Izalci registra em cartório barraco histórico do PSDB
Ameaçado por ações judiciais movidas por correligionários que tentam destituí-lo da presidência regional do PSDB, o pré-candidato ao Buriti e deputado federal Izalci Lucas registrou em cartório mais de 8 mil mensagens trocadas por integrantes do seu partido no grupo de WhatsApp intitulado PSDB DF. Com 71 integrantes, o espaço virtual reunia tucanos históricos da capital, como a ex-governadora Maria Abadia, o ex-distrital Milton Barbosa, o ex-presidente da sigla no DF, Márcio Machado, e até o médico Agamenon Martins Borges, investigado por suposto envolvimento na Máfia das Funerárias.
Ao todo, o material levado a cartório por Izalci é quase um dossiê, com mais de 500 páginas de conteúdo abrangente: correntes de oração, notícias falsas, piadas de gosto duvidoso e, principalmente, ataques e trocas de acusações no ninho tucano brasiliense.
De acordo com a ata notarial do 1º Ofício de Notas e Protestos de Brasília (veja cópia abaixo), Izalci desembolsou pouco mais de R$ 100 para dar fé pública ao conteúdo virtual. Com o investimento, ele registrou no cartório todas as mensagens postadas no grupo entre os dias 28 de agosto e 5 de dezembro de 2017, quando os administradores desistiram de tentar pôr ordem no espaço e resolveram extingui-lo.
Reprodução
Pouco antes do cancelamento no aplicativo, um dos membros definiu o grupo PSDB DF como uma “arena sanguinária de ofensas e humilhações”. Não é para menos. Ataques virulentos, ofensas, acusações e ameaças dão o tom de boa parte do conteúdo registrado em cartório por Izalci.
Barracos
As discussões que mais alvoroçaram o ninho virtual dos tucanos brasilienses foram questões internas do PSDB-DF: eleições para a escolha do presidente da Executiva local e da Juventude da sigla. Também movimentou o bate-papo o rompimento da ex-governadora Maria de Lourdes Abadia com correligionários e sua aproximação do governador Rodrigo Rollemberg (PSB).
No dia 28 de setembro de 2017, logo após ser anunciada a manutenção da Executiva Extraordinária presidida por Izalci, sem eleições, Abadia reagiu escrevendo no espaço:
“Como vamos enfrentar os adversários e eleger tucanos em 2018? Torre de Babel, cada um fala uma língua, grupos, indivíduos agressivos. Filiados deixando o partido… Impugnação de filiados. Reuniões marcadas de última hora, na calada da noite. Decisões tomadas sem consultas, sem discussão. Autoritárias, com medo de eleições entre companheiros… Como posso estar motivada? Minhas esperanças foram enterradas”
A ex-governadora foi acompanhada por outros integrantes do grupo, que cobraram eleições para a formação da Executiva distrital. As votações não ocorrem há 7 anos. “Já que o deputado tem uma popularidade tão boa entre os moradores do Distrito Federal, por que não disputar eleições internas do próprio partido?”, escreveu o filiado Alexandre Matias.
No mês seguinte, o anúncio de que Abadia iria ocupar um cargo no Governo do Distrito Federal (GDF), ao lado do socialista Rollemberg, voltou a movimentar o espaço virtual. O presidente do núcleo de base do PSDB na Estrutural, Rodrigo Abreu, registrou sua insatisfação:
“Depois dessa, ela se enterra completamente e não atrapalha nós, da oposição ao Rollemberg, a caminhar rumo ao Buriti com o nosso governador, Izalci, em 2018. Galinha que acompanha pato morre afogada, e a Abadia deixou de estar conosco para estar com o Enrollemberg“
A ex-governadora continuou no grupo até a última conversa registrada. No entanto, após assumir o cargo de secretária de Projetos Estratégicos do GDF, não entrou mais em nenhum embate. Limitou-se a compartilhar no chat notas e fotos institucionais da sua atuação no Executivo. O bate-papo foi encerrado antes de a ex-governadora registrar oficialmente o desligamento do partido – ela ingressou no PSB em abril deste ano.
Fé pública e queixa-crime
À coluna, Izalci disse que o objetivo de dar fé pública às conversas tucanas no WhatsApp foi se precaver caso “o celular dê pau ou algo assim”. Mas o conteúdo revela que a legenda sob o seu comando está fora de controle. Com o registro em cartório, as mensagens podem ser utilizadas como provas na Justiça. No entanto, o deputado federal garante não as ter utilizado em nenhuma ação em curso.
No início de 2018, Izalci registrou uma queixa-crime por calúnia, injúria e difamação contra um dos integrantes do extinto grupo, Horácio Lessa (na foto abaixo, com o desafeto). O processo tramita no 2º Juizado Especial Criminal de Brasília do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).
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Lessa disse não temer a utilização do conteúdo na Justiça por Izalci. “Não me preocupa. Sempre estive exercendo meu direito de filiado ao cobrar discussões internas e eleições para a escolha do presidente regional do partido”, afirmou.
Quebra de confiança
Já Maria de Lourdes Abadia, ao saber do registro em cartório das conversas de WhatsApp, reagiu de maneira enfática. “Chega a ser engraçado. Ele deveria estar preocupado em construir alianças para as eleições, fortalecer sua candidatura. Mas, em vez de olhar para o futuro, ele só olha para trás. Não entendo como se faz política assim”, criticou a ex-governadora. “É por isso que, depois de tantos anos de dedicação, eu deixei o partido do qual fui fundadora”, acrescentou.
Daniel Ferreira/Metrópoles
Para Milton Barbosa e Márcio Machado, a atitude de Izalci foi uma “quebra de confiança”. “Considero um ato grave, era um espaço restrito para filiados. Ele deveria, pelo menos, ter consultado os integrantes antes de tornar o conteúdo público”, afirmou o ex-presidente do PSDB-DF Márcio Machado.
“Não me preocupo com o conteúdo, mas era um espaço restrito. Foi uma atitude grave e de quebra de confiança vinda do presidente do partido”, reforçou o ex-distrital Milton Barbosa.
Crise na Juventude e o fim do grupo
Apesar de contar com “tucanos jurássicos” – como os integrantes mais velhos da sigla se autodenominam –, os debates mais acalorados no extinto grupo de WhatsApp foram protagonizados por jovens filiados. A nomeação do presidente da Juventude do PSDB-DF serviu de gatilho para os embates.
Defensor de Izalci em diversas discussões ao longo dos meses registrados em cartório, Lucas Pinheiro assumiu o posto de presidente da Juventude tucana em 18 de novembro de 2017. A indicação revoltou outros correligionários, que organizaram, sem a autorização da Executiva regional, uma eleição paralela.
O pleito somou 101 votos, que dariam o cargo de presidente da Juventude a Alexandre Matias. Embora a eleição não tivesse qualquer validade, ela transformou o espaço virtual do tucanato brasiliense em praça de guerra: houve acusações de golpe e compra de votos, ameaças, insultos e convocações para “sair no braço”. O clima ficou tão tenso que o resultado prático da votação da Juventude não poderia ser outro: o grupo acabou desativado.
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Fonte: Metrópoles
Foto: Rafaela Felicciano/Mterópoles