Motoristas do “Uber” clandestino invadem Aeroporto de Brasília

 

A prática criminosa, que se configura como transporte pirata, ocorre livremente na plataforma superior do terminal aéreo

A plataforma superior do Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek tornou-se alvo de uma irregularidade que ameaça a segurança de quem chega à capital federal. O local, usado por passageiros que acionam serviços de transporte por meio de smartphones, como Uber, Cabify e 99 Pop, tem atraído “piratas”, que se apresentam como se fossem cadastrados nos aplicativos.

Basta deixar o terminal para ser abordado por homens que alegam ser motoristas dos apps. Eles dizem que podem fazer um preço mais barato caso o passageiro concorde com a corrida “por fora”.

Mas quem usa esse tipo de serviço embarca em um veículo sem procedência e coloca a própria segurança em risco, segundo alertam tanto a Polícia Civil quanto a Secretaria de Mobilidade. Apesar de tanto o governo quanto a administradora do aeroporto informarem que têm intensificado a fiscalização, ao longo dos últimos dias, o Metrópoles constatou que a prática ocorre em todos os períodos.

Na quinta-feira (17/5) e na sexta (18), a reportagem esteve no aeroporto em horários diferentes. Em todas as ocasiões, a equipe foi abordada por motoristas oferecendo o serviço clandestino. Ao todo, foram feitas três viagens, pagas em dinheiro. O intuito era ouvir, dos próprios condutores, como funciona o esquema.

A abordagem
Cientes da irregularidade e da fiscalização imposta pela concessionária do aeroporto, os motoristas preferem se misturar à multidão que entra e sai do terminal. “Corrida, corrida? Vai pra onde? Precisa de motorista de aplicativo”, pergunta um homem ao interpelar os repórteres.

Ao ser questionado sobre quanto custaria a viagem até um shopping na região central de Brasília, ele responde prontamente: R$ 30.

 

Driblando as tarifas
Dentro do carro, o motorista mantém o celular desligado, evitando as tarifas de até 25% cobradas pelos aplicativos por cada corrida realizada.

“Não tem jeito, temos que fazer essas corridas com o aplicativo desligado. Caso contrário, pagamos para trabalhar”, contou o homem de meia idade, que disse ter atuado durante 27 anos como taxista.

O grupo costuma estacionar os veículos na plataforma superior do aeroporto, enquanto os táxis aglomeram-se no piso inferior. Fora dos veículos, alguns motoristas ficam em grupos e tentam se organizar para distribuir as viagens quando os passageiros aceitam a corrida sem acessar o aplicativo.

 

Valor mais alto
Sem saber que estava sendo gravado, um dos motoristas, que se apresenta como Josias, confirma que faz viagens “por fora” do aplicativo. Para ter uma noção do valor cobrado, o homem faz uma simulação no próprio app. Segundo ele, uma corrida do Aeroporto de Brasília para a QL 11 do Lago Sul sairia em torno de R$ 40.

Josias justifica que não usa o aplicativo porque o lucro obtido nas corridas acaba sendo baixo. Ele culpa o alto preço dos combustíveis e o sistema de cobranças do app, que retém 25% do preço final da corrida.

“Se não nos virarmos assim, estamos mortos. Aqui [em Brasília] o litro da gasolina está quase R$ 5” Josias, motorista que faz transporte clandestino no Aeroporto de Brasília

Igo Estrela/Especial para o Metrópoles

Igo Estrela/Especial para o MetrópolesPassageira entra em um dos veículos que batem ponto no aeroporto: transporte de risco

Segurança ameaçada
De acordo com o delegado adjunto da 10ª DP (Lago Sul), Gustavo Faria Gomes, existe um alto risco para os passageiros que entram nos carros dos motoristas clandestinos.

“Trata-se de transporte pirata, no qual o usuário não tem a mínima segurança, visto que a corrida não fica registrada pelo aplicativo. Não é possível ter a identidade do motorista ou as características do carro” Gustavo Faria Gomes, delegado

Segundo a Inframércia, concessionária que administra o Aeroporto de Brasília, o problema não passa despercebido. Questionada pela reportagem, a empresa disse que equipes de segurança monitoram e abordam esses motoristas com frequência e acionam os órgãos de segurança pública.

“Além disso, o sistema de som do aeroporto alerta os passageiros para utilizar somente veículos credenciados”, ressaltou a concessionária, por meio de nota.

Já a Secretaria de Mobilidade do DF, que faz a regulamentação e o controle dos motoristas credenciados nos aplicativos, confirmou a prática da atividade ilegal. Por meio de nota, a pasta destacou que, através da Subsecretaria de Auditoria, Fiscalização e Controle (Sufisa), realiza ações de fiscalização constantes no aeroporto.

“No entanto, é importante que a população não utilize esse tipo de oferta de transporte, pois trata-se de uma prática ilegal e irregular, e não há como garantir a segurança do passageiro. Os usuários devem utilizar os aplicativos existentes cadastrados no DF (Uber, Cabify e 99 Pop) e os serviços de táxi do DF”, enfatizou.

Aplicativos alertam
Procurados pelo Metrópoles, os aplicativos dos serviços de transporte que atuam no DF informaram que desconhecem que seus colaboradores atuem fora das plataformas. “É importante lembrar que a Lei 13.640/2018 determina que o transporte privado de passageiros seja realizado por meio de plataformas digitais e a fiscalização é de responsabilidade do Poder Público”, alerta a Cabify.

A 99 ratifica a posição e destaca que a taxa cobrada de motoristas em Brasília é de 19,99%. “Além da taxa ser menor do que a cobrada pela concorrência, firmamos uma série de parcerias com postos de gasolina, oficinas e restaurantes para amenizar os custos operacionais dos motoristas”, afirma em nota.

De acordo com a Uber, qualquer viagem feita fora da plataforma não é garantida pelo seguro que cobre acidentes pessoais: “Temos equipes e tecnologias próprias que constantemente analisam viagens suspeitas para identificar violações aos termos e condições e, caso comprovadas, banir os envolvidos.”

 

Fonte: Metrópoles

Foto: Igo Estrela/Especial para o Metrópoles

 

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