Investigações policiais ameaçam mãos limpas de Rollemberg
Do governador Rodrigo Rollemberg ouve-se, com frequência, que “pelo menos é honesto”. De outros candidatos também se diz que “pelo menos” são assim ou assado, “pelo menos” farão isso ou aquilo. Diante da rejeição aos governantes e aos políticos, da insatisfação generalizada e do desalento pela falta de perspectivas, muitos eleitores encontram no “pelo menos” uma justificativa para votar em alguém.
O governador Rodrigo Rollemberg sabe, porque recebe regularmente pesquisas de opinião e porque tem instinto político, que os brasilienses veem nele três atributos positivos: é boa gente, bem-intencionado e honesto. Em contrapartida, Rollemberg é considerado incompetente, inoperante, sem autoridade e atitude, indeciso, não cumpridor de acordos e com dificuldade de dialogar.
Assim, é natural que o governador e seus estrategistas de campanha queiram explorar ao máximo a imagem que ele tem de gestor honesto. Não é pouca coisa, considerando-se o que inúmeras operações policiais, ações do Ministério Público e decisões judiciais têm mostrado, com a corrupção disseminada em todo o país e em todos os níveis.
Aqui em Brasília há notícias de ilícitos graves e desvios de dinheiro público em todos os governos, mas foi a partir da chamada Operação Caixa de Pandora, no governo de José Roberto Arruda, que as acusações e denúncias ganharam maior dimensão. Os casos mais recentes envolvem, principalmente, corrupção na construção do estádio, do centro administrativo e de um conjunto habitacional, ocorridas nas últimas gestões.
Vale a pena, aliás, lembrar que quando disputaram a reeleição, em 2014, o então governador Agnelo Queiroz e o então vice-governador Tadeu Filippelli não sofreram acusações de corrupção. Durante o mandato não houve denúncias graves contra eles, apenas episódios pontuais, como o do PM João Dias, e suspeitas. As prisões de Agnelo e Filippelli ocorreram já no atual governo.
O critério do “rouba, mas faz”
Embora ainda existam os que defendam o “rouba, mas faz” como critério para o voto, e os que critiquem os malfeitos dos políticos, mas os praticam em seu cotidiano, há na população um sentimento generalizado de repulsa à corrupção e aos corruptos. Ser honesto é o requisito número um quando se pergunta ao eleitor qual o perfil de um futuro governador.
É disso que Rollemberg quer se aproveitar quando denomina de “Mãos Limpas” sua coligação para as eleições de outubro. Quer, obviamente, identificar sua chapa como honesta, ficha-limpa, sem denúncias e processos, e assim diferenciá-la das integradas ou comandadas por políticos que não podem alardear a mesma coisa.
Quando Jofran Frejat era candidato, Rollemberg o atacava por estar participando de uma articulação política liderada pelo ex-governador Arruda, pelo ex-vice-governador Tadeu Filippelli e pelo ex-deputado Valdemar da Costa Neto, condenado pela Lava Jato, entre outros. Ao desistir da candidatura, Frejat falou dos demônios que o assolavam, mas não os nomeou. O que o governador quer mostrar é que os demônios agora estão espalhados em outras chapas.
“A ênfase na honestidade é uma tentativa de Rollemberg de levar a campanha eleitoral para seu campo, mãos limpas versus mãos sujas. Mas, já no dia seguinte ao lançamento da coligação, o governador sofreu o primeiro revés: a operação da Polícia Civil, chamada de 12:26, que teve como alvos assessores muito próximos dele, com gabinetes no Buriti, e um administrador regional, além de empresários“
Em apenas um dia, ficou evidente o erro político de chamar a coligação de “Mãos Limpas” – ao qual se soma, subjetivamente, a falta de criatividade. Realçar a honestidade como principal virtude de sua gestão leva para Rollemberg o risco de ser desmentido por mais denúncias que, em uma campanha eleitoral radicalizada e com 10 adversários, não precisarão ser comprovadas e concluídas, sob o ponto de vista jurídico. O aspecto político prevalecerá.
Carência de resultados
Além disso, honestidade na gestão é obrigação de qualquer governante, não é atributo a ser ressaltado. É claro que ser honesto é um mérito para um político, diante de tanta roubalheira, mas elevar essa qualidade ao nível de principal bandeira eleitoral de um candidato à reeleição é reduzir a sua plataforma a um procedimento ético, por cima de resultados – o que se explica, mas não se justifica, pela carência de resultados significativos dessa gestão.
Um governo em que haja corrupção e desonestidade não pode ser um bom governo, ainda que tenha realizações positivas a mostrar. Mas um governo honesto e sem corrupção não é necessariamente um bom governo. Um governante desonesto é um mau governante, mas um governante honesto não é automaticamente um bom governante.
Não há, também, como Rollemberg esconder que sua prática de lotear o governo entre parlamentares levou a alguns casos de corrupção em secretarias e administrações regionais que não o atingiram diretamente, mas que não deixam as mãos tão limpas quanto quer mostrar. A velha e má política, exercida pelo governador, tem repercussões éticas negativas.
Rollemberg, para se reeleger, tem de apresentar mais do que a imagem de honestidade. Não bastará repetir a já conhecida lista de realizações que apresenta por onde vai. Terá de mostrar que o segundo mandato não será como foi o primeiro e torcer para que as operações policiais não desmintam o argumento de que “pelo menos, é honesto”.
Fonte: Metrópoles
Por Hélio Doyle / Ponto de Vista
Foto: Reprodução