Moradores reclamam de violência e criminalidade em Taguatinga
O Correio percorreu áreas de grande circulação de pedestres ao fim de um dia para relatar os anseios de quem transita pela região
Medo e insegurança dominam quem precisa caminhar pelas ruas de Taguatinga. À noite, o receio aumenta porque falta iluminação e policiamento em diversos pontos da cidade, segundo moradores e comerciantes. Mesmo com lâmpadas recém-trocadas nas principais vias, como a Avenida Palmeiras, a QNL e a rua que corta o centro da região, assaltantes não se intimidam e continuam a praticar delitos com frequência. O Correio percorreu áreas de grande circulação de pedestres ao fim de um dia para relatar os anseios de quem transita diariamente na terceira região administrativa mais populosa do DF.
Uma rápida caminhada de 15 minutos, da saída do curso que frequenta à parada de ônibus no centro de Taguatinga, é evitada pela auxiliar de escritório Eloísa Ferreira, 39 anos. Ela prefere aumentar a rota a passar por áreas pouco iluminadas. “Eu venho correndo com bastante medo. Passo pelo comércio, mesmo andando mais, para vir por onde tem mais movimento. Já vi assaltos por aqui e sei que podia ter sido comigo”, contou.
Na mesma parada em que Eloísa pega o coletivo para voltar para casa, em frente à Praça do Relógio, trabalha o vendedor de doces Nilson Carlos Araújo, 45. “Sempre há assaltos por aqui. Tem dia que a polícia passa, tem dia que não”, afirmou o vendedor. Ele mesmo foi assaltado e chegou a levar um tiro. “Eu reagi e acabaram acertando o meu pescoço, mas fiquei bem. Só que eu continuo me arriscando, preciso trabalhar, tenho família para sustentar”, explicou.
Avenida das Palmeiras
Apesar de todas as lâmpadas dos postes estarem em perfeitas condições, as árvores que dão nome à Avenida das Palmeiras acabam prejudicando a difusão da luz pela via. Pelo local, circulam livremente usuários e traficantes de drogas, o que, afirmam os comerciantes, prejudica as vendas. Assaltos também são frequentes nas redondezas.
Há alguns meses, a situação era pior, garantiu o dono do Bar e Restaurante Garfield, João José de Carvalho, 57. As luzes estavam fracas e os donos dos estabelecimentos da região se uniram para exigir da administração melhorias na iluminação. “Antes das trocas, passamos por uma onda de arrombamentos nas lojas ao longo da rua. Só eu fui assaltado duas vezes. Tive que investir em um sistema de alarme para inibir os crimes, mas ficamos à mercê da bandidagem, raramente vemos polícia passando”, reclamou.
As queixas dos comerciantes e moradores da QNL não são diferentes. Paulo Francisco da Silva, 68, reside na quadra e relatou que já precisou voltar rapidamente para casa com medo da presença de um grupo que passava pela rua. “Aqui não é bem iluminado e, às vezes, circulam maus elementos. Acaba que prefiro ficar dentro de casa ou sair de carro para não correr risco”, lamentou. Ele nunca sofreu qualquer violência na quadra, mas seu filho foi assaltado duas vezes voltando para casa. “Precisamos de mais policiamento. Isso tem que melhorar”, sustentou.
Para quem só tem como alternativa sair a pé de casa, o jeito é encarar a situação. Com o filho Enzo, de 1 ano e 7 meses, no colo, a atendente Dominique da Silva Fernandes, 18, moradora da QNL 12, precisa sair todos os dias de casa para o trabalho. “Até tem iluminação por onde eu passo, mas isso não é suficiente para garantir nossa segurança. Não tem policiamento. Se tiverem que roubar, vão roubar”, reclamou a jovem mãe.
O comando do 2º Batalhão que atua na região afirmou que, no último ano, conseguiu reduzir a incidência de quase todos os crimes, mas observa que houve uma migração para roubos em coletivos. De janeiro a novembro do ano passado, esse delito aumentou em 13 casos, se comparado com o mesmo período de 2016. Foram 118 registros em 2017 contra 105 no ano anterior. “A PM está colocando policiais nos coletivos para combater os assaltos”, disse o porta-voz da corporação , major Michello Bueno.
De acordo com dados da Secretaria de Segurança, de janeiro a novembro de 2017, os assaltos a pedestres tiveram queda de 3.486 para 3.426 casos, quando comparados ao mesmo período de 2016.
A Administração Regional de Taguatinga informou que as trocas de lâmpadas e reforços em áreas necessárias podem estar previstas no cronograma da administração ou partir de demanda popular. Ao Correio, assegurou que fará uma vistoria nos endereços indicados na matéria para avaliar a iluminação.
Fonte: Correio Braziliense
Foto: Luis Nova/Esp. CB/D.A Press