Operação que mira doleiros pode dar origem a novas Lava Jatos
Câmbio Desligo tem como base a delação premiada de Vinicius Claret e Cláudio Barbosa, apontados como os maiores doleiros do país
Os desdobramentos da Operação Lava Jato no Rio levaram as investigações a 53 doleiros, operadores financeiros e fornecedores de dinheiro vivo, que podem abrir novas frentes de apuração sobre corrupção e lavagem de dinheiro.
Alguns mandados de prisão expedidos pelo juiz Marcelo Bretas tiveram como alvo nomes já mencionados nos casos Banestado, Operação Satiagraha e Farol da Colina. Outros são operadores até então pouco conhecidos dos investigadores.
“Essa é a maior operação desde o Banestado. Se pensarmos que a Lava Jato começou com um doleiro, podemos imaginar o potencial dessa operação. O potencial é explosivo”, disse o procurador Eduardo El Hage.
Ele se refere à prisão do doleiro Alberto Youssef, que havia sido preso em 2003 na Operação do Banestado e foi personagem central para a ampliação da Lava Jato em Curitiba.
A operação tem como base a delação premiada de Vinicius Claret e Cláudio Barbosa, apontados como os maiores doleiros do país. Eles detalharam em delação premiada como funcionava um sistema que reunia doleiros de todo o país que movimentou cerca de US$ 1,6 bilhão entre 2008 e 2017, envolvendo mais de 3.000 offshores em 52 países.
O principal alvo foi Dario Messer, filho do doleiro Mardko Messer, espécie de mentor de Claret e Barbosa na década de 1980. Ele era apontado como o responsável por dar lastro financeiro e confiança no mercado para as operações da dupla.
Foragido, ele mantém relação próxima com o presidente paraguaio Horacio Cartes. Segundo a imprensa local, o acesso ao Paraná Country Club de Hernanderias, onde Messer supostamente tem uma casa, foi restringido nesta quinta (3).
A dupla operava tanto contas no exterior como era capaz de fornecer dinheiro vivo para corruptores interessados em pagar as quantias a agentes públicos. Concentrava, assim, a operação dólar-cabo, usada para despistar as autoridades financeiras do país.
No mercado de dólar-cabo desde 1980 no Rio de Janeiro, os dois se mudaram para o Uruguai a fim de fugir do monitoramento de autoridades do Brasil. No ano seguinte, eles “herdaram” as operações da família Matalon, doleiros que atuavam em São Paulo. Ao acumular as duas maiores praças do mercado de câmbio, passam a ser considerados os “doleiros dos doleiros”.
Isso porque quase nenhum operador do mercado tem a capacidade de operar as duas pontas do dólar-cabo sem o auxílio de outros doleiros.
Claret e Barbosa foram presos em março do ano passado no Uruguai em decorrência da Operação Eficiência, feita com base na delação dos irmãos Chebar e que prendeu o empresário Eike Batista. Claret foi citado como tendo auxiliado na evasão de US$ 85,4 milhões de Cabral –o que agora revela-se ser apenas uma fração de toda operação da dupla.
Embora fossem os grandes operadores, Claret e Barbosa recebiam uma pequena participação do lucro dos negócios. A maior cota (60%) era destinada a Dario Messer, que dava respaldo às operações com seu nome e captava clientes.
Os delatores afirmam que tinham pouca informação sobre para quais clientes os parceiros de negócios trabalhavam. É mencionado serviço a político do MDB, à empresa JBS e “comunidade judaica”.
Entre os presos estão operadores que atuavam no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Minas GeraisAssim como Youssef, a operação desta quinta tem como alvo doleiros que firmaram delação após serem presos.
Entre os nomes estão Patrícia Matalon e Claudine Spiero. Matalon firmou acordo com o Ministério Público Federal no âmbito do caso Banestado. Ainda assim, segundo o Ministério Público, ela voltou a operar com Barbosa em 2014. Segundo as investigações, ela procurou a dupla para movimentar US$ 2 milhões entre 2014 e 2017.
A família Matalon é uma tradicional família de doleiros que atua no mercado de câmbio ilegal em São Paulo desde a década de 1990 e que manteve uma parceria com os Messer, do Rio.
Spiero, por sua vez, colaborou com as investigações da Operações Suíça, ajudando a desvendar operações irregulares de três bancos suíços no Brasil (Credit Suisse, Clariden e UBS). Ainda assim, movimentou US$ 11 milhões com Claret e Barbosa.
“As investigações de agora podem ensejar o rompimento desses acordos”, disse El Hage.
O procurador Sérgio Pinel defendeu as delações premiadas, apesar da reincidência dos colaboradores do passado. “Nada do que foi apurado seria possível sem a colaboração premiada [de Claret e Barbosa]”.
A dupla de doleiros foi solta nesta quinta, em cumprimento ao acordo assinado com o Ministério Público Federal. Eles foram presos em março do ano passado no Uruguai e extraditados no início do ano.
A reportagem não localizou a defesa de Dario Messer, foragido até as 20h30.
O advogado Antônio Augusto Figueiredo Basto, que defende Patrícia Matalon e Marco Cursini, diz que sua cliente estava fora do mercado ilegal de dólares e não participou das operações relatadas pelos delatores. Sobre as acusações contra Cursini, ele afirma que precisa estudar melhor a documentação para emitir uma opinião.
“A intenção de todos é esclarecer os fatos, com a maior transparência possível”, disse. Com informações da Folhapress.
Fonte: Notícias Ao Minuto
Foto: Rodolfo Buhrer / Reuters