Isabel Swan fala da importância da atuação dos atletas na gestão esportiva

Convidada pela ONG Atletas Pelo Brasil, medalhista olímpica escreve artigo após ser eleita para integrar a Comissão de Atletas da Panam Sports, entidade que gere o esporte olímpico nas Américas

“Recentemente fui eleita, durante os Jogos Pan-americanos, para a comissão de atletas da PanAm Sports. Fui a única atleta brasileira a entrar com a candidatura, principalmente por acreditar que precisamos de representatividade internacional. Este momento ímpar em nossa história é muito importante, não apenas pela continuidade e renovação da comissão de atletas, mas também por uma brasileira ter sido a mais votada dentre tantos fortes candidatos. Nunca é demais lembrar que, apesar do nosso tamanho e relevância, somos o único país de língua portuguesa em meio a um grupo de nações que falam espanhol.

O crescimento da parcela de ex-atletas envolvidos com a gestão de esportes é muito significativo, em todos os níveis – clubes, federações e confederações. Eu acredito na representação do atleta no nosso país. Para assegurar que não haja injustiças e o recurso disponível seja aproveitado da melhor forma possível para a promoção do esporte e difusão de seus valores é nosso norte.

Mas, por outro lado, é essencial que o atleta, além de competir, passe a se interessar mais sobre a gestão no esporte, a se informar e, principalmente, a participar. É difícil, pois quando estamos ainda competindo estamos focados no esporte em busca de resultados e depois, quando paramos de competir, estamos lutando por uma, muitas vezes difícil e desafiadora transição de carreira. Um caminho que pode unir os dois cenários, é a capacitação do atleta e a sua participação na busca por contribuir diretamente na gestão esportiva do país. Mas isso exige tempo estarmos realmente compromissados com propósito de desenvolvimento do esporte.

Com a atuação da Atletas pelo Brasil, uma instituição independente formada por atletas e ex-atletas de grande representatividade nacional e o Pacto pelo Esporte, formado por grandes empresas patrocinadoras, foi possível implementar a lei 18-A, que garante a participação do atleta em conselhos, a alternância de gestão, e a exigência por mais transparência e acesso a todos as informações das entidades esportivas. Também foram barradas MPs como a 841, onde recursos provindos de loterias seriam retirados do esporte de base. Temos muita força atuando juntos. O atleta é o ator que será diretamente atingido por uma boa ou má gestão do esporte, e tem um trunfo: sua representatividade e influência.

Nesse sentido, é necessário que o atleta ocupe seu espaço e realmente atue em prol do esporte nacional. O Brasil carece de referências, de divulgação de boas histórias que inspirem e formem novos cidadãos e por isso, devemos “arregaçar a manga” e ajudar a mudar nosso país.

Uma das boas práticas de governança corporativa é juntar diferentes stakeholders para tomada de decisão colegiada. Durante a forte mudança do Comitê Olímpico Brasileiro, tivemos uma oportunidade de mudança de estatutária importante. Participei diretamente dessas reuniões de mudanças estatutárias. Tínhamos uma brecha para aumentar a nossa representatividade. Nesse cenário conseguimos passar de uma cadeira para o presidente da comissão de atletas na Assembleia Geral para 12 cadeiras ocupadas por atletas votantes em Assembleia Geral.

Agora, 1/4 dos votos totais são dos atletas e juntos podemos realmente influenciar e decidir uma votação. Isso representa uma mudança muito significativa, dentro de um cenário internacional, onde hoje, apenas 50% dos países do continente americano tem uma Comissão de Atletas formalizada e poucos países têm a participação de atletas em conselhos. Mesmo no Brasil, a participação do atleta na política e administração do esporte precisa aumentar. Apesar de todas essas mudanças, ainda temos uma cultura de distanciamento entre os que praticam e os que administram o esporte.

Confesso que não esperava ser a atleta mais votada e estou feliz com a responsabilidade que é representar nosso país internacionalmente. Vou contribuir diretamente na ajuda de outros países a melhorarem a participação dos atletas visando diminuir o gap que existe entre a visão do atleta, sua participação na tomada de decisão e o efetivo desenvolvimento e gestão esportiva. Vamos, que o rumo é certo!”

* Isabel Swan, ao lado de Fernanda Oliveira, conquistou a primeira medalha olímpica da vela feminina, de bronze, nos Jogos de Pequim 2008. Em 2009 representou os atletas com um discurso marcante na apresentação da candidatura brasileira para sediar os Jogos Rio 2016. É membro da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico do Brasil e da PanAm Sports.

Fonte: Atto Comunicação – Por Jade Fellows – Foto: Divulgação

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