O drama de 3 pacientes vítimas do descaso em hospitais públicos do DF

 

Famílias reclamam da escassez de remédios, demora no atendimento, falta de vagas e das condições das unidades de saúde

A situação precária dos hospitais públicos do Distrito Federal é uma das principais queixas da população local. Todos os dias, as pessoas que precisam dos serviços de saúde criticam a falta de abastecimento e infraestrutura das unidades. Nesta quinta-feira (16/8), o Metrópoles acompanhou o drama das famílias de três pacientes que necessitaram de atendimento especial da rede pública, mas se depararam com os problemas crônicos da área.

Desde a última sexta-feira (10), a dona de casa Maria de Fátima Pinheiro, 58 anos, acompanha o marido, Eleus Caetano, 71, no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). O idoso tem diabetes, disfunção renal, água no pulmão, fígado inchado e insuficiência respiratória. O quadro requer cuidados especiais, mas o casal reclama da falta de condições de higiene do leito onde o homem foi acomodado, na Ala 4 da unidade.

“O ambiente aqui é semelhante a uma jaula de ariranha. Ninguém aguenta o mau cheiro. Para piorar, dividimos o quarto com um paciente com problemas psiquiátricos. Ele não tem o acompanhamento necessário. Defeca no chão, come as fezes e as fraldas usadas. Já procurei a chefia da internação, os seguranças, mas nada foi feito”, desabafou Maria de Fátima.

De acordo com a dona de casa, os vasos sanitários do banheiro estão entupidos e com vazamentos, e a água do chuveiro é fria.

Por meio de nota, a Secretaria de Saúde informa que J.L. – iniciais do paciente com problemas psiquiátricos que dividia o quarto com Eleus – é acompanhado por uma equipe multidisciplinar, com geriatra, neurologista e psiquiatra. “Como ele é pessoa em situação de rua e não tem acompanhamento de familiares, é preciso primeiramente avaliar todo o quadro clínico para, depois, transferi-lo, se for o caso, para uma unidade de internação psiquiátrica”, diz o comunicado.

O drama de 3 pacientes vítimas do descaso em hospitais públicos do DF

Demora
Joana Alves Soares (foto em destaque), 76, dona de casa, sofre de cirrose hepática. A doença crônica causou varizes no estômago e no esôfago da mulher, além de hemorragias digestivas. Os familiares da idosa precisaram percorrer diversas unidades de saúde, no último fim de semana, atrás de assistência médica. Sem sucesso, chamaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que levou a senhora para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC).

A internação, no entanto, não resolveu a situação de Joana. Desde domingo (12), a dona de casa aguardava um procedimento de ligadura no esôfago para cessar as hemorragias. De acordo com Juliana Alves Soares, 32, neta da paciente, o HRC não tinha estrutura para realizar uma endoscopia na avó.

Juliana disse ter recebido a informação de que o Instituto Hospital de Base (IHB) era o único do DF em condições de fazer o procedimento, mas não havia uma ambulância disponível para realizar a transferência da paciente. A jovem contou que a avó foi removida somente nesta quinta-feira (16), fez o exame e retornou ao HRC.

Por meio de nota, no entanto, a Secretaria de Saúde alegou que o transporte não havia sido realizado devido às condições clínicas de Joana. “Na manhã desta quinta-feira, a paciente apresentou compensação parcial do quadro clínico e foi encaminhada ao IHB.”

Sem medicamento
Altamirando Cunha, 56, é outro paciente do DF que espera por melhor atendimento. Há cerca de um mês no pronto socorro do Hospital Regional de Brazlândia, aguarda por um vaga na enfermaria.

O homem também possui cirrose hepática. “Toda vez é isso. Ele precisa de tratamento constante, mas só medicam e mandam de volta pra casa”, critica a filha Nickely Andrade, 32, gerente bancária.

Conforme relato da jovem, o pai precisa de um medicamento conhecido como cianoacrilato, que faz a colagem das veias, para, então, poder passar por uma colonoscopia. No entanto, o hospital teria conseguido o remédio apenas na última quarta-feira (15). “E esse procedimento não foi feito ainda”, lamentou Niclely na tarde desta quinta (16).

Segundo a Secretaria de Saúde, Altamirando será submetido à colonoscopia na próxima segunda-feira (20), no Hospital Regional de Taguatinga. “O paciente está estável e aguardando o exame pra fechar o diagnóstico”, informou a pasta em nota.

Falta tudo
De acordo com o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Distrito Federal (SindSaúde), o desabastecimento dos hospitais do Distrito Federal paralisa procedimentos e cirurgias, além de fazer pacientes em estado grave esperarem por longos períodos de tempo.

A entidade informou que a Secretaria de Saúde dispõe de menos de mil unidades de gazes no momento para fazer limpeza e cobertura de ferimentos. Também faltam medicamentos, transporte e funcionários.

Marli Rodrigues, presidente do SindSaúde, afirmou que estão em falta todos os tipos de suprimentos. “O paciente fica numa espera eterna. Isso não deveria ser encarado como uma situação normal por ninguém.” Segundo a sindicalista, a demanda é sempre encaminhada ao GDF, mas as respostas recebidas são as mesmas, de que as medidas serão providenciadas em breve.

No caso da escassez de ambulâncias, Marli acredita que a organização da Secretaria não consegue manter os veículos rodando, uma vez que não há combustível e manutenção suficientes. “É difícil saber qual hospital está em situação mais crítica. Quando não é falta de profissionais, é a ausência de medicação ou de estrutura”, criticou.

DF na real
A situação dos serviços públicos na capital do país motivou o Metrópoles a criar o selo DF na Real. Nesse espaço, a equipe de reportagem tem mostrado o status dos temas de interesse do brasiliense, especialmente no período das eleições, quando a população é chamada a votar. As pautas são sugeridas pelos leitores e guiadas pelo próprio cidadão. Nas matérias especiais, é dada oportunidade para que governo e pré-candidatos defendam seus pontos de vista a respeito da condução dos assuntos tratados.

 

Fonte: Metrópoles

Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

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