Metroviárias recebem alunas para conversa sobre desafios da carreira
Mulheres que ocupam cargos operacionais na companhia apresentaram suas profissões a estudantes do CEM 09, de Ceilândia
Em 2017, um professor de física chamado Hébio Bezerra percebeu algo significativo: as meninas tinham as melhores notas em física, matemática ou química, mas raramente estavam entre as aprovadas nos vestibulares. Descobriu que elas nem sequer faziam inscrição para cursos voltados às ciências exatas, talvez porque não se vissem como engenheiras, matemáticas e programadoras, entre outras tantas ocupações nas quais o homem costuma ainda ter lugar de destaque.
De lá para cá, com exceção do período da pandemia, Hébio se dispôs a levá-las para conhecer mulheres bem-sucedidas, ocupando cargos tradicionalmente associados aos homens. No dia 16 de abril, metroviárias contaram suas histórias para 40 meninas do Centro de Ensino Médio (CEM) 09 de Ceilândia, onde Hébio e outros professores conduzem o projeto Meninas, que promove encontros entre gerações.
O Metrô-DF tem cargos estratégicos de operação ocupados por mulheres. “A área concentra umas 900 das 1.200 pessoas que trabalham no Metrô-DF. E as quatro principais gerências são comandadas por mulheres”, conta Daniele Gomes Prandi, chefe do Núcleo de Desenvolvimento de RH.
São as gerências de Estação, de Controle Operacional e Tráfego, de Segurança e de Bilhetagem. Pelo menos as três primeiras comandam diretamente entre 200 e 300 empregados, a maior parte de homens. A gerente de Segurança, Paula Marinho Camargo, e a de Controle Operacional e Tráfego, Inalba Galvão, além da engenheira da área de manutenção Fernanda de Oliveira Soares e Sousa, conversaram com as estudantes.
Elas falaram sobre o que as levou a trabalhar nessas funções, sobre machismo e preconceito na jornada e sobre suas histórias de vida. “Existe muito preconceito contra as mulheres relacionado às profissões e aos cargos que tradicionalmente os homens ocupam. Mas a nossa presença aqui ajuda a quebrar esses paradigmas”, disse Inalba, que nasceu no interior de Pernambuco e, desde jovem, decidiu que não queria ser professora, destino de boa parte das mulheres na época.
“Eu adoro trabalhar aqui. É dinâmico, desafiador. Trabalho com uma equipe muito profissional” Inalba Galvão, gerente de Controle Operacional e Tráfego
“Minha mãe e todas as tias eram professoras até casar e, então, viravam donas de casa. Eu gostava de matemática, queria ser engenheira, não queria aquele destino delas para mim”, contou Inalba.
Quando ela fez concurso e passou para integrar o Metrô de Recife, não havia sequer banheiro feminino. Fez de tudo um pouco até chegar a Brasília, que estava na sua primeira seleção de empregados.
“Eu adoro trabalhar aqui. É dinâmico, desafiador. Trabalho com uma equipe muito profissional. O Metrô é mais do que um meio de transporte, tem uma grande importância para o desenvolvimento urbano e a qualidade de vida. Um trem é capaz de transportar o equivalente a 16 ônibus e 190 carros de uma só vez”, contou para a plateia.
“Tenho orgulho de comandar uma equipe que salva vidas. Além de cuidarmos da segurança, atendemos a mais de 2 mil casos de primeiros socorros a cada ano” Paula Marinho Camargo, gerente de Segurança
Gerente de Segurança, Paula nasceu e foi criada em Ceilândia. Administradora de formação, entrou para o Metrô em 2009. Em 2021, recebeu o convite para gerenciar a área de segurança. “Não acreditei no primeiro momento, mesmo sabendo que tinha capacidade, currículo e experiência. É de uma responsabilidade absurda, não acreditava que essa oportunidade chegaria para mim”, disse. “Tenho orgulho de comandar uma equipe que salva vidas. Além de cuidarmos da segurança, atendemos a mais de 2 mil casos de primeiros socorros a cada ano.”
Também em 2009, Fernanda de Oliveira chegou ao Metrô. Engenheira formada pela UnB, hoje é uma das metroviárias que cuidam da manutenção. “Lembro que fui para um treinamento de um fabricante de trens e, para ir ao único banheiro feminino, tinha que sair num frio congelante e ir até um galpão, que diziam ser mal-assombrado. No segundo dia, disse que ia usar o dos homens. Tiveram de resolver”, contou, divertindo-se.
Para ela, existem obstáculos, sim, para mulheres nessas profissões. “Mulher que ousa estar nesses lugares tem que ter o espírito de se impor em diversas situações”, disse.
Visita às instalações
Após uma conversa inicial, as alunas do CEM 09 foram conhecer as áreas operacionais, guiadas pelas metroviárias, que explicaram em detalhes como funcionam o Centro de Controle Operacional (CCO), o galpão de manutenção e a área de monitoramento da segurança.
Raniely Vieira, 17 anos, estudante do 3º ano do ensino médio, é apaixonada por matemática e pretende fazer engenharia de redes. Acredita que tudo o que viu e ouviu é mais um incentivo para não desistir dos seus sonhos.
“Ouvindo tudo isso e vendo o que elas fazem me dá ainda mais força para chegar a cargos que só homens costumam ocupar. Quero chegar aonde outras mulheres não chegaram e abrir caminhos”, conta Raniely.
Escola Metroviária
A Escola Metroviária, ligada à Diretoria de Administração, promove programas de capacitação para formar e atualizar os empregados do Metrô-DF em competências técnicas, administrativas, operacionais e gerenciais, além de oferecer cursos, palestras e eventos motivacionais com foco no desenvolvimento profissional, pessoal e na qualidade de vida.
Também planeja e acompanha visitas monitoradas abertas ao público para conscientizar a comunidade sobre a importância do uso da energia limpa para o crescimento sustentável do país; a promoção de pesquisas no campo da inovação tecnológica e metroferroviária, e programas de integração e treinamento com outros órgãos, como Polícia Militar e Corpo de Bombeiros.
Em 2023, foram ofertados 30 cursos para a área meio e 203 para a área fim. No total, foram 471 capacitações para a área meio e 1.415 na área fim, com a participação de 3.233 funcionários.
*Com informações do Metrô-DF
Fonte: Agência Brasília
Foto: Divulgação/Metrô-DF