Pacientes enfrentam frio e longa espera no Hospital do Paranoá

 

A unidade só está atendendo casos graves. Tem gente que amanheceu na porta da emergência e segue sem ser chamada

A madrugada gelada, com temperatura de 14,6ºC nesta quinta-feira (21/6), foi longa para os pacientes que buscaram socorro no Hospital Regional Leste, antigo Hospital do Paranoá. Pessoas dormiram na fila. Outras chegaram bem cedo. E, por volta das 13h, algumas esperavam por mais de sete horas para serem chamadas. No entanto, os médicos estão atendendo apenas os casos graves.

Entre as pessoas que madrugaram na unidade de saúde, está a dona de casa Beatriz Alves, 44 anos. O pesadelo dela teve início às 4h, quando a filha começou a vomitar sem parar e mal conseguia chorar ou pedir ajuda. Às 6h, Beatriz e Brenda, 18, chegaram à emergência do hospital.

“Fizeram três perguntas, deram uma pulseirinha amarela e ela (a filha) está aqui. Só falam que não tem médico. Já não sei o que fazer”, lamentou. Na manhã desta quinta, Beatriz estava sentada do lado de fora da emergência, onde é um pouco mais confortável do que os bancos rasgados e quebrados da recepção.

 

A também dona de casa Raimunda Gomes Botelho, 42, chegou às 7h ao hospital com o marido, o agricultor Eloy Rodrigues Neto, 60. Sentindo fortes dores no rim, o homem está com dificuldade para ficar em pé e falar. “Ele recebeu a pulseira amarela. Está aqui esperando. Não comeu, não tem onde deitar e não há previsão de quando vai ser atendido”, lamentou Raimunda, por volta do meio-dia.

A desempregada Edivânia Nascimento, 33, chegou de madrugada (às 5h) à emergência. Foi levar a irmã, que sentia dores no peito e tossia muito. Encontrou pessoas dormindo nas cadeiras desconfortáveis à espera de atendimento, conforme imagens feitas por populares e encaminhadas à reportagem.

“O dia amanheceu e nada de chegar médicos. Aos poucos, as pessoas foram desistindo. Continuamos aqui, não vamos embora porque não temos opção. E minha irmã (Edilene) é especial, precisa de acompanhamento constante e deveria ter prioridade”, contou Edivânia.

É mais um retrato da precariedade da saúde do Distrito Federal. Conforme o Metrópoles mostrou nessa quarta (20), quem busca socorro nas unidades de pronto atendimento (UPAs) também encontram dificuldade, isso por conta da escassez de profissionais especializados.

Na UPA de Sobradinho, por exemplo, o pedido recente de exoneração de três médicos-residentes afetou a escala de trabalho e comprometeu o serviço prestado, chegando a interromper o acolhimento da população nos últimos dias.

Na terça-feira (19), a reportagem visitou a casa de saúde para averiguar queixas da comunidade. No local, uma única médica ficou responsável pelo serviço até as 19h. Depois desse horário, segundo pacientes, não houve atendimento.

A situação já havia sido registrada na última segunda (18) e se repetiu nessa quarta-feira (20), com horários sem a presença de qualquer médico na unidade. Com o problema nas escalas, ocasionado pelos pedidos de exoneração e pela ausência de profissionais, houve quem não conseguisse socorro sequer no fim de semana.

De acordo com a presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Brasília (SindSaúde-DF), Marli Rodrigues, a situação caótica nas unidades é corriqueira. “O governo Rollemberg trata pessoas como se fossem coisas. Não enxerga como pacientes. Essa falta de consciência, que também é falta de compromisso, já extrapolou o nível de abuso. No frio, na chuva ou no sol, é sempre desumano”, disparou.

Em nota, a direção do Hospital Regional Leste informou que um profissional de medicina estava de plantão no pronto-socorro durante a noite de quarta (20). “Com o aumento das demandas por assistência aos casos graves e aos internados, o atendimento de porta apresentou restrição”, destacou a Secretaria de Saúde.

 

Fonte: Metrópoles

Foto: Material cedido ao Metrópoles

 

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