Jalapão para se religar
Não dá para chamar de refúgio, porque é um dos lugares que ainda nos coloca em conexão total com a Terra e impõe reflexões aos borbotões. E, por isso mesmo, o Jalapão (TO) é um destino especialíssimo para aqueles momentos em que tudo o que se quer é um tempinho para repensar rotas, escolhas e consequências, religado com a vida e seus valores.
A TV Globo “redescobriu” o #Jalapão e vai exibir algumas de suas riquezas naturais na próxima novela das 21h, com estreia anunciada para este mês sob o nome de O outro lado do paraíso.
Bastam quatro dias neste “santuário” brasileiro localizado a leste do estado do Tocantins para fazer este lugar inesquecível entre os lugares visitados. A geologia desta região data do período mesozoico e calcula-se que exista há algo como 135 milhões de anos.
O Jalapão, isolado do restante do País e do mundo até perto do ano 2000, é um dos lugares de menor densidade demográfica do globo. De acordo com algumas fontes locais, em sua extensão de 34 mil km2, não chega a ter um habitante por km2.
Abre-se ao visitante com a exuberância de um cerrado a perder de vista, áreas de deserto, que superam em tamanho estados como o de Sergipe, por exemplo, e rochas de arenito que se erguem como muralhas. Ainda nos entrega oásis paradisíacos rodeados de buritis (palmeiras da região), fervedouros que convidam a banhos sem igual e dunas de areia que serpenteiam a paisagem. Cachoeiras em profusão, cânions surpreendentes e uma fauna especial deste ponto do mundo onde mescla-se e multiplica-se a vida de um jeito singular são outras atrações que esperam o viajante.
Acomodações – Contudo, não pense o Jalapão com estrutura urbana. A falta dela é que vai garantir todos os insights enquanto você caminha pelo campo ou sobe rochas. É o inusitado do lugar que vai despertar reflexões enquanto nada-se e entrega-se ao céu todo bordado de estrelas que parecem nos permitir alcançá-las com as mãos, porque lá, a iluminação urbana não há. Baixe os aplicativos de identificar constelações, é o lugar ideal para brincar com isto quando a noite chegar.
As acomodações nas pousadas ou comunidades quilombolas são confortáveis e sem supérfluos. A comida, sempre caseiríssima, é servida à base de produtos locais – galinha caipira, mandioca, feijão, rapadura, batata doce, farofa, peixe, sorvetes artesanais – , uma tentação.
Os telefones e sinal de internet não são constantes. Luz e banho quente, sim. As pousadas mais estruturadas têm inclusive ar condicionado e televisão nas acomodações.
Como chegar – Sobre o transporte, não arrisque, pois andar pelo Jalapão em um carro 4 X 4 é imprescindível. Para chegar ao deserto do Jalapão, vindo de qualquer lugar, o ideal é partir da capital do Tocantins, Palmas, em um veículo com tração nas quatro rodas, preferencialmente acompanhado de um guia local. De Palmas à fronteira do Jalapão, na cidade de Santa Tereza do Tocantins anda-se cerca de 100 quilômetros de asfalto, depois, é areia.
Na capital do Tocantins, há muitas agências e profissionais autônomos que têm conhecimento e estrutura para fazer seus poucos dias no Jalapão tornarem-se eternos em ótimas recordações. Viajei em uma Expedição Fotográfica organizada pelo fotógrafo brasiliense, Ricardo Botelho, que contou com a expertise e feelling do Fernando Jalapão, da Livre Expedições. Além de conhecer muito sobre a região, levou-nos aos lugares onde as melhores fotos nos horários mais adequados em luminosidade e movimento poderiam ser feitas.
A tranquilidade de fazer esta viagem com um guia local é que, em poucos dias de viagem, problemas eventuais como atolamento na areia, falta de combustível, vaga para dormir nas pousadas, almoço no meio do deserto debaixo de 40oC, deixam de ser problema seu e o aproveitamento é maior.
O Jalapão não é para amadores, oriente-se por esta verdade! Sua capacidade de soluções urbanas de pouco adiantarão por lá.
Orçamento – O Jalapão também não é turismo que possa se considerar barato. As distâncias, a proposta de estrutura rústica e pouca deixam o passeio de poucos dias com orçamento significativo.
Uma das situações diferentes é que ao optar por com guia local e deixar tudo por conta dele – transporte, hospedagem, alimentação – passa-se quatro dias com o mínimo contato com dinheiro. Lá, não há muito onde gastar, exceto nas comunidades quilombolas quando as peças artesanais em capim-dourado chamam a atenção. Se você optar por encarar o Jalapão sozinho em um 4 X 4, calcule que são, em média, 2h para fazer 80 quilômetros sobre areia se tudo correr bem, diárias de pousadas com café da manhã e jantar de R$ 200,00 em média, ingresso nos passeios em torno de R$ 15,00 cada e por pessoa. A maior parte dos lugares visitáveis é propriedade particular.
Bagagem – Além de dinheiro vivo (poucos comércios aceitam cheques, bancos são difíceis acessar, cartão de crédito não tem como passar, porque a internet não é estável), coloque na bagagem protetor solar, repelente, blusa leve de manga comprida, um casaco para a noite, chapéu, boné, uma bota para caminhar, chinelo, roupa de banho e lanterna.
Regras – Por último, mas o mais relevante, peça licença internamente aos seres que habitam este “santuário” e siga as instruções mínimas de boa convivência e preservação ambiental com o respeito a essas regras:
É permitido
- Caminhar sempre nas trilhas
- Levar seu lixo até o ponto de coleta mais próximo
- Levar somente boas lembranças
Não é permitido
- Fazer churrasco ou fogueira
- Caçar, pescar ou acampar nos atrativos
- Deixar ou enterrar o lixo gerado
- Entrar nas atrações com animais de estimação
- Portar garrafas e copos de vidro
- Ouvir som alto
- Usar embarcações sem autorização prévia
- Perturbar ou alimentar os animais silvestres
- Abrir novas trilhas
- Retirar vegetação local
As belezas do Jalapão nas fotos da jornalista Teresa Cristina Machado
Teresa Cristina Machado (Texto e fotos)