O líder precisa ser um bom comunicador?
Por Marcelo Tertuliano*
Este ano, recebi a missão de liderar um grande projeto de reestruturação de processos para a empresa que trabalho. Somente na minha área, o grupo era composto por mais de 200 pessoas de dois países, sediadas em cinco cidades distintas e com culturas igualmente diversas. Imaginem o desafio que foi adotar uma comunicação uniforme em meio a tantas diferenças.
Num determinado momento, comecei a receber mensagens de algumas pessoas da equipe que se diziam pouco confortáveis na operação. O motivo? Não conseguiram entender, com clareza, os objetivos a serem alcançados e o que cada um precisava fazer. Eram um indício de que a comunicação precisava ser revista.
Após uma reflexão, decidi promover um workshop com os gerentes, supervisores e líderes de área. Neste encontro, conversamos sobre o projeto, o momento da empresa e a ansiedade que um projeto de grande porte e importância gera nas pessoas que têm a responsabilidade de conduzi-lo. Aparamos arestas e muitos esclarecimentos foram feitos.
No dia seguinte, recebi uma outra mensagem de um dos profissionais que participaram do projeto. Ela dizia assim: “O workshop tocou minha mente e meu coração. Obrigado por ser uma pessoa que inspira pessoas”.
Não é preciso dizer o quanto este feedback foi importante para mim. Ele me mostrou algo que eu sempre procuro fazer – e que, na verdade, todo líder deve fazer: saber ouvir. Nem sempre é fácil, porque um feedback pode expor nossas fragilidades. Mas o líder que quer inspirar, ser referência, e estar à frente de equipes de alta performance precisa adotar esta prática.
Só ouvindo o outro é que um líder pode adotar uma comunicação que esteja em consonância com a linguagem do seu time. E só há comunicação efetiva quando o receptor compreende exatamente o que o emissor quis dizer. O líder precisa ser um bom comunicador. Não ser um ditador de regras ou mesmo impostar a voz para impressionar. Pode – e deve – ser polido, estar aberto a conversas. Ser acessível.
Mais ainda: só ouvindo o outro é que o líder conquista a confiança dos liderados. Se um colaborador confia no seu líder, tudo o que ele fala tem um efeito tremendo! Inspira, motiva e, quando aponta a direção, a equipe caminha unida exatamente para onde deve ir, sem perder o foco nos resultados a serem obtidos. Se houver desvio da rota – o que pode acontecer, obviamente – é muito mais fácil corrigir.
O líder precisa estimular a comunicação entre os liderados também. Convidá-los a se sentar mais próximos uns dos outros. Sugerir que evitem trocar e-mails desnecessários e excessivos e se levantem para conversar, tirar dúvidas e trocar ideias.
Não tenho a menor dúvida, especialmente no meu ramo de mineração, que formação acadêmica, conhecimento técnico e experiência são indispensáveis para que a organização obtenha lucro e destaque. Mas acredito, da mesma forma, que as pessoas – especialmente os líderes transformadores – fazem a diferença com seu jeito de se comunicar e mobilizar os liderados. Eles podem levar um time a dar um passo a mais, a ter uma performance diferenciada. E, em muitos casos, pode ser esta a tão desejada “receita do sucesso”.
*Marcelo Tertuliano é mestre em Administração de Empresas, com 23 anos de experiência na função financeira, dos quais, 16 anos em posições de liderança. Atualmente está à frente da área financeira de uma grande mineradora em Moçambique.
Fonte: Em Pauta Comunicação – São Paulo/SP
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