Galeria de São Paulo expõe relevos em papel de Ferreira Gullar

 

O poeta manteve sempre uma relação com as artes plásticas

Papéis pendurados nas paredes, cadeiras ocupadas por coisas e mesas cheias de obras. É assim que o apartamento de Ferreira Gullar (1930-2016) em Copacabana é lembrado por aqueles que conviveram com o escritor.

A cristalinidade e o ordenamento intelectual de Gullar não eram notáveis naquele espaço, diz Peter Cohn, dono da Dan Galeria, que exibe, na mostra “Relevos”, 84 obras em papel feitas pelo poeta.

Mas talvez o ambiente fosse propício para provocar o acaso de onde, dizia Gullar, nasciam seus relevos.

Era, aliás, sua posição com respeito a toda obra de arte, expressa em entrevistas e em vários textos na Ilustrada -o poeta foi colunista do caderno de 2005 até sua morte.

“Um dia, estava recortando papel verde para fazer uma espiral, mas a folha virou e o outro lado era cinza”, disse Gullar à Folha em 2014.

Para Cohn, porém, não pode ser casual a origem das obras em cartaz desde o dia 9/6.

“Sua precisão e o padrão utilizado mostram que seu trabalho era muito pensado”, diz.

Leonel Kaz, que assina texto de abertura da mostra, completa: “A ideia precisa e direta é como a escrita de Gullar”.

Kaz é, ao lado de Lucia Bertazzo, editor da UQ Editions, que realiza a mostra com a Dan. Foi uma parceria anterior entre galeria e editora que trouxe a público pela primeira vez os relevos de Gullar.

Em 2014, 60 peças derivadas do conjunto agora exposto foram transpostas para o aço e apresentados no livro “A Revelação do Avesso”.

Cohn vê relação entre os relevos e a obra talvez mais famosa de Gullar, o “Poema Sujo”, de 1976. Como o texto, o trabalho em papel, na visão do galerista, é visceral. “Tão visceral que se abre e expõe.”

Além disso, ele vê, nas formas retorcidas, semelhanças com a “Unidade Tripartida”(1948/49), de Max Bill.

A escultura em metal do artista suíço, diz, assim como os relevos de Gullar, “mostra um percurso, que começa e não tem fim”.

Nas obras de “Relevos”, ficam visíveis imperfeições derivadas do trabalho manual. Para Kaz isso não diminui o resultado obtido por Gullar, que, diz, sempre trabalhou com coerência ética e dignidade e, “nunca tornaria público algo em que não acreditasse”.

A revelação artística tardia na vida, diz Kaz, não pode ser interpretada como repentina ou oportunista.

Gullar manteve sempre uma relação com as artes plásticas e foi o responsável pela redação do Manifesto Neoconcreto, que em 1959 lançou o movimento que consagraria Lygia Clark (1920-1988).

Para resumir a trajetória do escritor e artista, Kaz evoca uma frase que o pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) costumava dizer: “Todo artista só faz uma obra”.

RELEVOS: Dan Galeria

ONDE: Estados Unidos, 1.638. Até 14/7

QUANDO: Seg. a sex. das 10h às 19h e sáb. das 10h às 13h

QUANTO: Grátis.

Com informações da Folhapress.

 

Fonte: Notícias Ao Minuto

Foto: Reprodução

 

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