Na contramão: Centro-Oeste é a pior região no descarte de lixo urbano

 

Mesmo abrangendo grande parte das cidades com o serviço de coleta, a região central do país ainda é atrasada na gestão de resíduos sólidos

Apesar do Centro-Oeste possuir 81% de cobertura na universalização do serviço de coleta urbana, a região ainda apresenta resultados preocupantes em relação à gestão de resíduos sólidos. De acordo com o Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (ISLU), responsável por mensurar o grau de adesão dos municípios brasileiros à Política Nacional de Resíduos Sólidos, 85,6% das cidades da região ainda descartam lixo de maneira incorreta.

Neste quesito, o Sudeste se sai melhor, com uma cobertura que envolve 84% das residências. O Sul, que lidera em quase todos os índices, tem uma taxa de 72%, enquanto Nordeste e Norte contam com 66% cada.

“A região Centro-Oeste, infelizmente, ainda está atrasada no desenvolvimento de políticas públicas voltadas à gestão de resíduos sólidos”, destacou o presidente do Sindicato Nacional de Empresas de Limpeza Urbana (Selurb), Marcio Matheus.

A Lei Federal nº 12.305/10 – que visa o avanço no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos – existe há 8 anos no país. Mesmo assim, o volume de reciclagem praticada no Centro-Oeste está bem abaixo  (1,40%) na média nacional, que é de 3,7%.

ISLU
O Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (ISLU) varia entre 0 (baixo desenvolvimento) e 1 (alto desenvolvimento) e analisa os dados oficiais mais recentes disponibilizados pelas próprias cidades de cada região no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). O desempenho é classificado entre “muito alto” (acima de 0,8), “alto” (acima de 0,7), “médio” (acima de 0,6), “baixo” (acima de 0,5) e “muito baixo” (abaixo de 0,5).

O Centro-Oeste, como um todo, pode ser classificado como tendo um desempenho “baixo”, pois sua média geral é de 0,5, inferior ao índice médio nacional, de 0,6. Entre as principais cidades dessa região (Anápolis, Aparecida de Goiânia, Brasília, Campo Grande e Goiânia), as melhores notas estão enquadradas no desempenho “médio”. Entre essas quatro localidades, Brasília é a cidade que possui o percentual mais baixo na gestão de resíduos sólidos.

Arte/Metrópoles

Arte/Metrópoles

O presidente do Selurb destaca que, para a melhora dos índices, é essencial que as cidades criem métodos para financiar o trabalho de coleta, tratamento e destinação do lixo. “O serviço de limpeza urbana é como o fornecimento de água, luz e gás, que precisa de uma fonte de receita específica para ser sustentável e melhorar seus resultados”, afirma.

Na contramão
Outro dado preocupante é que o Centro-Oeste vai na contramão de todas as outras regiões do país. Enquanto Sul, Norte, Sudeste e Nordeste apresentam evolução no índice ano a ano, em 2018 a nota da região teve variação negativa de 0,0006%, comparada com o ano de 2017.

Em setembro de 2015, o Brasil estabeleceu metas a serem cumpridas pelo país na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável. Elas devem ser efetivadas até 2030. Porém, com os baixos índices de desenvolvimento na gestão de resíduos sólidos da região Centro-Oeste, torna-se mais difícil saber quando essas melhorias serão postas na prática.

“O Brasil precisa priorizar essa agenda para honrar o compromisso assumido perante a comunidade internacional. Temos legislações modernas e positivas, mas precisamos colocá-las em prática. As projeções do ISLU são absolutamente preocupantes. É um alerta fundamental e uma excelente ferramenta para que os gestores públicos possam medir seus desempenhos”, avalia Carlo Linkevieius, secretário executivo da Rede Brasil do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU).

Descarte incorreto
Após oito anos de Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), apenas seis cidades brasileiras alcançaram a faixa de pontuação mais alta do ISLU, criado em 2016 para mensurar o grau de aderência desses locais às metas e diretrizes por ela fixadas. De acordo com o estudo, entre as cidades participantes, 53% continuam destinando o lixo incorretamente.

Os dados apontam que a coleta domiciliar está longe da universalização, atendendo cerca de 76% dos lares brasileiros. Aproximadamente 61,6% dos municípios ainda não estabeleceram fonte de arrecadação específica para custear a atividade e o índice médio de reciclagem no Brasil não passa dos 3,7%.

De acordo com Carlos Samor, 22 anos, morador da Celiândia, no Distrito Federal (DF) o principal problema relacionado à gestão dos resíduos sólidos é a frequência com que a coleta dos resíduos sólidos é realizada. “O caminhão do lixo passa toda segunda, quarta e sexta. Mas os problemas que eu posso apontar são: eles não pegam sacolas ou resto de lixo que não estão dentro da lixeira. Às vezes o pessoal coloca o lixo nos dias que o caminhão não passa, aí vem cachorro e rasga e eles não juntam”, afirmou o estudante.

Estudos projetam que se o Brasil continuar no ritmo atual não conseguirá atingir as metas ligadas à gestão de resíduos sólidos assumidas durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em setembro de 2015, as quais estabelecem melhorias até 2030.

 

Fonte: Metrópoles

Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

 

Deixe seu comentário