante Universitário (RU), estão a caminho

A Universidade de Brasília (UnB) atravessa uma das piores crises financeiras da história. As contas não fecham e a estimativa é de que o rombo de 2018 fique em R$ 92,3 milhões. Para tentar equilibrar as finanças, a instituição já fez os cálculos de quanto vai precisar cortar em despesas: R$ 39,8 milhões. Em contrapartida, terá de aumentar a receita em R$ 50,8 milhões, o que inclui remanejamentos orçamentários.

Algumas medidas polêmicas, como o aumento dos preços praticados pelo Restaurante Universitário (RU), o corte de estagiários e terceirizados, estão a caminho. Em nota, a universidade admitiu o ajuste nos contratos de prestação de serviços, “que estão muito além da real capacidade de pagamento”. Isso envolve demissões e é motivo de protestos.

Nessa segunda (26) trabalhadores da limpeza da universidade cruzaram os braços e fizeram uma manifestação contra o provável desligamento de 242 funcionários da RCA Serviços. De acordo com o coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), Maurício Rocha, a quantidade representa 55% do efetivo da categoria. “Nós achamos que mesmo com um corte no orçamento, é possível negociar, evitar as demissões”, disse o sindicalista.

O Sintfub denuncia que, desde o segundo semestre de 2016, cerca de 1.500 empregados da UnB foram desligados. Além dos trabalhadores da limpeza, vigilantes, copeiros e motoristas também estão ameaçados. “Vamos exigir uma mesa de negociação com a reitora”, diz Maurício Rocha.

A estimativa do Tesouro para as despesas de manutenção, neste ano, é de R$ 137 milhões, e os contratos somam R$ 214 milhões. Em 2017, o valor repassado foi o mesmo. Mas no ano anterior, a universidade recebeu cerca de R$ 217 milhões do Tesouro, o que mostra o corte substancial nos períodos subsequentes.

“O orçamento para custeio vindo da fonte do Tesouro, ou seja, para manutenção da universidade, vem sendo reduzido pelo governo, inclusive não contemplando a recomposição da inflação. As dificuldades desse corte são dramáticas e afetam desde a qualidade da limpeza nas instalações até a oferta de estágios aos estudantes”, destacou a instituição, por meio de nota.

A UnB garante estar dialogando com professores, técnicos e estudantes, informando sobre a situação orçamentária – agravada em todas as universidades federais devido à emenda constitucional que limitou os gastos públicos. A tesoura alcançou não só as verbas de custeio como de investimentos.

“A longo prazo, isso prejudica o desenvolvimento de qualquer instituição de ensino, pois há risco de ter laboratórios e bibliotecas defasados, com consequências dramáticas para a realização de pesquisas e a formação de estudantes”, afirmou a UnB.

Sobre as demissões, a administração informou que “se solidariza com a situação dos trabalhadores e reitera que conta com o apoio de toda a comunidade para enfrentar este momento de dificuldades”.

Na última sexta-feira (23), foi realizada reunião com diretores e gestores da instituição, com o objetivo de alertá-los acerca da delicada situação orçamentária que a universidade enfrenta. Para a próxima quinta (29), está prevista uma apresentação pública detalhando os problemas da universidade.

Parcerias e união
A crise, claro, preocupa toda a comunidade universitária. O presidente da Associação dos Docentes da UnB (AdUnB), Virgílio Arraes, disse, em nota, que “a despeito dos baixos salários e de outras condições insatisfatórias, o professorado tem mantido seu compromisso com ensino, pesquisa e extensão, componentes essenciais da cidadania”.

Por sua vez, o presidente da Associação dos Servidores da Fundação Universidade de Brasília (Asfub), Herbet Mota, defende que, inicialmente, caso o corte de funcionários terceirizados de fato ocorra, o impacto gerado não deverá atrapalhar o andamento dos trabalhos do órgão.

“Nossa arrecadação deverá ser reduzida entre 12% e 15%. Pessoalmente, acredito que falta iniciativa por parte da administração para tentar buscar parcerias e atrair investimentos, permitindo a melhoria dos serviços ofertados pela UnB”, pondera Mota.

A universidade também rediscute a política de subsídios do Restaurante Universitário. Com isso, o preço do bandejão pode ficar mais salgado. A decisão será tomada pelo Conselho de Administração.

“Fizemos um ato e a reitoria parece ter recuado nessa ideia. Compreendemos que não é culpa exclusivamente da administração, mas não vamos aceitar que ocorram esses cortes que prejudicam toda a comunidade acadêmica”, relatou a coordenadora-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Katty Ellen da Costa.

Em relação aos estagiários, a UnB explicou, também por meio de nota, que vai descentralizar os contratos. Em vez de serem bancados pela administração, passarão a ser geridos pelas unidades acadêmicas.

No ano passado, as contas da universidade também ficaram no vermelho. O repasse do Tesouro foi de R$ 105,9 milhões, 43,7% a menos do que em 2016 (R$ 188 milhões). A UnB é uma das instituições públicas de ensino superior mais importantes do país: tem 38.364 alunos, 157 cursos de graduação e 154 de pós-graduação.

Por enquanto, os cortes não devem alcançar o funcionamento dos cursos. “A UnB vem negociando ajustes e mudanças de forma a preservar a manutenção das atividades-fim da instituição: o ensino, a pesquisa e a extensão de qualidade”, informa a instituição, por meio de nota.

 

Fonte: Metrópoles

Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

 

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