Isto é DF: há 30 anos, comunidade rural implora asfalto ao governo
Cerca de 12 mil pessoas de um povoado sofrem diariamente com a situação precária do único acesso que os leva à área urbana do Gama
Três décadas. Durante os últimos 30 anos, moradores do Jardim Serra Dourada imploram ao Governo do Distrito Federal (GDF) por asfalto na estrada vicinal 383, único acesso do núcleo rural à área urbana do Gama. Sem opção de trajeto, as famílias residentes no local se arriscam diariamente no trecho, de cerca de 8 quilômetros. A situação é tão precária que passageiros de ônibus de uma das poucas linhas da região usam máscaras cirúrgicas e levam paninhos molhados, na tentativa de minimizar a poeira no interior dos coletivos.
Para motoristas, vencer o percurso requer perícia ao volante e muita paciência. A via está completamente irregular, cheia de buracos, bancos de terra e muita poeira. A vizinhança classifica a situação como caótica e apela para o Palácio do Buriti determinar uma intervenção na rodovia.
O auxiliar de enfermagem Luiz Roberto de Almeida reside no lugar há mais de 20 anos. Segundo ele, a estrada de chão é fundamental para o povoado, pois dá acesso à Escola Ponte Alta de Cima, ao Setor de Chácaras, ao Convento Rosa Mística e ao Jardim Maracanã. O asfalto tão aguardado contemplaria entre 8 mil e 12 mil pessoas diretamente.
“A situação é horrível. As famílias estão desesperadas, pois saem para trabalhar, pegam ônibus e chegam vermelhas de barro em seus destinos. Os estudantes vão para a escola com os uniformes imundos e, em razão disso, sofrem bullying. Nós queremos uma solução definitiva.” Luiz Roberto de Almeida, morador do bairro e auxiliar de enfermagem
Um vídeo feito por um morador mostra as dificuldades de se transitar na via. A poeira é tanta que chega a tirar a visão do condutor.
Veja:
Acidentes
Segundo a comunidade, acidentes ocorrem com frequência no local. Os habitantes dizem que o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) é responsável pela manutenção, mas intervenções paliativas não duram mais de três dias.
Ainda de acordo com os moradores do Jardim Serra Dourada, a situação agravou-se após o GDF liberar a concessão de uso e exploração de uma cascalheira às margens da estrada. Com o constante fluxo de caminhões, o DER não consegue atender a demanda de reparos na via.
“Isso tudo gera impacto para a comunidade. Os carros estão quebrando, os acidentes ocorrem todos os dias, as nossas crianças adoecendo. A poeira tem sido muito prejudicial e vários moradores estão tendo problemas respiratórios”, comenta Luiz.
Na manhã de segunda-feira (23/7), o Metrópoles esteve no local e constatou o problema. Quem vive na região pede prioridade no serviço de pavimentação. “Todo dia é a mesma coisa. Nós não vemos nem sinal de obras por aqui. As pessoas estão se acidentando. Um motociclista quebrou a bacia após perder o controle da moto e está usando cadeira de rodas. É uma luta diária viver aqui”, comenta o agente patrimonial Inácio Moreira, 55 anos.
O auxiliar de escritório Luan Guilherme Vermeuleu Lima, 21, precisa de sua motocicleta para assistir às aulas do curso de história na Universidade de Brasília (UnB), mas diz que se tornou inviável andar pela via com o veículo. “Eu transito de moto nesta estrada e tenho até deixado de andar porque, se de carro é perigoso, para motocicleta é pior ainda. Estão se formando uns bolsões de terra fina, e eles derrubam qualquer um, a roda desliza. Sem contar o fator poeira, que tira totalmente a nossa visão.”
Veja imagens da estrada:
Cascalheira
De acordo com moradores do núcleo rural, há algumas semanas ocorreu uma reunião entre representantes do DER e da mineradora que administra a cascalheira. Na ocasião, um dos empresários ofereceu 300 caminhões de cascalho para a manutenção da estrada, mas o órgão teria informado não ter estrutura para fazer os reparos necessários.
Em entrevista ao Metrópoles, o dono da Terranova Mineradora, Laerte de Almeida Lopes, comentou que a estrada sempre foi ruim. “O fluxo de caminhões tende a piorar, mas a culpa recaiu toda em cima da gente. A comunidade alega que, após a cascalheira abrir, a estrada acabou, mas isso não procede, pois ela é péssima há 30 anos”, rebate.
Ainda de acordo com Laerte, a empresa tenta negociar com o DER uma solução para o impasse. “Vamos doar uma quantidade de cascalho para fazer os reparos nas partes mais críticas. Depois disso, o DER vai ter que assumir uma posição”, afirma.
O outro lado
Por meio de nota, o DER informou que a manutenção da vicinal 383 é feita mensalmente e, conforme ressaltou, a deterioração da estrada se deve ao aumento do fluxo de caminhões no local. O órgão também garantiu estar aberto a uma parceria com a mineradora, mas não cravou prazo para uma solução definitiva.
“O DER fará uma reunião para estudar uma possibilidade de acordo junto à empresa a fim de melhorar a manutenção da via. Não há previsão para pavimentação em definitivo”, destaca o texto.
Fonte: Metrópoles
Foto: JP Rodrigues/Especial para o Metrópoles