Método com luz infravermelha ajuda a detectar zika em Aedes

 

Testada em insetos criados em laboratório no Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, a tecnologia tornaria o rastreamento do vírus nos bichos um processo 18 vezes mais rápido do que é hoje, segundo pesquisadores

Em vez de testes genômicos caros e complicados, um método que usa luz infravermelha pode facilitar a detecção do vírus da zika nos mosquitos Aedes aegypti. Testada em insetos criados em laboratório no Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, a tecnologia tornaria o rastreamento do vírus nos bichos um processo 18 vezes mais rápido do que é hoje, segundo pesquisadores.

Cientistas do Brasil, da Austrália e dos EUA assinam o estudo descrevendo a técnica na última edição da revista especializada “Science Advances”. A aplicação da NIRS (espectroscopia de infravermelho próximo, na sigla inglesa) obteve um grau de precisão entre 94% e 99% quando comparado às análises genéticas normalmente empregadas para verificar se os mosquitos carregam o causador da zika.

Coordenado pela queniana Maggy Sikulu-Lord, da Universidade de Queensland (Austrália), o trabalho também teve a participação de Lílha dos Santos, Márcio Galvão Pavan e Rafael Maciel-de-Freitas, do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz.

Conforme ressaltam os pesquisadores, uma das variáveis mais complicadas de medir durante epidemias causadas por patógenos (causadores de doenças) transmitidos por insetos é qual a proporção dos bichos que realmente carrega os vilões microscópicos. Esse dado, por sua vez, seria crucial para entender até que ponto é necessária uma quantidade mínima de Aedes aegypti infectados para que muitos seres humanos fiquem doentes. Na primeira vez em que o vírus da zika foi identificado no Brasil, por exemplo, de 550 A. aegypti analisados, só 0,9% carregavam o patógeno.

Das técnicas disponíveis até agora, a mais usada e confiável, conhecida como RT-qPCR, depende da obtenção do material genético do vírus em tecidos dos insetos (em tese, poderia ser feita também com amostras de saliva dos bichos) e de sua leitura em laboratório, num procedimento que demanda produtos laboratoriais específicos e relativamente caros. Outros métodos, baseados na detecção de proteínas dos vírus, ainda não são específicos o suficiente para diferenciar o zika de seus “primos”, os causadores da dengue e da febre amarela.

A NIRS, proposta pelos pesquisadores no novo estudo, já é amplamente empregada em outras áreas. O conceito é simples: cada tipo de molécula interage de forma ligeiramente diferente com a luz infravermelha lançada sobre ela, e é possível detectar a composição química de uma amostra por meio desse padrão. Empregado em outros insetos, como os mosquitos transmissores da malária, o método foi capaz de estimar o sexo e a idade dos bichos.

Para ver se também seria possível flagrar a presença do vírus, os pesquisadores criaram fêmeas de A. aegypti, fornecendo a metade delas sangue não infectado e, à outra metade, sangue com o zika. Após uma etapa de treinamento das análises, na qual eles sabiam qual bicho era qual, aplicaram a NIRS a mosquitos cujo status não era conhecido. Deu certo: o sistema conseguia distinguir entre os grupos.

Não se sabe exatamente se a NIRS está captando a composição química dos próprios vírus ou de algum componente do organismo dos insetos que muda com a presença do zika. Seja como for, a análise de cem mosquitos pela metodologia levou 50 minutos, contra dois dias pelo método genômico.

O trabalho continua com a tentativa de usar o método para distinguir mosquitos infectados com zika dos que carregam o vírus da dengue. “Esperamos saber se isso é possível em breve”, diz Márcio Pavan. “Caso não seja possível diferenciar os vírus, a informação de que um mosquito está infectado com algum deles já será de grande valia para o controle vetorial [dos vetores, ou seja, transmissores das doenças].

Também é preciso avaliar ainda como a técnica vai se sair em condições mais adversas, com mosquitos secos ou fragmentados coletados em campo, e não recém-sacrificados em laboratório. O aparelho usado também é caro, o que exigiria mandar os insetos para análises em alguns centros espalhados pelo país ou testar o uso de aparelhos similares mais baratos, mas menos preciso nas análises.

“Acreditamos que a aplicabilidade da técnica no Brasil deva ser quase imediata, com laboratórios de referência responsáveis pela triagem desses mosquitos em épocas de surto epidêmico”, afirma Pavan.

Com informações da Folhapress.

 

Fonte: Notícias Ao Minuto

Foto: DR

 

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