Festival de Nova Orleans confronta o passado e o presente do jazz

 

Entre os destaques da programação, estão Terrace Martin e Archie Shepp

Entre as mais de 70 atrações desta quinta (3) no New Orleans Jazz & Heritage Festival, dois shows programados para a tenda dedicada ao jazz moderno chamaram atenção por representarem, de certo modo, um diálogo entre o presente e o passado desse centenário gênero musical.

Primeiro foi o show de Terrace Martin, 39, saxofonista, rapper e produtor de Los Angeles, conhecido por suas parcerias com os rappers Kendrick Lamar e Snoop Dog, assim como por colaborações com os jazzistas Kamasi Washington e Billy Higgins.

Em seguida subiu ao palco o lendário saxofonista, cantor e professor universitário Archie Shepp (foto), 80, um dos últimos expoentes da geração que criou o politizado “free jazz” -a vertente de vanguarda do jazz.

Como bom rapper que é, Martin fala quase tanto quanto toca seu sax alto ou os teclados eletrônicos. Entre uma música e outra, elogiou bastante os colegas da banda, que inclui o baixista MonoNeon. Também brincou com a plateia e logo a conquistou ao se referir à emoção de tocar pela primeira vez em Nova Orleans.

Não era apenas conversa mole de rapper. Ao anunciar sua composição “Untitled File”, chamou ao palco o trompetista Nicholas Payton, um dos jazzistas de Nova Orleans mais respeitados na cena mundial do jazz, cobrindo-o de afagos. Outro ponto alto do show foi uma versão bem livre de “Butterfly”, composição do veterano pianista Herbie Hancock.

Martin vem trabalhando com ele desde 2015, num aguardado álbum que deve incluir o produtor Flying Lotus e o baixista Thunderbird entre outros badalados nomes da geração que mistura jazz com hip hop e música eletrônica.

Num dia pouco feliz, Archie Shepp já entrou no palco ao estilo de Tim Maia, reclamando com os técnicos da sonorização. Para alívio da plateia, sua expressão ranzinza se suavizou um pouco ao abrir o show com uma composição em homenagem ao saxofonista John Coltrane, seu grande mentor musical.

Outro tema que remeteu à fase mais radical da carreira de Shepp foi “Revolution”, composição que destaca um raivoso poema de sua autoria. Mas hoje, em termos de linguagem, sua música está bem distante das arritmias e do atonalismo do free jazz. Daquela fase só restou, praticamente, o hábito de borrar as notas do sax com tremidos do maxilar.

Não deixa de ser uma ironia que o número mais aplaudido do show tenha sido justamente o mais tradicional: uma versão de “Don’t Get Around Much Anymore”, clássico do jazzista Duke Ellington, que Shepp canta com roucos trejeitos vocais de blueseiro.

No programa de ontem também se destacou uma atração com músicos locais. Intitulado “A Arte da Voz”, o show comandado pelo pianista Larry Siebert reuniu saborosos arranjos de clássicos do jazz (“My Funny Valentine”) e da soul music (“September”), com destaque para os vocais de Yolanda Robinson, Tonya Boyd-Cannon e JarrellB. O que não falta na cena musical da cosmopolita Nova Orleans é diversidade. Com informações da Folhapress.

 

Fonte: Notícias Ao Minuto

Foto: DR

 

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