Órgãos do GDF usam até drone em megaoperação no Torre Palace
Após denúncia do Metrópoles, as equipes vão vasculhar todos os andares à procura de invasores, focos de dengue, outras doenças e ratos
Após denúncia publicada no Metrópoles sobre possíveis focos de dengue no abandonado Torre Palace Hotel, cinco órgãos do GDF fazem nesta quinta-feira (1º/2) megaoperação de vistoria no prédio, erguido no coração da capital do país. A novidade será o uso de um drone para captar imagens do edifício. Durante a inspeção, as equipes vão vasculhar todos os andares à procura de pessoas que estariam morando no local, mesmo após o fechamento das entradas com cimento e tijolos.
A mobilização vai envolver profissionais da Divisão da Vigilância Ambiental (Dival), do Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF), da Polícia Militar do DF (PMDF), da Administração Regional do Plano Piloto e da Defesa Civil.
A intenção é entrar no prédio, abandonado desde a sua desocupação por batalhas judiciais. A ação de inspeção fará combate a possíveis focos do mosquito Aedes aegypti, causador da dengue, febre amarela, zika e chinkungya. A presença de ratos também é relatada por moradores e funcionários do Setor Hoteleiro Norte e será acompanhada na operação.
“Vamos entrar no prédio e avaliar como está a situação da estrutura física e os riscos para a saúde pública. Temos informações de que pessoas entraram lá. Se houver foco de aedes,iremos tratar”, explica Denilson Magalhães, diretor da Dival.
O imbróglio envolvendo o hotel entra em seu quinto ano sem solução. O edifício acumula problemas de violência e saúde, incomodando quem trabalha, mora e se hospeda nas proximidades. Enquanto se deteriora por conta do abandono, os processos judiciais tramitam a passos lentos.
No fim de 2017, 10 funcionários do hotel Nobile Suítes Monumental, vizinho ao Torre Palace, contraíram a doença. A suspeita é de que os mosquitos tenham vindo da carcaça do edifício. Após o pedido do hotel, a Vigilância Ambiental do DF aplicou inseticida nos arredores do edifício no começo de 2018. O trabalho, porém, não foi suficiente. O interior do prédio, por exemplo, é um campo vasto para criadouros do mosquito.
Insegurança
Mesmo após ter suas entradas fechadas com concreto, o Torre Palace ainda serve de abrigo para moradores de rua e esconderijo de assaltantes. A presença deles incomoda e amedronta hóspedes e funcionários dos hotéis da região, que evitam circular por ali em qualquer horário, seja de dia ou de noite.
Fora os assaltos, o furto de carros é recorrente. Os crimes ocorrem tanto na área pública quanto no estacionamento térreo dos hotéis. “Temos uma média de um veículo furtado por semana”, conta Danilo Stacciarini, gerente-geral do Nobile Suites Monumental.
O temor é confirmado por quem se hospeda com frequência no Setor Hoteleiro Norte. O diretor de TV Ruy Façanario redobra a atenção em certos horários. “Tomo bastante cuidado, mas já conheço a região. Evito passar muito perto dali. A situação desse prédio é ruim até pela paisagem, muito feio vê-lo assim”, reclama.
O abandono da construção e seus consequentes embaraços atingiu o bolso dos comerciantes. A gerência do Nobile Suites diz ter perdido um de seus principais clientes: a Embaixada dos Estados Unidos da América. Desde a ocupação e a desocupação do prédio vizinho, em 2016, a hospedagem na Quadra 4 do Setor Hoteleiro Norte deixou de ser uma opção.
À reportagem, a Polícia Militar informou que a área é monitorada 24 horas por dia, mediante patrulhamento com viaturas e motocicletas e policiamento tático. Os flagrantes e os suspeitos são encaminhados à 5ª Delegacia de Polícia, a poucos metros do hotel. Ao longo de 2017, foram 86 ocorrências, a maioria delas por briga.
Processos
Há pelo menos oito ações na Justiça envolvendo o Torre Palace. São elas que vão determinar o desfecho do espaço. O Governo do Distrito Federal (GDF) é um dos envolvidos, pois tenta recuperar os R$ 802,94 mil gastos para desocupar o local em 2016. À reportagem, a Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF) informou que a restituição dos custos será definida após o trânsito em julgado do processo.
A ação do GDF não foi capaz de acelerar um dos processos-chave. Em 2016, o Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (Distrito Federal e Tocantins) determinou que o prédio fosse leiloado. Mas agora, a ação travou no Tribunal Superior do Trabalho (TST), onde aguarda julgamento do agravo de instrumento.
A Companhia Energética de Brasília (CEB) cobra débitos pelo fornecimento de energia elétrica, enquanto a Brookfield Empreendimentos Imobiliários, que tentou viabilizar uma permuta do imóvel com os herdeiros do prédio, viu a medida ser judicializada. Até uma empresa de alimentos, a Frutella Comércio de Alimentos, solicita valores dos donos. Os responsáveis pelo Torre Palace não foram localizados para comentar a situação.
Histórico
Fundado em 1973, o Torre Palace Hotel foi o primeiro prédio do Setor Hoteleiro Norte. Hoje, é parte de uma disputa entre herdeiros do libanês Jibran El-Hadj, proprietário do edifício, morto em 2000. Abandonado desde 2013, quando teve as atividades encerradas, o hotel virou abrigo de moradores de rua e usuários de drogas até uma megaoperação desocupar as instalações, em outubro de 2015.
Palco de diversas tentativas malsucedidas de reintegração de posse, o hotel já foi condenado pela Defesa Civil, que apontou falhas graves na estrutura da construção.
Fonte: Metrópoles
Foto: MICHAEL MELO/METRÓPOLES