Empreendimento da família Jarjour invade área na orla do Lago Paranoá

 

Uma cerca viva de pelo menos dois metros de altura até tenta disfarçar a dimensão da obra em andamento no Lote 11 do Trecho 2, no Setor de Clubes Sul. No entanto, um olhar mais atento perceberá que ali está em curso empreendimento de grande porte. Às margens do Lago Paranoá, a construção já alcançou o terceiro pavimento. O negócio está em nome da empresa Jarjour Veículos e Petróleo Ltda, pertencente à família do pré-candidato a deputado distrital Thiago Jarjour. Até o dia 6 de abril, ele era o secretário de Ciência e Tecnologia do governo de Rodrigo Rollemberg (PSB).

O registro oficial do imóvel na Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) aponta que o terreno tem área total de 4.445m². Mas, na prática, foi cercado um lote muito maior. O Google Maps ajuda a evidenciar que o espaço ocupado pela empresa (8.600m²) é quase o dobro do informado no documento, segundo revela o satélite de georreferenciamento.

Confira:

 

Segundo a Terracap, naquela região só podem ser construídos negócios ligados a clubes ou entidades esportivas – justamente os termos que foram adulterados no documento contestado pela CAP.

Também são questionados a taxa de ocupação e o afastamento mínimo obrigatório da orla. A legislação local estabelece um recuo de 10 metros em caso de restaurantes e de 5 metros quando se trata de clube. Com relação ao empreendimento da família Jarjour, a cerca encosta na margem do Lago Paranoá, impedindo a passagem.

A Administração do Plano Piloto informou à coluna, por meio de sua assessoria de imprensa, que não “existe licença de obra para o Lote 11”. Mas o fato é contestado pela família Jarjour, que toca o projeto, amparada na autorização emitida em 2011. Com base no mesmo documento, a Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) informou que a edificação possui alvará de construção e estaria regular. No lugar, está sendo projetado um complexo de restaurantes. Um deles, de comida chinesa.

Veja imagens da obra:

 

Empresário admite ocupação irregular
Embora não haja consenso dentro do próprio governo sobre a legalidade da obra que brota em endereço nobre de Brasília, a ocupação está explicitamente acima do permitido. Fato, inclusive, admitido pelo proprietário do empreendimento.

Em entrevista à Grande Angular, Abdalla Jarjour reconheceu que “expandiu os limites do lote”. Enviou à reportagem uma foto do que corresponderia oficialmente ao seu terreno, de medida francamente inferior à área cercada. Ele justificou a invasão com base nos problemas de segurança enfrentados no DF.

“Há diversos relatos de amigos que tiveram suas propriedades invadidas e foram vítimas de violência após o recuo das cercas em razão do Projeto Orla”, disse Jarjour. E reforçou: “O alvará eu tenho, o que se pode encontrar ali é um área verde que eu cerquei com paisagismo, bem-cuidada e que vai ser de livre circulação depois que a obra estiver pronta”. Ele é um crítico contumaz da medida do governo para permitir o livre acesso ao Lago Paranoá.

Essa, aliás, é uma das principais bandeiras do governo que o filho dele integrava até recentemente. Thiago Jarjour vai disputar as eleições pelo partido de Rollemberg. Segundo relatos de funcionários dos órgãos que têm alguma ingerência sobre a construção no Lote 11, Thiago conversou pessoalmente com servidores sobre o projeto, em nome de sua família.

“Sendo quem é, um [agora ex] secretário de governo, ele não poderia jamais pedir qualquer facilitação para um empreendimento de parentes”, disse um servidor, que pediu para ter o nome mantido em sigilo por temer algum tipo de retaliação.

Thiago Jarjour afirmou que desconhece os projetos da empresa de sua família. Indicou seu pai para responder pelo negócio e negou categoricamente que tenha, em qualquer circunstância, interferido junto ao Governo do Distrito Federal em favor do empreendimento familiar. “Me desliguei completamente assim que assumi um cargo no Executivo. Não articulei com qualquer pessoa em nome de meus familiares”, disse.

Confira o alvará apresentado pelo empresário:

Veja o despacho da Central de Aprovação pedindo a revisão do licenciamento: 

 

 

Fonte: Metrópoles
Foto: Gabriella Furquim/ Metrópoles

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