“O uso de máscara facial não substitui o isolamento social”

O alerta é do subsecretário de Vigilância à Saúde, o médico infectologista Eduardo Hage, em entrevista à Agência Brasília

O uso de máscara facial não substitui o isolamento social na prevenção ao coronavírus. O alerta é do subsecretário de Vigilância à Saúde, o médico infectologista Eduardo Hage. Com a recomendação para o uso de máscaras em locais públicos e a reabertura parcial do comércio no Distrito Federal, a população tem sido vista nas ruas usando os equipamentos, mas sem tomar outras medidas de proteção, como o distanciamento de, no mínimo, 1,5 metro uns dos outros, além de higienização das mãos. “A máscara é uma medida adicional. Ela não protege totalmente – diminui um pouco o risco de transmissão. O que elimina é o isolamento”, afirma. Confira a entrevista que ele concedeu à Agência Brasília.

Sair de casa usando a máscara facial, de tecido ou descartável, é seguro? A máscara evita a infecção por coronavírus?

As recomendações seguem as mesmas. As pessoas devem evitar sair de casa, só deveriam sair os envolvidos em atividades essenciais e em atividades comerciais liberadas pelo GDF. A maior parte delas, como as educacionais, não foram liberadas ainda, então certamente as pessoas estão circulando sem necessidade. A primeira recomendação, independente da abertura gradual das atividades, é que, quem puder, fique em casa.

O isolamento social continua sendo a principal forma de proteção?

Exatamente. O isolamento é a principal causa de termos chegado até aqui com esse aumento lento e gradual do número de casos. E também de não termos, até o momento, trazido uma sobrecarga ao sistema de saúde. Se as pessoas acharem que as medidas podem ser afrouxadas, ou pior, forçarem para elas serem afrouxadas, estão colocando em risco a própria vida e a de outras pessoas. O número de casos vai aumentar muito e, consequentemente, os casos graves e de pessoas que precisem ir para a UTI e certamente a mortalidade.

A preocupação é as pessoas ficarem doentes ao mesmo tempo?

Não só ao mesmo tempo como em número maior. A gente tem conseguido ter um número menor de casos, casos graves e óbitos justamente pela manutenção do isolamento. As pessoas não podem deixar de atender as medidas de isolamento recomendadas.

A gente sabe que é uma data importante, as pessoas não encontram a mãe há muito tempo, mas quanto mais se precaver melhor. As pessoas até podem usar máscaras, higienizar as mãos, não ficar em situação de proximidade com as outras pessoas, mas são tantas recomendações de cuidado que certamente vão esquecer de alguma.

A máscara então não substitui os outros cuidados?

De forma alguma. A máscara é uma medida adicional, não é substitutiva. Ela não protege totalmente. É preciso higienizar as mãos sempre que tocar alguma superfície, manter a distância de 1,5 metro, sair de casa só quando for necessário. Mas o principal é o isolamento. Se eu fico em casa, não há nenhuma possibilidade de transmitir o vírus para outra pessoa fora do meu domicílio. Quanto mais sair de casa, mais eu me exponho. A máscara diminui um pouco o risco de transmissão, mas não elimina. O que elimina é o isolamento.

Pessoas que moram juntas precisam usar máscaras em casa?

É difícil manter isso o tempo todo nas atividades do dia a dia, na hora de dormir, por exemplo. É importante adotar medidas que possam ser cumpridas. A única exceção é quando tem pessoas do grupo de risco em casa. Aí, sim, as pessoas deveriam utilizar máscara dentro do domicílio. Nesse caso, o esforço adicional tem que ser feito. E, quando possível, recomendamos que haja um distanciamento do grupo de risco. A gente sabe que em grupos de baixa renda é mais difícil, as pessoas vivem em casas de um ou dois cômodos. Mas, sempre que possível, as pessoas do grupo de risco devem ficar separadas em um cômodo. É importante fazer um isolamento dentro de casa em caso de convivência com pessoas do grupo de risco.

Domingo é Dia das Mães. As pessoas podem visitar as mães de máscara?

Quanto menos contato entre pessoas que não moram na mesma casa existir, melhor. Pessoas que residem em outros domicílios têm fluxos diferentes pela cidade, têm contato com outras pessoas e podem levar o vírus, mesmo usando máscara. Primeiro que a máscara não protege 100%. Depois, por algum descuido, ela não higieniza as mãos corretamente, toca em alguma superfície e acaba contaminando o ambiente. Quanto mais evitar isso melhor. A gente sabe que é uma data importante, as pessoas não encontram a mãe há muito tempo, mas quanto mais se precaver melhor. As pessoas até podem usar máscaras, higienizar as mãos, não ficar em situação de proximidade com as outras pessoas, mas são tantas recomendações de cuidado que certamente vão esquecer de alguma. Antes de entrar na casa, seria preciso tirar toda a roupa. A rigor, a pessoa teria que levar outra roupa, não tocar em nenhum objeto, trocar de roupa dentro do domicílio já possibilita contaminar o ambiente… São tantos cuidados que tem que tomar que fica impraticável.

Fonte: Agência Brasília | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

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