O hacker da vaza jato e seus fiéis
Por Percival Puggina (*)
No submundo em que religião é business e o vigor da mensagem espiritual virou mercadoria, sempre me espanta a facilidade com que a clientela proporciona o milagre da multiplicação da grana. Ao escrever isso, ando muito longe de qualquer generalização, pois tenho respeito reverencial por quem se dedica honesta e piedosamente à salvação das almas. Repito: falo do submundo em que religião é negócio, onde a credibilidade dos operadores do empreendimento vira crédito e alcança contas bancárias e bens dos fiéis.
É uma analogia possível, uma dentre tantas, com a situação do hacker Walter Delgatti Neto, cujas peripécias não devem agradar ao vovô desse neto. O criminoso agiu ou declarou ter agido para explodir a Lava Jato a partir de fragmentos de conversa, pinçados dos longos anos de muito trabalho da força tarefa que atuava em Curitiba. Mesmo assim, de estalo, formou-se verdadeira multidão de fiéis, unindo a calda grossa do jornalismo companheiro ou camarada, o topo do Judiciário nacional, os políticos e empresários buscando toalha para se secar da água e do spray na Lava Jato, e a torcida organizada da esquerda.
Os fragmentos de conversa vazados pelas artimanhas do hacker de Araraquara consagraram entre seus devotos a narrativa pela qual os referidos grupos ansiavam. Para eles, na Lava Jato, policiais, delegados, procuradores, magistrados estavam todos mancomunados para o mal. Só o hacker era do bem e seus fragmentos de conversa tinham o valor de um papiro com texto bíblico encontrado no sítio arqueológico de Qumram.
Como cidadão me sinto ofendido por saber que o homem da vaza jato, que tornou canônica a narrativa de Lula e seus amigos, agora condenado a 20 anos de prisão, ostenta um conceito que varia entre criminoso, psicopata, picareta, mentiroso crônico, mistificador, estelionatário. Mas foi com mãozinha dele e jeitinho de outros que Lula chegou à presidência da República.
(*) Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
*Artigo de responsabilidade do autor.
Fonte: Site puggina.org, gentilmente disponibilizou este artigo para o Brasília In Foco News
Foto: Reprodução