No perrengue, Terracap pede empréstimo de R$ 35 milhões
Agência de Desenvolvimento do DF publicou pedido no Diário Oficial de segunda-feira (22/1). Dinheiro vai cobrir gastos com o Noroeste
Em dificuldades financeiras, a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) pediu empréstimo de R$ 35 milhões a bancos. O financiamento visa cobrir gastos com infraestrutura e ações judiciais referentes ao bairro Noroeste. O pedido foi publicado no Diário Oficial do DF de segunda-feira (22/1) e, segundo a própria empresa, visa “garantir a liquidez” da estatal.
O Noroeste se tornou um grande problema para a agência. A falta de infraestrutura e licenças tem levado a uma enxurrada de ações judiciais. Uma delas é referente à ligação de esgoto emergencial, necessária para a concessão da carta de habite-se. O prazo final desse documento encerrava-se em dezembro – mas ele não foi obtido, acarretando problemas para a entidade. Agora, a Terracap terá de arcar com gastos milionários, entre distratos e ações judiciais sobre projeções no bairro.
Atualmente, os ganhos com a venda direta de imóveis têm sido suficientes para pagar apenas as despesas correntes da agência, sem aliviar o fluxo de caixa. Em novembro, o Metrópoles revelou que a empresa gastou suas reservas para cobrir o rombo do balanço do primeiro semestre de 2017 – na época, chegou a estudar pedir R$ 80 milhões em empréstimos. Foram consumidos R$ 219 milhões no período com receita de R$ 74 milhões. Esse “buraco” foi preenchido com R$ 145 milhões. O colchão financeiro, no entanto, se esgotou.
Sem ter de onde tirar recursos, a agência decidiu recorrer ao empréstimo, tema que foi discutido pela direção durante alguns meses no final de 2017. A estatal corre para conseguir liberação dos R$ 35 milhões e deu prazo de cinco dias para instituições bancárias enviarem suas propostas.
As condições já foram estabelecidas e, como garantia de pagamento, a Terracap colocará imóveis e carteira de recebíveis à disposição do financiador. As parcelas, segundo o órgão, serão pagas no dia 30 de cada mês, com carência mínima de 360 dias.
REPRODUÇÃO/DODF
A medida, contudo, é vista com ressalva por especialistas. “Bater na porta de banco, no primeiro mês do ano, dá sinais de que onde há fumaça, há fogo. A empresa não está nessa situação por acaso. É resultado de má gestão e outras coisas mais graves que precisam ser apuradas”, diz José Matias-Pereira, economista e pós-doutor em administração.
Procurada pela reportagem, a Terracap disse, por meio de nota, “que as finanças estão equilibradas no sentido de que há fluxo suficiente para o pagamento do custeio, que seriam as despesas de manutenção. Os empréstimos autorizados têm como objetivo aumentar a capacidade de investimentos”.
Questionada sobre a estimativa anterior, de pedir R$ 80 milhões a bancos, a estatal afirmou que “houve redução desse valor, pois a empresa já está no processo de emissão de debêntures no valor de R$ 45 milhões, ou seja, os R$ 35 milhões seriam a diferença entre os R$ 80 milhões autorizados e os R$ 45 milhões já captados por meio das debêntures”.
Plano de recuperação
No ano passado, a empresa criou um plano de recuperação de suas contas. Para tentar conter as despesas, focou seis itens: redução de 25% nos contratos administrativos; diminuição de sete para quatro diretorias; corte nos cargos comissionados; redução no valor da gratificação dos comissionados, de 80% para 60%; Programa de Demissão Incentivada (PDI); e reestruturação do Fundo de Previdência.
A questão dos servidores é crucial para a Terracap, pois corresponde à maior parte das despesas. No balanço do primeiro semestre de 2017, o gasto com pessoal foi o que mais cresceu. O dispêndio saltou 29,77%, passando de R$ 137.614.526 milhões para R$ 176.578.441 milhões.
Equacionar as finanças é uma ação que corre em paralelo a outro eixo: a tentativa de incrementar a receita. Para isso, a estatal mirou em sete pontos principais: renegociação de dívidas com inadimplentes; conciliação de débitos de carta administrativa; retomada de imóveis (alienação fiduciária); venda direta de imóveis; adensamento da Etapa I, Trecho II, do Taquari; empreendimentos como o Parque Tecnológico Digital do DF (Biotic) e a ArenaPlex; e editais extraordinários.
A Terracap luta para reverter uma sucessão de números negativos. Após terminar 2015 com lucro de apenas R$ 19 milhões – redução de 97,5% em relação a 2014 –, a empresa amargou prejuízo de R$ 255 milhões no fim de 2016.
As despesas caminharam na direção contrária: saltaram de R$ 623,3 milhões, em 2015, para R$ 637 milhões no ano seguinte. Em 2017, o buraco foi de R$ 145 milhões, com arrecadação de R$ 74 milhões e gastos na ordem de R$ 219 milhões.
Fonte: METRÓPOLES
Foto: DANIEL FERREIRA/METRÓPOLES