Oposição a Rollemberg está dividida e vários partidos lançarão concorrentes
A definição das eleições pode ficar para o segundo turno. Mas políticos ainda acreditam que uma novidade pode mudar o quadro eleitoral
Em um cenário sem favoritos, muitas forças políticas querem lançar candidaturas ao Palácio do Buriti. Essa é a fotografia do momento na formação das chapas para as próximas eleições. Não existe um concorrente natural para enfrentar o projeto de reeleição do governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Por isso, a oposição está esfacelada. Se as eleições fossem hoje, os adversários do governo sairiam divididos.
Na disputa estão Jofran Frejat (PR), Alberto Fraga (DEM/DF), Alírio Neto (PTB) e Izalci Lucas (PSDB). O presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle (PDT), tem conversado com diferentes grupos e também se coloca na briga. Em outro campo estão o PSol e o PT, que também pretendem lançar cabeça de chapa. Na semana passada, surgiu a pré-candidatura do general Paulo Chagas (PRP), apoiado pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). No ano passado, o Partido Novo anunciou que o empresário Alexandre Guerra, herdeiro do grupo Giraffas, estava no páreo.
A proliferação de candidaturas facilita a ocorrência de um segundo turno, quando o jogo muda totalmente de configuração com acordos impossíveis na primeira rodada. Mas Rollemberg é o principal beneficiário dessa miscelânea. Como titular do Palácio do Buriti, ele tem mais estrutura para disputar as eleições, principalmente com as novas regras eleitorais: tempo curto de campanha (45 dias) e poucos recursos oficiais circulando, pela impossibilidade de doações de pessoas jurídicas. “Não podemos escolher o cenário, vamos enfrentar o que vier. Tenho certeza de que, na hora da decisão, o cidadão vai avaliar o cenário que encontramos e o que vamos deixar”, afirma Rollemberg. “Por enquanto, minha prioridade é trabalhar”, acrescenta.
Claro que muitas negociações ainda podem levar à junção de candidaturas. Políticos blefam, até o último minuto, para conseguir a melhor colocação na chapa em troca de um recuo. Mas não tem sido fácil achar o tom para o grupo que se intitula “da mesa”, composto por Fraga, Frejat, Izalci, Alírio e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli, que comanda o MDB local. Eles se comprometeram a apoiar o mais viável, de acordo com os desempenhos em pesquisas de opinião. Frejat aparece em primeiro. Mas nem todos parecem dispostos a aceitar esse resultado.
Alírio afirma ter condições de disputar o Executivo, independentemente da quantidade de candidatos. “Quando há um governador fraco, todo mundo quer concorrer. Surgem coligações de todos os lados”, provoca. A possibilidade de participar da corrida ao Palácio do Buriti está chancelada pelo presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson. Por isso, aliados de Alírio acreditam que ele irá até o fim, mesmo com poucas chances de vitória. A intenção seria crescer politicamente e, a depender do desempenho, buscar um lugar nas negociações para o segundo turno.
Izalci Lucas também se diz irredutível. Concorrer pelo PSDB é seu plano A, mas as negociações dos tucanos com Rollemberg devem inviabilizar esse caminho. “Trabalho há mais de dois anos para me consolidar como candidato ao governo. Tenho programa para administrar o DF. Não vou desistir”, garante. Se o PSDB fechar as portas para os planos do deputado, ele poderá migrar para outra legenda. Izalci tem convites de pelo menos dois partidos, o PSL, que deve lançar na sucessão presidencial o deputado Jair Bolsonaro, e o Podemos, que também deverá concorrer nacionalmente, com o senador Álvaro Dias (PR).
Enquanto as dúvidas persistem, Jofran Frejat se mantém discreto. Ele afirma que aguarda o prazo para mudanças partidárias, que termina em sete de abril, seis meses antes do pleito, para conhecer as peças no tabuleiro e saber com quem poderá contar. “Temos que buscar a unidade. A divisão só beneficia Rollemberg”, aposta Frejat. Ele assegura que também não pretende entrar na campanha para correr atrás de uma vaga de vice ou de senador. Se não for para disputar o Buriti, nem sairá de casa. “Já tive cinco mandatos de deputado federal. Não me interessa voltar ao Congresso. Tampouco ser vice de ninguém”, afirma.
Incertezas
Mas esse também é um jogo de incertezas. Ninguém sabe ao certo até onde os pré-candidatos vão esticar a corda. “Em 2010, Frejat poderia ter derrotado Agnelo (Queiroz). Ele era o vice de (Joaquim) Roriz e não quis liderar a chapa. Quem garante estar disposto agora?”, questiona Izalci. Na ocasião, o ex-governador teve de deixar a campanha porque a Justiça o enquadrou na Lei da Ficha Limpa. Frejat era o vice, mas não assumiu a chapa. Roriz entregou o legado a alguém de seu clã, a mulher, Weslian Roriz.
Nessas dúvidas, políticos também apostam que Joe, na verdade, busca uma boa aliança em que possa ser vice ou candidato ao Senado. Não está descartado, assim, um acordo que leve a uma chapa com Frejat na liderança, um vice indicado por Filippelli, e Joe e Fraga buscando as duas vagas ao Senado. Mas esse acordo pode não vingar, e Joe, ser o candidato ao Buriti. Disputar mais um mandato de distrital seria uma derrota para quem sobressaiu como um nome ao cargo mais importante do DF. O embate para a Câmara dos Deputados será apertado. Joe pode ficar sem opções e se tornar, assim, o nome ao GDF.
Também há divisões entre os discípulos da esquerda. O PSol deve lançar, até meados de março, a diretora da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB), Fátima de Sousa, ao Executivo. O PT não tem um nome, mas o deputado distrital Chico Vigilante (PT) tem convicção de que o candidato vai aparecer no momento certo. O parlamentar que integra a corrente Articulação, a mais forte na legenda, diz que o PT entrará na disputa, mesmo que precise concorrer sem coligação. “A divisão de candidaturas vai levar ao segundo turno. Mas Rollemberg vai perder de qualquer forma”, arrisca.
Novidades
Na semana passada, surgiu uma novidade. Em vídeo divulgado nas redes sociais, Bolsonaro parabenizou o general do Exército Brasileiro Paulo Chagas, que está na reserva, pela disposição de entrar no embate no DF. O militar confirmou ao Correio que está animado e que tem feito reuniões para discutir um programa de governo. Filiado ao PRP, ele tem uma visão de que um soldado tem condições de colocar a capital nos eixos. Mas não vai entrar numa aventura sem alianças que impulsionem esse projeto. “Lograr êxito numa campanha eleitoral é apenas uma parte do processo. É preciso ter condições de governar”, acredita.
Entre os que se apresentam como novidade, há também Alexandre Guerra. O empresário quer conquistar a simpatia da parcela significativa do eleitorado que não quer votar em ninguém que apareceu até agora. O Partido Novo não aceita recursos públicos do Fundo Partidário e vai fazer campanha com colaborações de cidadãos. Mas, no meio político, muita gente acredita que ainda possa surgir algo inesperado na disputa para as eleições de outubro.
Um desejo, alimentado por discípulos de José Roberto Arruda (PR), é que o ex-governador retome a condição de elegibilidade. Ele está enquadrado na Lei da Ficha Limpa por conta de uma condenação de segunda instância em ação de improbidade administrativa da Operação Caixa de Pandora. Mas, se um recurso for julgado favorável pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), estará livre para concorrer novamente ao GDF. Neste caso, tudo poderá mudar.
Colaborou Bruno Lima, especial para o Correio
Fonte: Correio Braziliense
Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press