MORAL DE MOLAMBO
O cantor e compositor Chico César gravou um vídeo-poesia cujo conteúdo reserva aos juízes do TRF-4, em Porto Alegre, o “lixo da história”. É uma reação ao julgamento da apelação criminal do ex-presidente Lula contra a condenação imposta pelo Juízo Federal de Curitiba, titularizado por Sérgio Moro.
O termo “lixeira da história” foi cunhado por Leon Trotsky quando os bolcheviques tomaram o poder na Rússia, em 7 de novembro de 1917. Os comunistas perderam feio para os revolucionários de esquerda na Assembleia Constituinte, por isso cercaram o prédio onde se reuniam os eleitos de todo o país e fecharam a assembleia, decretando um golpe de Estado, liderado por Wladimir Ulianov, o Lênin.
Trotsky, então o segundo em importância entre os bolcheviques, disse para a maioria que eles terminariam no lixo da história se não aderissem à minoria armada.
Nu da cintura para cima, como forma de desrespeitar ainda mais os juízes, Chico César ainda lançou uma ironia preconceituosa contra um dos magistrados, referindo-se à sua “fala fina”.
Como são contraditórios os companheiros! Chico César, quando estudante de Comunicação na Paraíba e no início de sua curta carreira jornalística, vivia a soltar o verbo contra os reacionários corruptos e preconceituosos. Chegou a fazer greve de fome para impedir que fosse instituída cobrança de taxa no Restaurante Universitário.
O artista era bem magrinho, ficando esquelético após a greve de fome. Sumiu por uns tempos, até que o vi andando pelo centro de São Paulo, em 1988, com um violão nas costas. Não demorou para que revelasse talento e fizesse sucesso em todo o Brasil. Reapareceu bem gordo, com um penteado tipo pé de coentro, compôs, cantou e resolveu voltar à militância política, na Paraíba.
Mesmo tendo sido secretário de Estado na Paraíba, insurge-se contra as instituições do Estado Democrático de Direito. Tão rigoroso contra os corruptos do passado e inclusivo com as minorias quando é de seu interesse ideológico, revela sua verdadeira face ao relevar o grande assalto que Lula e seus aliados fizeram aos cofres públicos e ainda insinuar maledicências preconceituosas contra um juiz que, apesar da “fala fina”, fala mais grosso do que muita gente cuja moral virou molambo.
Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.